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UNITI fortalece ações para a pessoa idosa e se consolida como referência na extensão universitária nos últimos dois anos

publicado: 04/12/2025 12h10, última modificação: 04/12/2025 15h43
Ações contínuas de formação, saúde e cultura fortalecem o protagonismo da pessoa idosa dentro e fora da UFMA
UNITI fortalece ações para a pessoa idosa e se consolida como referência na extensão universitária nos últimos dois anos

Entrega dos certificados de conclusão do Curso de Formação Continuada em Envelhecimento Ativo e Saudável da Universidade Integrada da Terceira Idade. Foto: Leo Santos

Há quase três décadas em atuação contínua, a Universidade Integrada da Terceira Idade (UNITI) segue firme como um dos projetos mais longevos e simbólicos da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Nascida como uma iniciativa de extensão, a UNITI transformou-se em um instância da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC), desempenhando um papel fundamental na promoção de cidadania, bem-estar e inclusão social para idosos de São Luís.

Os idosos que integram a Universidade Integrada da Terceira Idade verbalizam “mudança de vida”. Mudança vivida e sentida por dona Juliana Souza, que, desde 2018, participa das atividades da UNITI, das disciplinas ao coral e ao grupo de bumba meu boi. “Conheci a UNITI através de uma amiga, que tinha frequentado antes e já não estava mais lá. E ela me convidou, falou comigo sobre a UNITI, que era um projeto muito bom, se eu não queria participar. E eu fui, fiz a minha inscrição e comecei a participar das atividades. E quando eu comecei a participar, melhorou 100% as coisas na minha vida em relação a estar com as pessoas. Fazer novas amizades. E foi e é muito bom participar do projeto da UNITI, muito bom mesmo”, conta dona Juliana.

“A UNITI é um grande exemplo de como a Universidade Federal do Maranhão se preocupa com a inclusão”, afirma a pró-reitora de Extensão e Cultura, Zefinha Bentivi, que avalia a Universidade Integrada da Terceira Idade como referência no Maranhão.

No biênio 2023-2025, sob a liderança do professor Fernando Carvalho na gestão superior da UFMA, a UNITI avançou significativamente em oferta, impacto social e estruturação pedagógica, reafirmando o compromisso institucional com o envelhecimento ativo e com a formação humanizada.

“Nos últimos anos, temos incrementado cada vez mais metodologicamente, nesses últimos dois anos para ser exata. Nós temos aumentado o nível de participação, o nível de acolhimento dos nossos idosos. Hoje, a gente tem um projeto, um grande projeto, que é levar a UNITI para os outros centros fora de São Luís. É um projeto apoiado pelo professor Fernando, nosso reitor, e a gente espera o mais cedo possível chegar ao interior e fazer com que a UNITI, além de São Luís, brilhe e faça o seu papel nos outros locais em que a UFMA está”, ressalta Zefinha Bentivi.

O reitor da UFMA, Fernando Carvalho, e a pró-reitora de Extensão e Cultura, Zefinha Bentivi, com brincantes no Baile da FelizIdade 2024. Foto: Sarah Dantas/Dcom

Expansão do atendimento e fortalecimento acadêmico

Segundo o chefe da Divisão da UNITI, Rafael Lima, em dois anos, a oferta de vagas passou de 120 para 170 idosos matriculados e ativos, um aumento que demonstra a demanda e a confiança da comunidade no projeto.

No mesmo período, houve ampliação expressiva da participação acadêmica: os projetos de extensão passaram de três para dez, conectando cursos de graduação e pós-graduação às atividades da UNITI, e professores e estudantes passaram a desenvolver ações diversas, promovendo trocas intergeracionais. Para Rafael Lima, “isso melhorou muito a inserção inclusive da graduação e da pós-graduação nas atividades de extensão”, fortalecendo a política de extensão da UFMA.

Essa aproximação qualifica a formação universitária e amplia a compreensão sobre o envelhecimento como tema científico, cultural e social.

