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Do acolhimento materno ao acesso à saúde pública: UFMA retorna com pesquisa do projeto Coorte Brisa em 2022 após dois anos de pandemia
Juliana dos Santos, de 12 anos, é filha de Cláudia dos Santos e, em seus primeiros anos de vida, recebeu acompanhamentos médicos prestados pelo projeto Coorte Brisa, que visa avaliar o desenvolvimento de crianças do nascimento à vida adulta em aspectos como a capacidade cognitiva, transtornos mentais e fatores biológicos e comportamentais que impactam na ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis. A mãe dela, que deu o consentimento à pesquisa desde o nascimento da filha, já avisou que pretende continuar assistindo Juliana a receber os tratamentos do projeto.
Cláudia tem gostado porque os serviços vêm contribuindo demais no desenvolvimento social, emocional, corporal e nutricional da filha — aspectos essenciais para o bem-estar mais saudável da criança, conforme a própria Juliana garante: “Sinto-me muito acolhida estando no projeto. Ninguém me dava atenção. Na escola, por exemplo, sentia-me sozinha, no meu canto. No Brisa, eu recebo atenção dos pesquisadores, do pessoal, porque o cuidado é voltado para mim. Com isso, sinto-me famosa”, comentou a jovem, com bom-humor.
O que é uma coorte?
Para avaliar a incidência de uma doença em dado período de tempo, é analisada uma coorte – um grupo de pessoas selecionadas oriundas da população em estudo que partilha uma experiência comum, um status de exposição a determinada enfermidade, ou condição em que o resultado é desconhecido na sua premissa — que gera, sobretudo, uma pesquisa observacional.
O projeto Coorte Brisa
Financiado pelo Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde do Governo Federal, a pesquisa da Coorte Brisa pertence a um consórcio de coortes de três instituições participantes: a Universidade Federal do Maranhão, via núcleo de pesquisas do Departamento de Saúde Pública (DSP), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva; a Universidade Federal de Pelotas, por meio do Centro de Pesquisas Epidemiológicas; e a Universidade de São Paulo, em parceria com a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.
Em São Luís, o projeto tem a coordenação-geral da professora do DSP Rosângela Fernandes Lucena Batista. O alicerce da pesquisa é o acompanhamento médico da vida das gestantes com seus filhos. Rosângela Fernandes alerta que em torno de 49% das mães residentes de São Luís foram vítimas de alguma violência, seja ela psicológica, física ou sexual, no decorrer da gestação. Além disso, o distúrbio mental ou perda de interesse em atividades prejudica significativamente o dia a dia delas nesse período, em que cerca de 30% das mães tiveram depressão na gestação, conforme afirma Rosângela.
Regido pelo título “Coortes de nascimento de Ribeirão Preto (SP), Pelotas (RS) e São Luís (MA): determinantes precoces do processo saúde e doença no ciclo vital — Uma contribuição das coortes de nascimento brasileiras para o SUS”, o estudo também observa fatores associados em nível individual e familiar, a exemplo das características de consumo alimentar, da distribuição da gordura corporal e da prevalência de obesidade e sua tendência temporal. O projeto Coorte Brisa, em São Luís, é formado por discentes de graduação, doutorado, pós-doutorado, além de pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão. Também é composto por diversos profissionais da área da saúde, como, por exemplo, nutricionista.
Em 2022, a pesquisa na capital maranhense está em uma nova fase, em que a criança passará por diversos testes, como o exame odontológico, teste de inteligência, avaliação do consumo alimentar, qualidade do sono, composição corporal, avaliação do nível de atividade física, tempo gasto em aparelhos eletrônicos e impactos da pandemia do coronavírus e da covid-19 na qualidade de vida dessas famílias. Para Isabela Dutra, mãe de Isadora Dutra, de 11 anos, os atendimentos médicos e a participação da Universidade no acompanhamento do nascimento da criança até a vida adulta são cruciais. “A oportunidade tem ajudado muito a Isadora a se empenhar na escola, nas aulas de educação física, além de ter possibilitado o acesso a uma alimentação ainda mais saudável”, comentou a mãe da criança.
De acordo com a coordenadora de campo e doutoranda em Saúde Coletiva da UFMA, Lívia Carolina Sobrinho Rudakoff, já foram atendidas 1.447 crianças no pré-natal; 5.212 no nascimento; e 143 no pré-natal e nascimento, totalizando, ao total, 6.516 crianças nascidas nos anos 2010 e 2011 nas maternidades das redes pública e privada de São Luís e que são acompanhadas pelo Coortes Brisa, parte delas a partir dos dois anos de idade, concebidas entre 2011 e 2013. No momento, o projeto, em São Luís, está em busca dessas 6.516 crianças em escolas públicas e privadas. Também tem divulgado a busca em redes sociais e entrado em contato com as mães via número de cadastro.
Nutrição e alimentação
Por meio da aplicação de questionários, a nutricionista e bolsista da UFMA Daniele Moraes Braga avaliou que há casos de insegurança alimentar na vida de algumas crianças, tendo em vista que há famílias da Grande Ilha com poder de compra e acesso a alimentos limitados pelos impactos da covid-19.
Com base nos dados coletados pelo grupo Brisa, será observado o que, de fato, influenciou na pressão arterial delas por meio da Mapa, equipamento que monitora a pressão arterial por 24 horas; e do dinamômetro, que afere a força muscular do indivíduo. Para a nutricionista, a pesquisa vai amparar significativamente na definição do parâmetro de “normalidade”, ou seja, tanto da pressão arterial, quanto dos batimentos cardíacos, no sentido do que é uma pressão dita “normal” e “anormal” para faixas etárias de 10, 11 e 12 anos.
Para mais informações acerca da pesquisa Coorte Brisa, acesse o perfil do grupo no Instagram @brisa_slz. Os pais ou responsáveis legais da criança podem entrar em contato com o núcleo de pesquisa do Departamento de Saúde Pública da UFMA via número (98) 3272-9681 ou WhatsApp (98) 98872-3388.
Por: Lucas Araújo
Fotografias: Bruno Goulart
Produção: Sansão Hortegal
Revisão: Jáder Cavalcante