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UFMA abre programação internacional que une Brasil, Angola, Peru e República Dominicana em debates antirracistas
Mesa de abertura do VI Seminário Internacional Caminhos Amefricanos. Foto: Ingrid Trindade/DCOM
A Universidade Federal do Maranhão iniciou, nesta segunda-feira, 24, a programação conjunta do VI Seminário Internacional Caminhos Amefricanos, do VII Colóquio Internacional de Políticas Antirracistas no Mundo, da XIII Semana Interdisciplinar em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros e do I Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros (PPGAFRO). Os eventos, que integram o Programa Caminhos Amefricanos – Edição Brasil, seguem até o dia 28 de novembro no Auditório Setorial do Centro de Ciências Humanas (CCH) e no Auditório Sérgio Ferretti, na UFMA.
Promovida pelo Núcleo Interdisciplinar em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros (Niesafro), pela Licenciatura em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros (Liesafro) e pelo PPGAFRO, a iniciativa reúne docentes, estudantes e comitivas internacionais de Angola, Peru e República Dominicana, fortalecendo o intercâmbio acadêmico e cultural entre países do Sul Global. A programação conta com conferências, mesas-redondas, oficinas, atividades de extensão e visitas institucionais.
A abertura foi marcada pelo Ato Solene de Recepção das delegações estrangeiras e pela Conferência Inaugural “Intelectualidade Negra, Pesquisa Científica e Saberes Emancipatórios”, ministrada pela professora Maria de Lourdes Siqueira, referência nacional nos estudos sobre intelectualidade negra e epistemologias afro-brasileiras.
Conferência Inaugural ministrada pela professora Maria de Lourdes Siqueira. Foto: Ingrid Trindade/DCOM
Representando o reitor Fernando Carvalho, a pró-reitora da Agência de Inovação, Empreendedorismo, Pesquisa, Pós-Graduação e Internacionalização (AGEUFMA), Flávia Nascimento, destacou o papel estratégico da UFMA nas parcerias internacionais e na promoção do debate racial contemporâneo.
“O Intercâmbio Caminhos Africanos começou ano passado como uma iniciativa entre o Ministério da Igualdade Racial e a UFMA, com parcerias que dialogam com a história africana e a diáspora afro-brasileira. Quando essas comitivas vêm ao Maranhão, chegam a um dos estados mais negros da federação e que reúne o maior número de comunidades quilombolas. É um espaço privilegiado para conhecer essa cultura e fortalecer pesquisas e a internacionalização da universidade. Para a UFMA, essa troca representa um ganho enorme, pois possibilita aprender com outras culturas, acolher estudantes estrangeiros e consolidar parcerias Sul-Sul”, afirmou.
A iniciativa está alinhada ao Acordo de Cooperação Técnica firmado com o Ministério da Igualdade Racial (MIR), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Este acordo prevê intercâmbios acadêmicos, formação de redes de pesquisa e ações voltadas ao fortalecimento da educação antirracista.
O evento também proporciona espaços de diálogo entre estudantes, docentes estrangeiros e a comunidade acadêmica da UFMA. Para Gomes Baptista, estudante de História da Universidade Agostinho Neto, em Angola, a experiência amplia horizontes e reforça laços históricos entre os países participantes. “A experiência está sendo muito boa. Esperamos que seja muito proveitosa e que possamos sair daqui com muitas informações, além de compartilhar aquilo que trouxemos da África. A história é muito mais vasta do que estudamos lá, e queremos complementar esse conhecimento aqui”, pontuou.
Segundo ele, participar do programa reforça o compromisso com a formação e com o fortalecimento de parcerias internacionais: “Percebemos que há um conjunto de acontecimentos históricos que nos une, e existe a necessidade de desenvolvermos mais o mundo por meio dessas conexões”, complementou.
O professor e diretor do Museu Nacional Afroperuano, Ricardo Aguilar, que visita o Brasil pela primeira vez, destacou a dimensão cultural e histórica das trocas promovidas pelo Programa Caminhos Amefricanos. “Estou muito contente de estar aqui no Maranhão. Nossa mais forte conexão com o Brasil é compreender o povo afro-brasileiro, sua cultura e sua história. Essa é uma experiência significativa para conhecer essa identidade”, disse.
Ele ressaltou ainda que levará para o Peru novos aprendizados sobre música, cultura e a atuação de pesquisadores dedicados à memória africana no continente americano. “A maior conexão é a história dos povos africanos em nossos países, e isso une fortemente nossas trajetórias”, afirmou.
A professora Kátia Regis, docente da Liesafro e atual coordenadora-geral de Justiça Racial e Combate ao Racismo do MIR, enfatizou que o programa tem impacto direto na formação acadêmica e na implementação da Lei 10.639/2003. “Os intercâmbios levam estudantes e docentes para vivências em países parceiros e, neste momento, recebemos delegações de Angola, Peru e República Dominicana. Estamos debatendo possibilidades de construção compartilhada do conhecimento e visitando espaços importantes da história afro-maranhense”, explicou.
Ela destacou ainda que as edições anteriores já resultaram em redes sólidas de colaboração. “Observamos que estudantes egressos do programa fortalecem o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em suas instituições. Estamos construindo conhecimento antirracista em diálogo direto com países do Sul Global”, declarou.
Para a professora Cidinalva Câmara, coordenadora do Niesafro e coordenadora geral de Implementação do Programa Caminhos Amefricanos, os quatro eventos representam a consolidação de uma agenda internacional contínua. “Estamos iniciando quatro eventos acadêmicos que integram o Intercâmbio Caminhos Afro-Africanos. Nesta primeira semana, realizamos atividades acadêmicas que discutem questões relacionadas às populações africanas e afrodiaspóricas nos países participantes e no Brasil. A programação reúne licenciatura, pós-graduação e pesquisa, reforçando o compromisso da UFMA com a construção de saberes críticos e com o fortalecimento das relações entre Brasil, Angola, Peru e República Dominicana”, destacou.
Apresentação do grupo de capoeira Mandingueiros do Amanhã. Foto: Ingrid Trindade/DCOM
Os quatro eventos reafirmam a centralidade do povo negro como protagonista de sua própria história, fortalecendo a produção de conhecimento que valoriza as ancestralidades, as lutas e as contribuições africanas e afrodiaspóricas no Brasil e no mundo. A programação evidencia que a construção de uma educação antirracista só é possível quando aqueles que historicamente tiveram suas vozes silenciadas assumem o lugar de sujeitos ativos na formulação de saberes.
A iniciativa consolida a UFMA como um polo de referência no incentivo à justiça racial, demonstrando que o intercâmbio de experiências e a cooperação internacional são caminhos essenciais para fortalecer políticas de igualdade racial e ampliar o alcance das narrativas negras em perspectiva global.
Por: Geovanna Selma
Fotos: Ingrid Trindade
