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Segunda do Português: "Tão pouco" e "Pornografia"

por Jáder Cavalcante publicado: 05/01/2021 09h47, última modificação: 05/01/2021 10h33

1. Pornografia

No exemplo abaixo, destacamos uma infração muito comum cometida com a palavra “pornografia”. Observe:

                D. Francisca, seu filho foi suspenso porque estava dizendo pornografias dentro da sala de aula.

Assim como caligrafia, em pornografia também temos o radical grego gráphos, que quer dizer escrita. Se grafia significa escrita, pode-se deduzir que pornografia significa qualquer palavra obscena, desde que escrita. Como, em nosso exemplo, temos a expressão “dizendo pornografia”, observamos certa incongruência, uma vez que grafia deve ser registrada com caneta, lápis, pincel, etc. Se o estudante foi punido pelo que disse, ele utilizou a fala, o som, a voz. Em vez de utilizar o radical grego graphos, o correto seria usar outro radical grego, phoné, que significa som. Por isso, a forma correta para nosso exemplo inicial é:

                D. Francisca, seu filho foi suspenso porque estava dizendo pornofonias dentro da sala de aula.

Ou          D. Francisca, seu filho foi suspenso porque estava escrevendo pornografias dentro da sala de aula.

 

2. Tão pouco

Observe o exemplo abaixo, em que o redator comete uma infração à língua no tocante ao uso de “tão pouco”:

                 O reclamado nunca manteve relação trabalhista com o reclamante, tão pouco fazia contratações esporádicas como afirma o reclamante.

Essa frase foi encontrada numa peça processual de um famoso advogado de minha cidade, denotando seu pouco caso com nossa língua-mãe. Não confunda “tampouco” com “tão pouco”. “Tão pouco” significa “muito pouco”; “tampouco” significa “também não”. Observe estes exemplos em que se encontram os dois casos:

                Ele não consegue comprar uma casa própria, tampouco um terreno, visto que ganha tão pouco mensalmente.

                Não desejo fama tampouco dinheiro, embora eu tenha tão pouco deste.

Corrigindo o texto do advogado:

                [...] O reclamado nunca manteve relação trabalhista com o reclamante, tampouco fazia contratações esporádicas como afirma o reclamante [...]

 

 

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