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Tradicional produção de cerâmica na Comunidade Quilombola de Itamatatiua será contada no Museu de Alcântara (Musa)
Na comunidade quilombola de Itamatatiua, a cerca de 60 km do município de Alcântara, a arte da cerâmica se mantém viva por meio de gerações há muitos anos. A produção de cerâmica não é apenas uma fonte de renda para os moradores, mas também um elo que conecta a comunidade e suas gerações.
O Centro de Produção de Cerâmica de Itamatatiua é uma parte essencial da história de Alcântara, que será narrada no Museu de Alcântara (Musa) por meio do projeto "Alcântara: Dos Dinossauros à Era Espacial". O projeto é desenvolvido pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) em colaboração com o Musa e a Fundação Sousândrade. Objetos de cerâmica produzidos no centro serão exibidos no museu, com o objetivo de ilustrar o desenvolvimento de Alcântara por meio de seu artesanato, cultura, tradição e inovação.
Processo de Produção de Cerâmica em Itamatatiua
O processo de produção da cerâmica em Itamatatiua é detalhado e meticuloso, começando com o barro bruto, essencial para a fabricação. O barro, que vem de um povoado próximo, é armazenado e mantido úmido em tanques para garantir a qualidade. Posteriormente, é colocado de molho e amassado até atingir a consistência ideal para a modelagem.
Antes da introdução da maromba, uma máquina que facilita o amassamento do barro, o processo era realizado manualmente, com os artesãos pisando no material. Após passar pela maromba, o barro está apto para ser modelado. Nesse estágio, a massa é passada na areia para adquirir a consistência necessária para a criação das peças.
A modelagem é uma etapa crucial, em que o barro começa a tomar forma. As peças são moldadas cuidadosamente e, em seguida, passam pelo processo de raspagem e lixamento para garantir um acabamento suave. Cada peça reflete o cuidado e a habilidade dos artesãos da comunidade.
Os produtos finais ficam disponíveis para venda na própria comunidade e em grandes eventos, como a Festa do Divino, realizada anualmente em Alcântara.
A História e a Tradição
Neide de Jesus Silva, de 76 anos de idade, é uma das figuras centrais na preservação dessa tradição. Aos 12 anos, começou a produzir cerâmica e foi uma das fundadoras da associação de ceramistas de Itamatatiua. Para Dona Neide, a cerâmica representa muito mais do que um meio de vida. "Na minha vida, representa muita coisa", afirma ela, destacando a importância cultural e pessoal dessa arte.
No passado, a produção de cerâmica envolvia quase toda a comunidade, com 16 fornos em funcionamento. Com o tempo, esse número diminuiu para apenas um forno comunitário, refletindo a resistência dos moradores.
“Antigamente, cada um trabalhava em suas próprias casas; quase todo mundo tinha seu próprio forno. Decidimos nos organizar para juntar e fazer [a cerâmica] todos juntos. Começamos em uma casa de palha, onde hoje é a casa do forno. Quando chovia, molhava todo mundo. Então, o governo construiu o centro para nós, e todos nos mudamos para cá. Era da cerâmica e das roças que a gente sobrevivia”, relembra dona Neide.
Para a grande maioria dos moradores, o a artesanato era fonte de renda. “Foi desse artesanato que eu criei meus filhos. Todo mês eu fazia uma fornada. Eu ainda trabalho aqui, eu quem faço as peças grandes para festas grandes, como a festa do Divino”, destaca a fundadora do Centro de Produção de Cerâmica de Itamatatiua, Dona Neide.
Apesar dos desafios enfrentados, como a redução no número de fornos, a comunidade de Itamatatiua continua a produzir cerâmica com a mesma dedicação de seus antepassados. A tradição é passada de geração para geração, garantindo que a arte não se perca no tempo.
A cerâmica de Itamatatiua é mais do que um produto artesanal; é uma manifestação da cultura quilombola, um símbolo de resistência e identidade. Cada peça produzida carrega consigo a história, a habilidade e a paixão dos artesãos dessa comunidade, mantendo viva uma tradição que é orgulho e sustento para muitos.
Projeto Alcântara: Dos Dinossauros À Era Espacial
A Universidade Federal do Maranhão (UFMA), por meio da Pró-reitoria de Extensão e Cultura (Proec), em parceria com o Museu de Alcântara (Musa) e com a Fundação Sousândrade, promove o Projeto Alcântara: dos Dinossauros à Era Espacial, que tem por objetivo desenvolver a concepção narrativa e visual do museu, proporcionando uma experiência expositiva única e interativa.
Com a colaboração de especialistas em história, arqueologia, paleontologia, arquitetura e povos originários, o projeto consiste em uma exposição que conta parte da ocupação do território de Alcântara, contemplando as singularidades do patrimônio histórico, cultural e arquitetônico local. A exibição terá por base uma linha do tempo, fazendo um verdadeiro passeio na história, trazendo detalhes de descobertas paleontológicas no espaço que hoje compreende o território municipal, o modo de vida e as tradições de povos originários e quilombolas, além de aspectos contemporâneos da comunidade alcantarense, sobretudo em relação à base espacial instalada na área.
A exposição será composta por uma variedade de mídias e recursos expositivos, que incluem maquetes de dinossauros, artefatos históricos, modelos em escala, vídeos educativos e simulações interativas. Esses elementos foram criteriosamente selecionados para proporcionar uma experiência imersiva e educativa aos visitantes, permitindo que explorem e compreendam de forma abrangente e integrada a história de Alcântara.
Por: Sarah Dantas
Fotos: Karla Costa
Revisão: Jáder Cavalcante