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UFMA promove inauguração de Museu Quilombola em parceria com comunidade de Itamatatiua
A Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em parceria com a Associação de Mulheres de Itamatatiua, inaugura, na próxima terça-feira, 7, a partir das 10h, o Museu Quilombola de Itamatatiua, no município de Alcântara (MA). O novo espaço museológico é dedicado à preservação da memória, da cultura e dos saberes tradicionais das ceramistas quilombolas, resultado de anos de pesquisa e extensão desenvolvidas pela Universidade junto à comunidade.
A cerimônia de abertura contará com a presença de autoridades locais, representantes de movimentos sociais e do público acadêmico. A programação terá início com a tradicional salva de caixas, seguida de apresentações culturais, como a dança do negro e o tambor de crioula, manifestações que integram o calendário festivo do quilombo. Os visitantes também participarão de uma visita guiada ao museu, conhecendo de perto as peças, narrativas e histórias preservadas no novo espaço.
O processo de criação do museu foi conduzido de forma colaborativa, com protagonismo da comunidade e apoio técnico da UFMA. Desde 2023, a Associação de Mulheres de Itamatatiua foi reconhecida como Ponto de Memória pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), marco que consolidou as ações de salvaguarda já desenvolvidas na localidade. Em virtrude desse reconhecimento, foram captados recursos em editais de fomento, com destaque para o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), permitindo que o projeto avançasse para a etapa de musealização.

De acordo com o professor Arkley Bandeira, do Programa de Pós-graduação em Cultura e Sociedade (PGCult), a ideia do museu surgiu da própria comunidade, que buscava formas de transmitir às novas gerações os conhecimentos ligados à cerâmica e à história quilombola.
“O ensejo do museu parte da própria comunidade, das próprias ceramistas, que, entendendo a importância do seu ofício para as novas gerações, demonstraram, desde o início, o interesse em construir esse espaço. Antes mesmo do museu, já existia o Cantinho da Saudade, idealizado por dona Eloisa de Jesus, líder e ceramista, que se tornou ponto de memória reconhecido. O museu é fruto de diversas mãos e projetos, mas, principalmente, do desejo da comunidade de manter viva a sua história”, destacou o professor.
A UFMA, por meio de seus programas de pós-graduação e grupos de pesquisa, teve papel fundamental na consolidação da iniciativa. Contribuíram diretamente o PGCult, o Programa de Pós-graduação em Design (PPGDg) — por meio do Grupo de Pesquisa Narrativas, Inovação, Design e Antropologia (NIDA) — e o Observatório Cultural do Maranhão. Outras colaborações vieram também do Laboratório de Ciências e Planejamento Ambiental ligado ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), articulando ensino, pesquisa e extensão em prol da preservação da memória quilombola.
No espaço expositivo, os visitantes terão acesso a diferentes dimensões da vida no quilombo. Estão reunidos elementos sobre o processo de produção da cerâmica tradicional de Itamatatiua, reconhecida nacional e internacionalmente, e registros históricos que contam a formação do território quilombola, como a doação das terras para Santa Teresa de Jesus, a figura do encarregado, o festejo religioso e os modos de vida transmitidos de geração a geração.
Para o professor Arkley, trata-se de uma experiência inédita e que pode inspirar outros projetos semelhantes no Maranhão e no Brasil. “É um trabalho pioneiro no estado, construído de forma horizontal, respeitando os anseios da comunidade. Esse museu é mais que um espaço de pesquisa ou visitação acadêmica, ele se torna um patrimônio de todos, aberto ao público e aos turistas, configurando-se como presente de Santa Teresa para o povo de Itamatatiua”, afirmou.
O docente também ressalta o impacto positivo da iniciativa no campo da pesquisa e da extensão universitária. “Ao longo dos anos, o quilombo de Itamatatiua foi espaço de estudo, de ensino e de extensão para a UFMA. Agora, com o museu, essas ações ganham um novo alcance. Transformamos um local de produção artesanal em um espaço museológico de referência, que dialoga com a academia, mas também com os turistas, com a comunidade e com toda a sociedade maranhense. É uma vitória coletiva que valoriza o conhecimento ancestral e o insere em novas perspectivas”, completou.

A inauguração ocorre na semana que antecede o tradicional Festejo de Santa Teresa de Ávila, uma das celebrações mais importantes da Baixada Maranhense, fortalecendo, ainda mais, a relação entre fé, memória e cultura. Para a comunidade, o museu representa não apenas um espaço de preservação, mas também de fortalecimento da identidade quilombola e de valorização do trabalho das ceramistas.
O evento é aberto ao público e marca mais uma conquista das ações colaborativas da Universidade com comunidades tradicionais do Maranhão. A expectativa é que o museu se torne um ponto de referência para pesquisadores, estudantes, turistas e demais interessados na história e cultura quilombola.
Para mais informações, acesse o perfil no Instagram @quilomboitamatatiua.
Serviço
O que: abertura do Museu Quilombola de Itamatatiua
Quando: terça-feira, 7 de outubro, às 10h
Onde: Centro de Produção de Cerâmica de Itamatatiua
Por: Geovanna Selma
Fotos: acervo pessoal
Revisão: Jáder Cavalcante