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Trabalho de egresso do curso de Estudos Africanos propõe diálogo sobre questões étnico-raciais por meio da capoeira
Dança, ginga, música, esporte e arte: esses são alguns dos elementos pela qual a capoeira é vista em sua interdisciplinaridade, uma manifestação cultural afro-brasileira trazida pelos negros africanos e presente até hoje no Brasil. Como uma forma de valorizar essa herança, o egresso do curso de Licenciatura em Estudos Africanos e Afro-brasileiros, Cristian Lopes, realizou um projeto de “Expressões Contemporâneas em Dança”, como parte do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), com o intuito de criar cenas baseadas em cantigas, sons e movimentos corporais da capoeira e apresentá-las como fonte historiográfica e de valorização da identidade étnico-racial.
Cristian Lopes conta que a ideia juntou duas paixões: a arte, que conheceu por meio do grupo Casemiro Coco da UFMA, e a capoeira. Segundo o discente, o TCC foi ganhando forma com as oficinas ministradas durante a licenciatura. “A ideia do projeto teve início a partir de uma oficina que eu desenvolvia em escolas de ensino fundamental e médio, depois fui adaptando, pegando forma e se tornando esse trabalho”, explicou.
A apresentação inicia a partir da música “Quando eu venho de Luanda”, do Mestre Toni Vargas. Além de poética, a letra destaca um dos maiores lugares de concentração do tráfico de escravizados, o porto de Luanda. Fazendo essas conexões, a performance pedagógica teve como proposta compreender essa diáspora africana, sua história e inserir a capoeira como símbolo de resistência. “Por meio de algumas músicas de capoeira e alguns fundamentos e simbologias, procuramos associar casos ocorridos com a população negra no passado trazendo aos dias atuais”, relatou.
Projetos como o de Cristian estão alinhados a políticas públicas definidas desde 2003, por meio da Lei nº 10.639, que visa fomentar a inclusão da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo escolar. “O projeto em forma de espetáculo foi idealizado como proposta de intervenção, podendo ser encenada em espaços educativos formais e não formais, no intuito de instigar o diálogo sobre as questões étnico-raciais e desfazer alguns preconceitos nesses espaços, trazendo à tona temas e informações importantes”, explicou.
Para Cristian, um dos melhores momentos da performance é a representação do símbolo da justiça. “Posiciono o berimbau na mão como se fosse uma balança com pesos diferentes e a baguete em outra mão como se fosse uma espada. Depois tiro a venda dos olhos e coloco no pescoço, se tornando um lenço de seda, assim como faziam os antigos capoeiras. E, ao final, convidamos as pessoas a pegar alguns instrumentos para colaborar com uma música de capoeira”, destacou.
A capoeira passa pela vida de Cristian há anos. Ele é um dos colaboradores e capoeiristas do grupo de capoeira Mandingueiros do Amanhã. Mesmo sendo um TCC, o agora egresso não limita a apresentação e pontua que pretende levar esses símbolos para outros espaços, expor e dar mais visibilidade à performance artística.
Saiba +
Em 2014, a capoeira foi declarada patrimônio imaterial da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), durante a 9ª Sessão do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda, realizada em Paris.
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a capoeira é uma manifestação cultural presente em todo o território brasileiro e em mais de 150 países, com variações regionais e locais. Ela representa a resistência dos escravizados e se desenvolveu como forma de sociabilidade e estratégia para enfrentar o controle e a violência.
Na roda de capoeira, os principais instrumentos utilizados são o berimbau, o pandeiro, o atabaque, o ganzá ou reco-reco e o agogô podendo variar dependendo das tradições do grupo de capoeira ou do estilo de roda.
Por: Alan Veras
Revisão: Jáder Cavalcante