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UFMA apresenta os avanços das pesquisas sobre as restingas maranhenses e revela urgência em ampliar estudos
Restingas são formações vegetais costeiras, típicas de solos arenosos que abrigam uma biodiversidade rica e desempenham funções ecológicas importantes, como a proteção da costa e o fornecimento de recursos para a fauna e a comunidade local, entretanto é um dos ecossistemas mais ameaçados do país. O Maranhão, mesmo com um extenso litoral, ainda não conhece cientificamente toda a flora de restinga. É o que revela a pesquisa apresentada pelo pesquisador da UFMA, Eduardo Bezerra, no Congresso Nacional de Botânica.
Com estudos relevantes voltados à conservação ambiental, incluindo estudos sobre as restingas maranhenses, o docente apresentou a pesquisa “Restingas Maranhenses Ameaçadas: avanços e perspectivas sobre a flora de uma região ecotonal”, que integra os trabalhos do grupo de pesquisa do CNPq Biodiversidade Vegetal em Ecossistemas de Transição do Maranhão. O estudo apresentado é resultado direto do projeto desenvolvido pela aluna Rhuanda Barbosa, cujo objetivo foi atualizar a listagem da flora litorânea do Maranhão para fornecer dados mais consistentes sobre a vegetação de restinga e apoiar estratégias de conservação.
Eduardo Almeida reflete sobre a importância da pesquisa para evitar que essa vegetação desapareça: “Essas pesquisas são de extrema importância porque ajudam a compreender e evidenciar os impactos que as atividades humanas vêm causando sobre ecossistemas como as restingas. Apesar da grande riqueza da flora, ele tem sofrido intensa degradação resultante da ação do homem, principalmente, em função da expansão urbana desordenada, do turismo predatório, das queimadas, do desmatamento, da especulação imobiliária e de práticas agropecuárias inadequadas. Esses fatores têm levado à rápida redução da vegetação nativa e à fragmentação dos habitats, o que compromete a dinâmica ecológica e coloca em risco a sobrevivência de diversas espécies”.
Números da pesquisa
Em 2017, um levantamento liderado por Eduardo mostrou que o Maranhão tinha cerca de quatrocentas espécies registradas para as áreas de restinga. Após cinco anos de investigações, a listagem mais recente, realizada por Rhuanda Barbosa, identificou 736 espécies vegetais distribuídas em parte do litoral maranhense. Segundo o docente, o crescimento numérico representa um avanço importante, mas ainda insuficiente diante da extensão do litoral estadual.
“Ao longo dos anos, as pesquisas realizadas mostraram um certo avanço no mapeamento da biodiversidade local; mas ainda não suficiente para contemplar o litoral do estado. Conseguimos uma listagem com cerca de 736 espécies vegetais para as áreas de restinga do Maranhão; número muito inferior se se comparar com a extensão do litoral do estado. Apesar desse aumento, em relação a 2017, poucas áreas foram estudadas”, salienta Eduardo.

Segundo os dados da pesquisa, dos 33 municípios litorâneos do Maranhão (IBGE), apenas onze contam com registros de estudos sobre a flora de restinga: Alcântara, Guimarães, Cururupu, Paço do Lumiar, Raposa, São José de Ribamar, São Luís, Barreirinhas, Paulino Neves, Tutoia e Araioses. “Isso significa que menos da metade da faixa costeira maranhense é conhecida cientificamente em relação à sua vegetação”, pontua o docente.
Contribuições e próximos passos da pesquisa
Os dados apresentados são fundamentais para direcionar estratégias de conservação da biodiversidade, elaboração de políticas públicas de manejo sustentável e implementação de ações de monitoramento que garantam maior proteção aos ambientes de restinga.
“Com base nos resultados encontrados, tem-se a urgência em realizar ações concretas para a conservação desse ecossistema, como o fortalecimento das Unidades de Conservação; a formulação de políticas públicas voltadas ao manejo sustentável; o reforço na fiscalização ambiental; e, principalmente, o incentivo à educação ambiental, porque a colaboração de cada pessoa é importante para tentar proteger essas áreas de Restinga. Dessa forma, esperamos que projetos de manejo e/ou monitoramento sejam realizados para que se tenha um melhor acompanhamento das espécies vegetais já registradas”, enumera Eduardo.
O pesquisador destaca o caráter estratégico da pesquisa para o estado: “para o Maranhão, os dados são estratégicos, pois alertam sobre o estado de ameaça dessa vegetação diante do acelerado processo de destruição. Esses dados também podem contribuir para embasar políticas públicas mais eficazes, pois, ao levar esse debate a um evento de abrangência nacional, reforçamos a importância das espécies vegetais das restingas maranhenses, incentivando parcerias, novos estudos e ações de conservação”.
O trabalho de levantamento segue em andamento para catalogar espécies ameaçadas de extinção, plantas nativas e espécies exóticas. A finalização da pesquisa resultará em uma publicação que deverá se tornar referência para novos estudos sobre a flora do litoral maranhense, estimulando a expansão de análises florísticas e taxonômicas.
Com dados atualizados e inéditos, a pesquisa, coordenada por Eduardo Almeida e conduzida pela discente Rhuanda Barbosa, fortalece a posição da UFMA como referência nacional em estudos de botânica e conservação, contribuindo para que o litoral maranhense ganhe maior visibilidade e atenção em ações de preservação ambiental.
Por: Ingrid Trindade
Fotos: arquivo pessoal
Revisão: Jáder Cavalcante