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Mais de 40 estudantes recebem o grau no Centro de Ciências de São Bernardo, em solenidade marcada por grandes emoções

publicado: 03/10/2022 08h11, última modificação: 03/10/2022 08h11
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O rito de passagem marca momentos importantes na vida das pessoas. Um dos principais ritos é a formatura, aquele momento que o estudante sai da condição de graduando para a de profissional, formado e com um diploma de ensino superior, e o melhor, chancelado pela Universidade Federal do Maranhão, a principal instituição de formação da massa crítica, pensante e cientista do estado.

No Centro de Ciências de São Bernardo, esse momento não foi diferente, 43 estudantes receberam, nesta sexta-feira, 30, o grau de Licenciados nos cursos de Ciências Humanas – Sociologia, Ciências Naturais – Química, Linguagens e Códigos – Língua Portuguesa e Linguagens e Códigos – Música, transformando ali, suas vidas e seus objetivos para alçar voos ainda mais longe. Foi somente o começo de uma longa jornada e que ficará gravada na memória e no coração não só dos formandos como também dos familiares, amigos, professores e técnicos do câmpus.

Chegar até esse momento, para muitos dos formandos, foi bem desafiador. Um exemplo de superação foi o da formanda Francisca Pimentel, do curso de Ciências Humanas – Sociologia. Ela é mãe de duas crianças, o Derick, de 9 anos, e o Davy Lucas, de 7, que é autista. Ela conta que não pensava em cursar Sociologia. “Escolhi fazê-lo primeiro por ser um curso mais acessível para mim, e segundo, por causa do meu filho Davy, para brigar pelos direitos dele, por ser uma criança autista, além de lutar, também, pelos movimentos sociais. Foi por ele que me apaixonei pela Sociologia”, afirmou.

Natural de Santa Quitéria – MA, distante 22 km de São Bernardo, Francisca trabalha como auxiliar de serviços gerais e por vezes pensava em desistir do curso. Ela conta que foi bem difícil, por ser dona de casa, e ter que conciliar estudo, família e trabalho. “No início pensei até em desistir. Quando iniciei era presencial. Fiquei dois anos no presencial e minha mão me ajudava à época. No período da pandemia, ela faleceu, foi quando pensei em desistir do curso. Esse é um momento difícil, é quando nos sentimos frágeis. Foi no período remoto que consegui conciliar com as crianças. Estudava no período da madrugada e às vezes nem dormia por ter que acordar cedo para ir ao trabalho, mas, no final, deu certo e agora estou aqui, neste momento único e marcante”, lembrou.

Para ela, a maior força de inspiração que a fez continuar e não desistir do tão sonhado curso superior, foi a sua mãe. “Ela era dona de casa e lavradora. Sempre incentivava os filhos dizendo para estudar, que é essa formação que fará alçar voos ainda maiores. Na Universidade, conheci professores maravilhosos, como Ana Caroline Amorim e Thiago Lima, que são duas pessoas as quais admiro demais. A professora Carol sempre me incentivava com palavras positivas e apoio moral, dizendo para eu não desistir, que eu consigo chegar lá”, contou.

O passo importante para chegar a este momento final da graduação, chama-se Trabalho de Conclusão de Curso, o famoso TCC, que para muitos é algo bem desafiador fazer, mas para Francisca, foi uma forma de expor, em palavras, suas ideias sobre algo que vivenciara e que precisava lutar por isso.

“Fui vítima de violência doméstica, quando ainda tinha 18 anos. Eu me via em um momento de desespero. A sociedade me julgava muito, fui muito massacrada. Percebi, então, que eu poderia estudar, que poderia pesquisar sobre esse tema que já tenho familiaridade, e por ter tido essa vivência ao meu redor. As pessoas naturalizam demais a violência contra a mulher, a violência doméstica. Por essa questão, eu me propus a estudar, mapear e levantar dados, o que resultou em um bom trabalho. Não fui vítima apenas da violência doméstica, mas também da social. Hoje sou casada, tenho 30 anos, e possuo uma relação saudável com o pai dos meus filhos, que sempre me apoiou nas minhas decisões e nos meus estudos”, declarou.

Francisca não quer parar por aí, ela tem um grande sonho e desejo dentro de si, o de ingressar no mestrado, na área da Psicologia. “O meu interesse é ajudar, não só o meu filho, mas outras crianças autistas também. Em Santa Quitéria, nós temos um movimento da associação de mães e amigos do autista e das pessoas com deficiências. Pensamos em enriquecer, ainda mais, de conhecimentos e experiências”, afirmou.

É comum, fora da capital maranhense, vivenciar histórias marcadas por lutas, determinação, força e esperança. São diversas histórias de vida que emocionam e que leva à reflexão sobre a realidade de cada um. É o caso do formando Alyson Rocha, do curso de Ciências Naturais – Química. Ele lembra que já era para ter se formado no período passado, mas, por conta da pandemia ter causado esse distanciamento social, decidiu fazer disciplinas optativas para consegui vivenciar esse momento presencial.

