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Docente da UFMA vence o Lasa Brazil Awards 2025

publicado: 12/06/2025 09h45, última modificação: 12/06/2025 09h45
O livro “Geminiana e seus filhos: escravidão, maternidade e morte no Brasil do século XIX”, dos historiadores Alexandre Isidio, e Maria Helena Machado, conquistou a principal categoria da premiação, na seção Brasil
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Fruto de um amplo esforço de pesquisa no campo da História Social da Escravidão, com enfoque no Brasil Império, abordando dilemas da infância, maternidade e dos mundos do trabalho, o livro “Geminiana e seus filhos: escravidão, maternidade e morte no Brasil do século XIX”, publicado em 2024 pela Editora Bazar do Tempo e escrito pelos historiadores Alexandre Isidio, docente da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Maria Helena Machado, docente da Universidade de São Paulo (USP), acaba de ser anunciado como melhor livro no LASA Brazil Awards 2025, a principal categoria da premiação, na seção Brasil.

A premiação é promovida Latin Américan Studies Association (LASA), a maior associação acadêmica de estudos sobre a América Latina nos Estados Unidos, com pesquisadores associados de diversos países.

Alexandre Isidio expressa o sentimento ao conquistar o prêmio: “Foi uma enorme alegria receber esse prêmio. Eu e a professora Maria Helena Machado ficamos extremamente felizes. Foi uma pesquisa, produto de esforço, de dedicação, muito tempo de trabalho, e que envolve um tema muito sensível, que é o tema da escravidão”.

Um tema sensível tratado com profundidade e cuidado

A obra tem base em vasto conjunto de fontes, com destaque para um processo criminal decorrente do assassinato de duas crianças escravizadas em São Luís. Trata-se do famoso caso conhecido como “Crime da Baronesa de Grajaú”, discutido no âmbito da História do Direito no Brasil e em estudos historiográficos sobre as elites imperiais, quase sempre sob o enfoque específico do âmbito da justiça e das manobras de proteção da família da rica proprietária implicada nos assassinatos.

Segundo o professor, o trabalho exigiu não apenas rigor acadêmico, mas também sensibilidade para tratar de uma tragédia que ainda reverbera na memória social.

“O livro traz um enfoque que é diferente das outras obras, que tiveram esse caso como objeto de estudo. Nós colocamos à luz, colocamos ali o foco da investigação em cima da mãe e dos filhos, e não em cima da baronesa, e não em cima da configuração necessariamente política da época. [...]Então, foi um esforço de pesquisa que também envolveu um exercício de pensar esse tema sensível com muito cuidado, observando os pormenores”, declara Alexandre.

A investigação traça um panorama das ações de Geminiana, mulher preta liberta, vendedora de tabuleiro, mãe das crianças assassinadas, e de Simplícia, igualmente uma mulher preta liberta, lavadeira, avó dos meninos mortos. A reconstituição de suas trajetórias de luta e de suas famílias permitiu não somente observar o caso a partir de uma outra perspectiva, sob o viés da História Social da Escravidão e do pós-emancipação no Brasil, como também cruzar a abordagem do processo criminal com as dimensões do gênero, da maternidade, da infância e da raça.

A obra está disponível no site da editora.

O Impacto de um reconhecimento internacional

A conquista do prêmio de melhor livro enaltece a força da produção intelectual e cultural do Maranhão e reafirma a importância da pesquisa acadêmica voltada para a valorização da história e memória do Brasil.

Para Alexandre, esse reconhecimento extrapola fronteiras. Tem um impacto direto no cenário internacional, nacional e também regional — especialmente para o Maranhão e para a Universidade Federal do Maranhão (UFMA). É uma conquista de grande relevância para a instituição e para toda a comunidade acadêmica envolvida.

“A Latin American Studies Association é a maior associação de estudos que tratam da América Latina, com uma enorme quantidade de instituições agregadas, de associados em vários países. Então, quando a gente candidatou o livro, a gente mandou sabendo que seria um grande desafio concorrer dentro dessa instituição, dessa associação, especificamente na seção Brasil. E nós recebemos o Prêmio de Melhor Livro, a principal categoria. Então, é um impacto grande, um impacto fora do Brasil, é um impacto no Brasil e um impacto também óbvio, no Maranhão, na UFMA, é um prêmio importante”, pontua o docente.

A colaboração acadêmica e o papel da iniciação científica

A obra, que conta com a coautoria da professora Maria Helena Machado (USP), é fruto de uma pesquisa minuciosa desenvolvida em diálogo com os grupos de pesquisa liderados pelos docentes: o Grupo de Estudos e Pesquisas em História Social dos Sertões (UFMA) e o Grupo de Pesquisa Escravidão, Gênero e Maternidade (USP), tendo conexões com planos de trabalho de Iniciação Científica e pesquisas de PIBIC, no Centro de Ciências de Codó.

“Parte da pesquisa teve uma contribuição muito importante, por exemplo, dos esforços da iniciação científica. Então, parte do que foi discutido no livro, da investigação da documentação, sobretudo dos jornais do Maranhão do século XIX, veio a partir de diálogos com os estudantes da iniciação científica”, explica Alexandre.

Além de representar um marco pessoal e profissional, o prêmio também valoriza o trabalho coletivo de estudantes e pesquisadores. É um reconhecimento que reforça a importância do ensino público e da pesquisa acadêmica comprometida com a memória, a justiça histórica e a formação crítica.

Por: Ingrid Trindade

Revisão: Jáder Cavalcante

Divulgação: Paulo Miranda

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