Parcerias institucionais estratégicas

O biênio também foi marcado pela intensificação das cooperações. Parceiros históricos, como o Sesc, foram reafirmados, enquanto novas articulações surgiram com órgãos públicos e instituições educacionais.

Entre as parcerias, estão: a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Maranhão (Secti), responsável pelo curso de letramento digital, com turmas mensais; o Instituto Federal do Maranhão (IFMA), com ações conjuntas na Semana Internacional da Pessoa Idosa; a Defensoria Pública e Ministério Público, cooperações que ampliam direitos e acesso a serviços.

Além disso, o apoio de parlamentares, por meio de emendas e recursos, tem viabilizado a manutenção das atividades.

Metodologias inovadoras e ensino além da sala de aula

A UNITI consolidou práticas pedagógicas dinâmicas, voltadas para experiências que ultrapassam os limites físicos da Universidade. As disciplinas contemplam visitas a feiras, mercados, parques, espaços culturais, além de atividades conduzidas em parceria com outras instituições.

“Aqui a gente não tem essa ideia da aula ser somente em sala de aula”, afirma o chefe da Divisão da UNITI, Rafael Lima. “No início do ano, existe um planejamento, e nesse planejamento já existe a possibilidade de se fazer visitas em mercados, em feiras que acontecem ao ar livre aqui na ilha de São Luís; alguns pontos turísticos que esses idosos veem, as disciplinas que eles cursam, conversam entre si para facilitar essa transdisciplinaridade. [...] A gente, na verdade, desde o ano passado já estava firmando um acordo entre órgãos que desenvolvem ações e extensões com pessoas idosas e a gente tem feito um pouco dessa troca”, explica Rafael.

Alunos acompanhados pelas professoras Wilma Ramalho e Dulce Glória, das disciplinas Reeducação Alimentar e Lazer e Turismo, na visita técnica ao Banco de Alimentos de São Luís. Foto: Instagram

A UNITI também abraçou o desafio de ampliar a autonomia digital dos idosos e superar um dos maiores obstáculos geracionais. Nesse sentido, houve a criação de turmas permanentes de informática e smartphone, conduzidas por professores do curso de Ciências da Computação. Em 2025, a partir de um acordo de cooperação com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Informação do Estado (Secti), os idosos participam de um curso de letramento digital.

 Arte, cultura e pertencimento: um capítulo essencial da UNITI

As atividades artísticas — coral e bumba meu boi — representam um dos pilares emocionais e sociais do projeto. Para muitos desses alunos, são experiências inéditas, que despertam autoestima, expressão emocional e identidade cultural.

A importância das atividades está expressa nas palavras de Dona Juliana: “Participo do coral, participo do boi. Brincamos o boi, é muito bom, todo mundo feliz. Com o coral, a gente viaja, a gente vai para vários lugares e vamos para as casas de apoio, para hospitais... Então, é muito bom, muito bom mesmo. É vida, é saudável, maravilhoso”.

 Juliana Souza participa de evento com o Coral Canto de Luz, da UNITI. Foto: arquivo pessoal

Já Dona Marilene Pinto da Conceição, também integrante da UNITI e inserida no coral e no bumba meu boi, reforça que as atividades culturais proporcionam “controle para saúde física e mental; demonstração emocional; ampliação da criatividade”.

Resultados percebidos nos idosos: autonomia, saúde e acolhimento

A UNITI reflete diretamente na qualidade de vida dos participantes. Nas aulas, palestras e oficinas, muitos idosos identificam situações de vulnerabilidade, passando a buscar apoio por meio das instituições parceiras. Assim, a UNITI funciona como porta de entrada para a rede de proteção social e cidadania.

Segundo o chefe da Divisão da UNITI, os resultados são observados em diversos aspectos: aumento da autoestima, da autonomia e do sentimento de pertencimento; melhor compreensão dos direitos da pessoa idosa; fortalecimento de vínculos afetivos e sociais; redução de quadros depressivos e isolamento além do estímulo à prática de atividades físicas e cognitivas.

