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UFMA desenvolve pesquisa crítica em comunicação com foco em antirracismo e desigualdades de gênero
O Grupo Maria Firmina dos Reis, coordenado pelas professoras Michelly Carvalho, Luciana Souza e Leila Sousa, do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Câmpus Imperatriz, vem se consolidando como referência na pesquisa crítica em comunicação, com ênfase em formação antirracista e estudos de gênero. Criado em 2019, o grupo surgiu da necessidade de construir um espaço acadêmico voltado para reflexões e ações transformadoras em regiões historicamente marginalizadas, como o Norte e o Nordeste do Brasil.
O objetivo central da pesquisa é compreender a comunicação como um campo de disputa simbólica e de poder, capaz tanto de reforçar desigualdades quanto de oferecer instrumentos de resistência e cidadania. Entre os principais eixos de investigação estão o combate ao racismo, a análise das desigualdades de gênero e o enfrentamento do assédio, especialmente no ensino superior.
Segundo Leila Sousa, o trabalho do grupo busca sempre articular ensino, pesquisa e extensão. “Tudo o que desenvolvemos em termos de extensão e pesquisa vai também para as nossas salas de aula. A gente sempre tenta trazer autores negros, latino-americanos, mulheres, para confrontar esse pensamento dominante e hegemônico”, explica. Essa articulação pretende formar estudantes críticos, atentos aos marcadores sociais e aos impactos desiguais que atingem determinadas populações.
Um dos projetos de maior destaque do grupo é o Academia Preta Decolonial, curso gratuito e aberto ao público que já formou mais de seiscentas pessoas. A iniciativa surgiu para oferecer uma formação antirracista estruturada, capaz de atingir não apenas a comunidade acadêmica, mas também diversos públicos. A abrangência do curso foi tamanha que atraiu participantes de diferentes países, como Espanha, Cabo Verde e Colômbia.
Além das turmas anuais, o projeto se prepara para o lançamento de um livro reunindo os resultados do projeto e escritos produzidos pelos próprios cursistas. Para a professora Leila Sousa, o impacto social dessas atividades vai muito além da UFMA. “É muito bonito ver a dimensão que a pesquisa pode alcançar dentro de uma universidade”, destaca.
Outro foco importante do grupo são as pesquisas sobre as juventudes de Imperatriz, investigando como os jovens da cidade se articulam e utilizam a comunicação como ferramenta de cidadania. Esses estudos partem da premissa de que a comunicação não é apenas um campo técnico ou mercadológico, mas um território político, onde se constroem e disputam sentidos. “A comunicação é um espaço de disputa de poder, mas também uma ferramenta importante para resistência às hegemonias e para construir outras realidades”, afirma.
O trabalho do Grupo Maria Firmina dos Reis também já foi reconhecido nacionalmente. Em, 2022, a equipe recebeu o Prêmio Luiz Beltrão de Inovação em Pesquisa da Intercom, destacando-se entre iniciativas brasileiras por sua abordagem crítica e transformadora. A prática de extensão, para o grupo, não é algo separado da pesquisa ou do ensino, pelo contrário, a integração entre essas dimensões é considerada fundamental para provocar mudanças reais nos territórios em que a UFMA atua. “A gente não consegue mais separar esses três eixos, porque eles estão muito imbricados na nossa prática em sala de aula”, explica Leila Sousa.

A docente também tem buscado fortalecer redes de colaboração acadêmica. Recentemente, participou de um ciclo de conservatórios promovido pela Cátedra Michéle y Armand Marttelart do Ciespal, que reuniu pesquisadores da América Latina para discutir metodologias transformadoras na pesquisa em comunicação. Esse diálogo permitiu novas parcerias, inclusive para projetos futuros do grupo, como o livro sobre Assimetrias de Gênero no Ensino Superior, que resulta de investigações sobre assédio na universidade.
Para os próximos anos, os desafios da linha de pesquisa passam por ampliar os estudos de gênero com base em uma perspectiva brasileira e latino-americana e consolidar espaços seguros para denunciar violências. “Estamos construindo esse lugar seguro. Embora tenhamos avançado, ainda há muito trabalho a fazer”, conclui a professora.
Por: Geovanna Selma
Produção: Sarah Dantas
Fotos: Acervo Pessoal
Revisão: Jáder Cavalcante