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A educação transforma vidas: aluno do Câmpus Pinheiro realiza sonho e cola grau aos 60 anos

publicado: 10/11/2022 18h48, última modificação: 10/11/2022 18h48
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O dia 15 de outubro foi marcado pela comemoração do Dia do Professor, profissão que forma profissionais de todas as áreas e ajuda no desenvolvimento de alunos como cidadãos, transformando vidas. Essa data, neste ano, foi especialmente celebrada por Francisco Pedro Arouche, que, em 2022, realizou um sonho e se licenciou — aos 60 anos de idade — em Ciências Humanas – História pelo Centro de Ciências de Pinheiro (CCPi).  

Superação, dedicação, persistência e valor à educação: é o que resume a história de Francisco, que obteve nota máxima em seu Trabalho de Conclusão de Curso para receber seu diploma. Seu Xavier, como também é conhecido, é filho de lavradores e, apesar das grandes dificuldades, conta que sempre foi orientado sobre a importância e o poder transformador da educação na vida das pessoas.

O professor contou sobre como, mesmo em meio aos “tempos difíceis”, seus pais nunca deixaram de o colocar na escola. Morador da zona rural do município de Palmeirândia, foi, assim como os pais, ensinado na “arte da lavoura” desde cedo, onde trabalhou por muitos anos. Seu Xavier cresceu no regime ditatorial do Brasil de 1964 e frisa isto no relato de sua experiência de vida.

“Foram tempos difíceis para mim e para tantos outros da minha época. Basta dizer que eu nasci dois anos antes do fatídico ano de 1964. Eu cresci, tive minha infância e juventude pobre, e entrei na vida adulta dentro da ditadura militar. Quero dizer que, mesmo diante de tantas adversidades, nunca desisti de estudar e de ler, mesmo quando, por alguma razão, não pudesse ir à escola, ou quando não havia escola na comunidade ou no bairro próximo onde morava”, relembrou.

Oriundo do interior do Maranhão, seu Xavier já passou por outras cidades do Maranhão, do Pará e de São Paulo, onde trabalhou em diversas funções. Além de lavrador, ele foi garimpeiro, vendedor ambulante, trabalhador operacional em fábrica de confecções, pescador, pintor de paredes e metalúrgico.

Mas foi em São Bento, Maranhão, que ele prestou o Enem e foi aprovado no Sisu, em seguida matriculado no curso de História na Universidade Federal do Maranhão. “Talvez o que me inspirou foram as histórias que meus pais me contavam à noite antes de dormir. A motivação acho que vem desse contexto, em que me criei e cresci, e talvez também o fato de ser um afrodescendente, ser membro de uma família nem um pouco tradicional, porém muito religiosa. Acho que seja por aí”, relembrou.

Gratidão ao CCPi

Seu Xavier enfatiza a importância da existência do Câmpus na cidade de Pinheiro, sem o qual seria muito mais difícil alcançar o sonho da graduação. Mesmo assim, sua jornada de ida e volta à Universidade contou com percalços devido à dificuldade no transporte de Palmeirândia até lá. Por vezes, ele fazia parte do caminho a pé e pegava caronas em transportes escolares, ou pagava táxis para chegar ao câmpus.

Apesar disso, ele destaca a importância da implantação do câmpus. “O estabelecimento desse câmpus em Pinheiro trouxe desenvolvimento, não só para a cidade, mas para toda essa região da Baixada. A UFMA ,aqui em nossa região, possibilitou a formação de tantos outros antes de mim, então abracei essa chance de me formar”, relatou.

Com uma rotina de estudos muitas vezes irregular, pois precisava alternar entre o trabalho e os estudos, Xavier prestou o Enem pela primeira vez em 2012, estudando em um preparatório disponibilizado pelo Governo do Maranhão e com suas próprias pesquisas em livros e aulas do Telecurso 2000. Porém, não se inscreveu no Sisu, fato que só ocorreu em 2014, após três anos consecutivos realizando o exame, com o incentivo dos professores que o monitoravam na realização das provas. “Ao ler várias matérias em revistas e jornais sobre o novo modelo de acesso às universidades e ver, nos jornais televisivos, os estudantes correndo para não perder a prova, e outros até chorando por ter perdido, eu pensei: ‘esse negócio deve ser muito bom, vou fazer também’. Gostei tanto que fiz três vezes”, lembrou.

União com os colegas de classe

Ele destaca sua relação com os colegas de sala. “Tem sempre aqueles que se acham os mais espertos, ou mais inteligentes que todo mundo, mas também tem aqueles que tinham dificuldades e até limitações maiores que as minhas, mas exatamente o fator idade não foi um problema. Sou da turma do segundo semestre de 2015, mas também fiz cadeiras com outras turmas, em todas elas sempre fui o de maior idade e era sempre convidado a fazer parte dos grupos” comentou. 

Vida transformada pela educação

Hoje, seu Xavier, que já foi chamado de “homem do milho e da pamonha”, é chamado de professor e pode inspirar e ajudar a mudar a vida de jovens por meio da educação, como a sua foi transformada. Ele trabalha na Escola Municipal Luso Figueredo Chaves, no povoado São Miguel Palmeirândia. Lecionam junto com ele outros cinco professores do mesmo povoado que também realizaram o sonho da licenciatura, graduando-se pela UFMA nos Câmpus de São Bernardo e Pinheiro.

Por: Bruna Castro  

Fotos: Arquivo pessoal

Revisão: Jáder Cavalcante

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