“Você consegue observar uma melhoria na qualidade de vida, o idoso consegue entender, se fazer pertencer ao que ele realmente precisa pertencer, se empoderar dos seus direitos, e principalmente de saber que ele não está só, porque a Universidade Integrada da Terceira Idade não está voltada somente para essa parte de ensino, a gente está aqui para apoiar o idoso em todas as circunstâncias que ele precisar, mesmo que a gente não consiga resolver, a gente acaba encaminhando”, pontua Rafael.

“As mudanças que eu tive foram várias. Muita mudança no meu estilo de vida, inclusive, porque comecei a sair de casa, que eu já não queria mais nem sair de casa, estava no resto de uma depressão. Então, não queria conversar com ninguém, não queria sair de casa, não queria estar entre outras pessoas”, enumera Dona Juliana.

Marilene Pinto da Conceição com o boi Novilho de Luz, da UNITI. Foto: arquivo pessoal

Para Dona Marilene, “comunicação, dedicação, segurança e bem-estar” foram os principais pontos de transformação sentidos após integrar a UNITI.

Uma experiência para professores

Nutricionista e apaixonada pelo público da terceira idade, Wilma Ramalho ministra voluntariamente a disciplina de Reeducação Alimentar e diz que a atividade é uma “realização profissional e pessoal também”.  

Para Wilma, a convivência com os alunos da UNITI é um grande aprendizado. “Aprendo cada dia mais que a força e a determinação levam a gente aonde queremos. Eles são exemplo de perseverança e garra”, declara a professora.

Ministrando a disciplina de Atividades Artísticas, Rodrigo Ferreira Gomes é um dos mais jovens professores e destaca o impacto de trabalhar com estudantes idosos:

“Meu compromisso é com a educação inclusiva, é trazer essa participação da terceira idade de forma mais ativa e digna também, essa é uma parte muito importante que eu coloco dentro do meu trabalho, e trabalhar de forma mais sensível, é buscar sempre novas metodologias, fazer com que os meus alunos se sintam de certa forma também protagonistas, que a gente também possa trocar diálogos de forma respeitosa, até porque eu sou um professor jovem, mas flui de uma forma muito, muito, muito legal, muito orgânica, e é basicamente isso, é uma experiência que tem me fortalecido muito como profissional”.

Para Rodrigo, o trabalho também o atravessa de maneira muito pessoal. “Quando eu vou para o plano pessoal, eu posso pensar que tem sido uma experiência bastante transformadora, porque primeiro que eu sou um dos professores mais jovens, então, de certa forma, eu estou sempre muito no lugar também de carregar muitas histórias, muitas vivências, as sabedorias de décadas, que atravessam gerações, então eu aprendo muito, eu estou sempre muito no lugar da escuta, de compreender a visão de mundo dos meus alunos, que às vezes não é fácil, por causa desse atravessamento de geração, mas, ao mesmo tempo, é muito gratificante, porque eu me transformo, é como se eu fosse lapidando cada vez mais a minha trajetória como indivíduo, porque você conhece melhor, um pouco sobre as vivências da vida, sobre sabedorias de outras épocas, contextos que você não estava presente, porque não era nascido”, reflete o professor.

Os desafios

Apesar dos avanços, alguns desafios permanecem como prioridades para os próximos anos, como a ampliação de acordos formais, buscando facilitar o acesso dos alunos aos serviços parceiros, e maior engajamento dos cursos da UFMA, incentivando para que mais docentes e estudantes desenvolvam projetos voltados à gerontologia e ao envelhecimento.

“Daqui a um tempo, um terço da população, um quarto da população mundial, serão de pessoas velhas, e a gente precisa estar preparado para isso, inclusive a própria Universidade”, pontua Rafael Lima.

