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Segunda do Português: "Fugir"

publicado: 17/01/2022 19h46, última modificação: 17/01/2022 19h46

Fugir

Observe os versos iniciais da canção “Vamos fugir”, de autoria de Gilberto Gil:

            Vamos fugir deste lugar, baby!
            Vamos fugir
            Tô cansado de esperar
            Que você me carregue

O autor usou a preposição “de” após o verbo “fugir” (deste = de + este), e, diga-se de passagem, a frase está corretamente estruturada. Mas existem alguns casos em que o verbo “fugir” não exige a preposição “de”. Vamos a esses casos, analisando todos os significados de “fugir”:

1. “Fugir” pode significar “afastar-se, distanciar-se, deserdar”. Nesse caso, seu adjunto adverbial deve ser iniciado pela preposição “de”, como na canção de Gil. Veja os exemplos:

            Ele conseguiu fugir do cativeiro.

            Precisamos fugir desse tirano.

            Fuja do perigo enquanto há tempo.

2. “Fugir” também dá ideia de “desviar-se”. Nessa acepção, “fugir” não requer um adjunto adverbial, e, sim, um objeto indireto, que será iniciado pela preposição “a”. Observe:

                Ele tirou nota zero na redação porque fugiu ao tema.

                Quem foge aos ensinamentos de Deus deve estar preparado para uma vida de fuga constante.

                Ele foi condenado a uma pena de trinta anos, por isso fugiu do país para fugir à condenação.

Na verdade, é muito tênue a linha que divide um caso de outro, mas, para facilitar a aprendizagem, uma dica que dá certo na maioria dos casos é: use “fugir de” acompanhado de substantivo concreto (fugir da cadeia, fugir do prédio, fugir do bedel, fugir dos inimigos); e use “fugir a” com substantivo abstrato (fugir às responsabilidades, fugir ao assédio, fugir à tentação).

Portanto, na hora em que você estiver discutindo algo com alguém, e essa pessoa tentar tirar o foco do tema da discussão, você deve dizer:

                Não fuja ao assunto.

E não

                Não fuja do assunto.

Obs.: Comentamos que a dica de substantivo concreto e abstrato “dá certo na maioria dos casos”, mas existem situações que, mesmo se tratando de substantivo abstrato, deve-se usar “de”, não “a”. Por exemplo, você nunca deveria dizer:

                Vou passar as férias no Paraná para fugir ao calor daqui do Nordeste.

Aí fica clara a intenção de “afastar-se”, “ir embora”, por isso o certo é usar:

                Vou passar as férias no Paraná para fugir do calor daqui do Nordeste.

 

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Revisão: Jáder Cavalcante