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UFMA celebra o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra com foco em inclusão e equidade racial
Em 2024, o Dia Nacional da Consciência Negra foi reconhecido oficialmente como feriado nacional. A data é marcada pela reflexão sobre a luta histórica da população negra e pelos desafios ainda existentes em uma sociedade estruturada pelo racismo. Na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o tema ganha destaque com ações que reforçam o compromisso da instituição com a inclusão, equidade racial e valorização da diversidade.
A adoção de políticas de cotas na UFMA é parte de um esforço contínuo para reparar desigualdades históricas e criar oportunidades para grupos que foram historicamente excluídos. A política de cotas raciais na graduação, regulamentada pela Lei nº 12.711/2012, assegura vagas para estudantes negros, pardos, indígenas e pessoas com deficiência nas instituições públicas de ensino superior.
Na pós-graduação, o cenário também tem avançado. A Portaria Normativa nº 13/2016 do Ministério da Educação (MEC) orienta os programas de mestrado e doutorado a reservarem vagas para candidatos de grupos sub-representados, como negros, indígenas e pessoas com deficiência. Na UFMA, a implementação dessa política tem fortalecido o ingresso de pesquisadores negros e promovido debates sobre diversidade no ambiente acadêmico.
Segundo o diretor da Diretoria de Diversidade, Inclusão e Ação Afirmativa (DIDAAF), professor Acildo Leite da Silva, a presença de estudantes negros, pardos e indígenas cresceu de forma notável. “Temos uma paisagem mais negra no conjunto dos acadêmicos. Hoje, mais de 52,8% dos estudantes da nossa Universidade são negros, pretos e pardos, indígenas e, a partir de 2024, também quilombolas”, destacou.
Cotas raciais: inclusão e desafios
As políticas de cotas foram fundamentais para abrir as portas do ensino superior à população negra, quilombola e indígena. Além de promover a diversidade nos cursos de graduação, a UFMA também busca ampliar essa representatividade na pós-graduação. Para o professor Acildo, essas iniciativas representam um passo essencial na promoção da equidade racial.
“As ações afirmativas e as políticas da diversidade são estratégias de enfrentamento do racismo e de promoção da equidade racial. Elas têm possibilitado ‘negritar’ espaços de saber e poder, como a Universidade, promovendo a mobilidade social da população negra, quilombola e indígena. Ainda não estamos representativos ao quantitativo da população negra brasileira, que é de 55,7% do total, mas avançamos muito”, ressaltou o professor.
Apesar do progresso, os desafios persistem. O professor Acildo pontuou que a naturalização do racismo estrutural no Brasil continua refletida no mercado de trabalho, nas instituições e até mesmo na ausência de políticas públicas mais abrangentes.
A criação da DIDAAF: um marco para a UFMA
Em julho de 2024, a gestão do reitor professor Fernando Carvalho deu um passo importante ao criar a Diretoria de Diversidade, Inclusão e Ação Afirmativa. A iniciativa consolida o compromisso da UFMA com a promoção da diversidade e combate às desigualdades.
A DIDAAF já começou a estruturar diretrizes e programas voltados para a permanência e o acompanhamento de estudantes cotistas, além de promover campanhas formativas sobre racismo, assédio, relações de gênero e orientação sexual. “Nossa intenção é tornar a UFMA um ambiente plural e de valorização da diversidade. Estamos organizando protocolos de enfrentamento ao assédio e à LGBTfobia, além de ações de apoio às mães universitárias e às mulheres da nossa comunidade acadêmica”, explicou o diretor da DIDAAF.
Entre as iniciativas futuras, destaca-se o lançamento do Programa Negricia, voltado à educação das relações étnico-raciais, e do Programa Cocar Indígena, para promover a permanência de estudantes indígenas.
O impacto das políticas na vida acadêmica
A presença de estudantes negros na UFMA é mais do que uma conquista quantitativa; é um reflexo de uma mudança estrutural. Para a mestranda Camila Silva Lima, do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (PGCULT), o racismo ainda se manifesta de forma sutil, mas as ações afirmativas têm sido um importante contraponto.
“As redes sociais reproduzem padrões racistas por meio de algoritmos que perpetuam estereótipos sobre a população negra. Isso se reflete também no ambiente acadêmico, onde o enfrentamento ao racismo precisa ser constante”, afirmou Camila.
Currículos e epistemologias negras
Outro desafio destacado é a inclusão do debate sobre racismo estrutural e história da população negra nos currículos acadêmicos. Segundo o professor Acildo, ainda há poucas disciplinas voltadas para essa temática nos cursos de graduação.
“No dia 12 de novembro deste ano, tivemos um marco histórico no curso de Licenciatura em Química, com o início das aulas na disciplina Fundamentos e Metodologia para Educação e Relações Étnico-Raciais. É o primeiro currículo da UFMA a incluir um componente específico para essa discussão. Ainda temos um longo caminho para redesenhar as matrizes curriculares e incorporar saberes sobre a população negra, quilombola e indígena”, pontuou.
Vale ressaltar que a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) foi a primeira instituição pública a inserir no seu quadro de formação o curso de Licenciatura em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros, além do programa de pós-graduação.
Fortalecendo parcerias e ampliando o impacto
Além de atuar dentro da Universidade, a UFMA busca parcerias externas para fortalecer suas políticas de diversidade. Entre as iniciativas em andamento, destacam-se colaborações com o Conselho Estadual da Política de Igualdade Étnico-Racial (Ceirma), o Centro de Cultura Negra (CCN) e o Conselho Estadual dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+.
“É essencial que a UFMA esteja aberta ao diálogo com instituições públicas e movimentos sociais, culturais e religiosos negros e quilombolas do Maranhão. Esse diálogo fortalece a presença da diversidade na Universidade e amplia o alcance das ações afirmativas”, frisou o diretor Acildo.
O Dia da Consciência Negra e o papel da UFMA
A celebração do Dia da Consciência Negra na UFMA vai além de eventos pontuais. Para o diretor da DIDAAF, a data é um marco de resistência e reparação histórica. “A Universidade tem que ser todos os dias vigilante quanto à valorização da consciência negra e da luta antirracista. Eventos como o Dia da Consciência Negra são ações de reflexão e reparação, mas precisamos avançar para garantir um ambiente realmente antirracista”, afirmou.
O professor também destacou o legado de Zumbi dos Palmares, símbolo de luta pela liberdade e pela dignidade da população negra no Brasil. “Neste dia, relembramos a lição de Zumbi: ‘Nascer negro é consequência, ser negro é consciência’. É um momento de reafirmar nossa resistência e consciência de negritude”, finalizou.
A UFMA, por meio da DIDAAF e de suas ações afirmativas, reafirma o compromisso com a inclusão e a equidade racial, celebrando as conquistas alcançadas e reconhecendo os desafios que ainda precisam ser enfrentados.
Por: Geovanna Selma
Produção: Sarah Dantas
Revisão: Jáder Cavalcante