“Durante quatro anos no curso, é bem gratificante estar aqui, visto que 90% dos estudantes que ingressaram no Centro de Ciências de São Bernardo não são da cidade, e essa questão nos faz passar por diversas dificuldades. Ter esse momento caloroso, presencial, é bem gratificante. É um momento único na nossa vida, que podemos levantar o canudo e, com emoção, termos a certeza de que estamos aqui, todos unidos no presencial, sentindo essa emoção de perto”, relatou Alyson.

Ele, que é Magalhães de Almeida, distante a 33 km de São Bernardo, lembra que chegar até a finalização do curso foi bem difícil. “Nem sempre tínhamos o transporte para vir, diversas vezes tínhamos que vir de moto, e às vezes, até sofríamos acidentes”, lembrou.

Por conta da pandemia, as solenidades de colação de grau eram todas remotas e agora com o retorno das atividades presencial, a Universidade voltou a realizar as solenidades de modo presencial. Esse fato foi lembrado no discurso do vice-reitor Marcos Fábio Belo Matos, que estava representando o reitor Natalino Salgado. “Esta é uma colação de grau que se reveste de um sentido especial, porque marca o retorno das cerimônias presenciais à rotina da nossa universidade, em todos os nove câmpus que a UFMA possui no Maranhão. Estamos sempre trabalhando em prol da formação de excelência dos jovens maranhenses, a formação profissional, científica e humana. A UFMA é uma das poucas universidades federais que está com seu calendário acadêmico atualizado. Investimos nossos recursos e nossa energia para que todos vocês pudessem chegar até este momento com o menor prejuízo possível”, enfatizou.

O estudante Raphael Willyams do Nascimento, do curso de Linguagens e Códigos – Língua Portuguesa, orador oficial da solenidade, em seu discurso, lançou uma pergunta aos seus colegas formandos: “O que mudou em suas vidas nesses quatro anos de curso?”. Continuando sua fala, levando os colegas a pensarem e relembrarem momentos vivenciados na Universidade, seja no período antes da pandemia, ou no período pandêmico, Raphael fala que a primeira mudança foi a mais difícil, o início de tudo. “Por onde começar? O vestibular foi nossa decisão mais importante e um momento de extrema maturidade, além das incertezas que tivemos, mas, depois de muitas lutas, veio a vitória, a lista com o nome dos aprovados. Foi, sem dúvida, o dia de muito orgulho para os nossos pais, e, com certeza, este momento da nossa formatura, está sendo o melhor presente para eles”, afirmou.

Essa certeza ficou estampa na face da dona Maria de Lourdes Sousa Bastos, mãe do formando Lucas Bastos, do curso de Ciências Naturais – Química. Ela conta que ele cursou Ciências Biológicas, no câmpus de Chapadinha, até o quinto período, e, por situações que foram acontecendo na vida de Lucas, ele precisou desistir o curso e retornou para sua cidade natal, Santa Quitéria. “Na época, fiquei muito triste. Mas, ele sempre otimista, fez Enem novamente, obtendo aprovação para estudar em São Bernardo, o que causou, em mim, uma explosão de felicidade. Devido às inúmeras dificuldades e desafios encontrados ao longo da sua vida acadêmica, tive muito receio de que não conseguisse concluir o curso, mas ele me prometeu e disse: ‘Mãe, eu vou concluir, mas espere’. Eu esperei e hoje estou radiante, valeu à pena a espera, é um mix de sentimento que envolve todo o meu ser”, afirmou.

A professora Rachel Tavares, do curso de Linguagens e Códigos – Música, foi a paraninfa escolhida para representar os demais paraninfos na solenidade. Para ela, é uma grande honra estar vivenciando este momento junto com os formandos, familiares, amigos e professores. “Participar desta solenidade é também celebrar a vida. É um novo recomeço, que marca a volta à vitória de um intervalo de nossas vidas marcadas pela pandemia, pelo isolamento social, pela tristeza, pela dor da perda de familiares e amigos, vitimadas pela covid-19. Agora, é hora de voltar, de sorrir, de sentir o calor humano na UFMA, que esteve silenciada por conta das colações virtuais. É hora de celebrar, agradecer e festejar. Sinto-me extremamente feliz e grata pela vida. Este é um momento único, quantos sonhos, quantas esperanças e batalhas travadas e vencidas para chegar até aqui. Vocês são uns vitoriosos”, discursou.

O diretor do Centro de Ciências de São Bernardo, professor Jefferson Almeida Rocha, parabenizou os formandos por mais essa conquista e que os estudos não parem por aí. “Sentimos que o papel da Universidade foi cumprido, o de formar e colocar na sociedade mão de obra qualificada e especializada para o mercado de trabalho. Mas não parem por aí, sigam em frente, vão em busca de um mestrado e, logo depois, de um doutorado”, desejou.

Estiveram presentes, também, na mesa diretora da solenidade, o coordenador do curso de Ciências Naturais – Química, professor Thiago Targino Gurgel, a coordenadora do curso de Linguagens e Códigos – Língua Portuguesa, professora Maria Francisca da Silva, o coordenador do curso de Linguagens e Códigos – Música, professor Cristiano Braga de Oliveira.

Veja todas as fotos da cerimônia

Por: Sansão Hortegal

Produção: Bruna Castro

Fotos: Sansão Hortegal

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