Ainda segundo o chefe da Divisão da UNITI, a proposta de um vestibular específico para pessoas idosas, idealizada pela PROEC, também segue ganhando força como uma política inovadora para inclusão educacional. “Um outro grande desafio, que a gente está levando para a conferência nacional, que é uma ideia já de longa data, principalmente da professora Zefinha, é de nós fazermos um vestibular específico para pessoas idosas, porque o nome Universidade Integrada da Terceira Idade remete que o idoso que chega aqui vai fazer um curso de graduação, muitos chegam aqui com essa ideia, mas a gente explica que é um curso de extensão, de 280 horas, tem duração de um ano, mas a gente fomenta isso daqui para o futuro, para que o aluno daqui da UNITI, que ele tenha o nível adequado para ingressar numa universidade, ele faça esse vestibular especializado e venha a preencher uma dessas vagas da graduação”, explica Rafael.

O legado e a relevância de três décadas

A UNITI é um espaço que oferece possibilidades, contribuindo para redefinir a imagem de envelhecer como um processo ativo e plural, como ressalta o chefe da Divisão:

“A gente tem buscado trazer qualidade de vida, se a gente for parar para pensar, o idoso de 15 anos atrás, de 10 anos atrás, ou de 20 anos atrás, não é o mesmo idoso de hoje. Eu lembro bem, vou falar aqui uma experiência própria, quando eu chegava à casa da minha avó, o que ela estava fazendo? Comida para os netos e para os filhos, presa numa cozinha, fazendo bolo, enfim. Hoje, a maioria delas são avós, mas elas não querem ficar presas em cozinha, elas querem descobrir o mundo, buscar conhecimento, buscar interagir, sair do meio domiciliar, que às vezes é entediante para elas, e virem para cá. Se eu for ver agora no núcleo de esporte, está cheio delas, elas estão todas para lá, brincando, se divertindo e fazendo atividade física ao mesmo tempo. Até isso, a gente tem a preocupação dos professores adaptarem às atividades conforme a necessidade”.

Nesse contexto, às vésperas de completar trinta anos, a UNITI se mantém atual, necessária e profundamente significativa para a população idosa de São Luís. A cada ano, mais de cem idosos concluem o curso de extensão e recebem certificação em um momento carregado de emoção e conquista pessoal.

“A gente consegue atingir as nossas metas, que são traçadas no início do ano, e a gente consegue observar isso principalmente quando a gente faz a certificação dessas pessoas no último dia de aula, que a gente vê a satisfação, a cara que eles ficam, o jeito que eles ficam, que ali para muitos é um momento que eles não tiveram em outro momento na vida, na infância, na adolescência ou na fase adulta de uma graduação, mas ali para eles é como se fosse um momento áureo da vida, porque eles ali estão celebrando o que eles aprenderam, e não foram poucas coisas, foram muitas disciplinas por que eles passaram ao longo do ano”, expressa Rafael.

A nutricionista Wilma Ramalho resume a essência do projeto: “A UNITI é o resgate da qualidade de vida, autonomia, respeito, dignidade que muitas vezes é retirado da pessoa idosa. Sempre será um local de trocas de conhecimentos e valores éticos”.

Em consonância com o envelhecimento populacional acelerado no Brasil, que até 2030 será o sexto país com mais pessoas idosas no mundo, a UNITI reafirma o compromisso da UFMA com políticas públicas sólidas e com a extensão como prática social transformadora.

Em duas décadas e meia de história e especialmente nos últimos dois anos, o projeto consolida-se não apenas como espaço educativo, mas como um território de acolhimento, expressão, cidadania e vida.

“Eu diria para os outros idosos que venham. Venham que você vai encontrar pessoas amigas. Coisas maravilhosas para você participar: aulas boas que falam de você, que conversam com você. Você está assistindo uma aula, é como se aquela aula fosse feita exclusivamente para você. Mexe com a sua mente, com o seu corpo. É muito bom, muito bom mesmo”, convida dona Juliana.

Por: Dcom

Fotos: arquivo pessoal, divulgação/Instagram e Dcom

Revisão: Jáder Cavalcante