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Desembale menos e descasque mais: estudo analisa efeitos do consumo de alimentos ultraprocessados em adultos
Segundo o Ministério da Saúde, os alimentos ultraprocessados são nutricionalmente desbalanceados e apresentam alto teor de gorduras, açúcares e sódio. Dada sua popularidade e a variedade de marcas e tipos no país, a doutora em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Maranhão Lívia Carolina Sobrinho Rudakoff analisou, em sua pesquisa de doutorado – defendida na sexta-feira, 24, no prédio do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC), na Cidade Universitária – as implicações do consumo de ultraprocessados na composição corporal de adultos brasileiros, com ênfase na massa gorda e sua distribuição, massa magra e massa óssea.
Orientada pelo professor do PPGSC Antônio Augusto Moura da Silva, a pesquisa “Efeito do Consumo de Alimentos Ultraprocessados na Composição Corporal de Adultos” trata-se de um estudo longitudinal realizado com adultos saudáveis nascidos nos anos de 1978 e 1979 que foram acompanhados desde os seus primeiros anos de vida pelo projeto “Coorte Brisa” de Ribeirão Preto, em São Paulo.
O consumo de ultraprocessados foi avaliado dos 23 aos 25 anos de idade, por meio da aplicação do questionário de frequência alimentar. Chegando aos 37 e 39 anos, foi examinado o índice de massa e, ainda, a composição corporal desses adultos. Participaram 1.021 indivíduos para as análises de massa gorda, 815 para a análise de massa magra e distribuição de massa gorda e 831 para as análises da densidade mineral da massa óssea.
Consequências a longo prazo
A pesquisa também observou que o alto consumo de comestíveis ultraprocessados dos 23 aos 25 anos é inerente ao consumo a longo prazo da massa gorda, à redução da massa magra de mulheres adultas e às modificações de densidade mineral óssea de homens e mulheres, aos 37 e 39 anos de idade.
Esses alimentos foram constatados, como afirmou Lívia Rudakoff, por meio de diversos estudos com diversas faixas etárias. Assim, foi possível observar que há um combo que inclui o uso de ingredientes de baixo valor nutricional, embalagens que contém contaminantes e substâncias neoformadas durante o processo de alimentação e o uso exacerbado de aditivos que não têm segurança estabelecida para adultos e para a humanidade em geral.
Doenças relacionadas
A facilidade e o baixo custo estão entre as razões pelas quais esse tipo de produto é altamente consumido. A ingestão desses alimentos está associada ao desenvolvimento de alguns tipos de câncer, entre eles, o colorretal.
O fato de conter adição de ingredientes prejudiciais à saúde humana pode causar doenças como hipertensão, diabetes e depressão. Além disso, geram vício no organismo, que cria uma rotina alimentar com baixa qualidade nutricional.
A maioria dos ultraprocessados é consumida ao longo do dia, substituindo alimentos como frutas, leite e água ou, nas refeições principais, no lugar de preparações culinárias. Por causa de sua formulação e apresentação, tendem a ser consumidos em excesso e a substituir alimentos naturais ou minimamente processados.
Esses alimentos têm ganhado cada vez mais destaque atualmente. “A pandemia da covid-19 aumentou o consumo de ultraprocessados e, com efeito, estimulou seu consumo durante o período de isolamento social. O consumo de ultraprocessados também têm sido extremamente agressivo para todas as populações do mundo, sobretudo, às populações de baixa renda, comunidades tradicionais indígenas e quilombolas do Brasil”, acrescentou a doutora.
Guia Alimentar do Ministério da Saúde
O Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, recomenda a preferência por alimentos naturais ou minimamente processados, além da valorização de variedades de origem vegetal como a base da alimentação. Segundo informou a pesquisadora, há autores que consideram os ultraprocessados como formulações industriais, devido ao seu uso excessivo de nutrientes considerados problemáticos.
Na visão dela, é comum que as pessoas deixem de lado os alimentos naturais e priorizem esse tipo de produto, principalmente, por serem de rápido consumo. “Uma série de fatores incentiva o consumo de alimentos ultraprocessados, em detrimento dos alimentos considerados in natura ou minimamente processados”, esclareceu. Os ultraprocessados têm sido uma tendência global. “É válido mencionar a questão de hábitos alimentares, pois há adultos que não têm habilidades culinárias e acabam buscando serviços de deliverys, por exemplo”, completou.
Alimentação saudável
Adotar uma alimentação saudável vai além da escolha individual. Fatores econômicos, políticos, culturais e sociais podem influenciar positiva ou negativamente no padrão de alimentação das pessoas.
Morar em bairros ou territórios onde há feiras e mercados que comercializam frutas, verduras e legumes com boa qualidade torna mais fácil a adoção de padrões saudáveis de alimentação, por exemplo.
Por outro lado, o custo mais elevado dos alimentos minimamente processados diante dos ultraprocessados, a necessidade de fazer refeições em locais sem opções saudáveis e a exposição intensa à publicidade de alimentos não saudáveis contribuem para dificultar a mudança na rotina nutricional.
O alto consumo de ultraprocessados pelas populações reafirma, para ela, a necessidade de políticas públicas de saúde, a fim de promover ainda mais a alimentação adequada e saudável. “A questão do ultraprocessamento de alimentos é, sem dúvida, um problema de saúde pública. O nutricionista é muito importante nesse quesito, pois esse profissional atua ativamente nessas políticas de promoção de alimentação nutricional”, concluiu Lívia Rudakoff, que também atua como coordenadora de campo do Projeto “Coorte Brisa” de São Luís.
Confira as fotos da defesa da tese de doutorado:
Por: Lucas Araújo
Produção: Alan Veras
Fotos: Lucas Araújo
Revisão: Jáder Cavalcante