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Dia Internacional do Orgulho LGBT

Ritmos de orgulho: pesquisa da UFMA analisa cenário musical LGBTQIA+ em São Luís

publicado: 27/06/2025 09h00, última modificação: 27/06/2025 12h22
Ritmos de orgulho: pesquisa da UFMA analisa cenário musical LGBTQIA+ em São Luís

Espaço de representatividade, políticas de acesso e permanência, produção científica e extensão universitária. O Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, celebrado nesse sábado, 28 de junho, reforça não apenas a luta histórica por igualdade e respeito, mas também amplia os debates por uma educação mais inclusiva, fortalecendo as instituições de ensino como espaço de pluralidade e transformação social.

Na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o compromisso com a população LGBT+ se reflete em diferentes frentes: ações institucionais, projetos de pesquisa, iniciativas de assistência e políticas de acesso e a permanência no ensino superior.

“Cena musical LGBTQIA+ ludovicense: proposta de análise cultural”, pesquisa desenvolvida no Departamento de Comunicação Social do Centro de Ciências Sociais (CCSO), sob coordenação do professor Márcio Monteiro, reflete os múltiplos projetos acadêmicos desenvolvidos na Universidade.

A pesquisa do professor Márcio Monteiro tem por objetivo principal realizar uma análise cultural da cena musical LGBTQIA+ em São Luís, articulando aspectos como produção, consumo, representação, regulação e identidade, com base no circuito da cultura proposto pelos estudos culturais contemporâneos.

Segundo o professor, a motivação para o estudo surgiu em decorrência da própria vivência em festas da cena local e da percepção de que havia uma crescente profissionalização do setor. “As produtoras, marcas e prestadores de serviço estavam criando conexões cada vez mais formais. Como a relação entre cultura e economia sempre fez parte dos meus interesses de pesquisa, eu quis iniciar uma investigação da cena formada por pessoas LGBTQIA+ a partir do que está no centro do conceito de cena musical, ou seja, a cadeia produtiva da música como elo de atividades que são, ao mesmo tempo, sociais e culturais e se destinam, nesse caso, a uma comunidade local bastante diversa”, explica.

Para o professor Márcio Monteiro, o Dia do Orgulho LGBTQIA+ tem um significado que vai além da celebração. “Essa data é, além de uma grande celebração da comunidade LGBTQIA+, uma oportunidade de propor um debate com a sociedade sobre um grupo de pessoas cujos direitos e até mesmo a existência estão em risco por causa do preconceito e da intolerância, como se não pudéssemos ser quem somos. De uma certa forma, os eventos da cena musical compartilham desses objetivos: também são um momento de festa, de celebração, de ser e de expressar quem se é, mas que têm uma dimensão política e social para a qual os membros da comunidade estão cada vez mais atentos”, declara.

A cena musical LGBTQIA+ de São Luís vai além do entretenimento. Ela constitui também um espaço simbólico de afirmação identitária e resistência política, sobretudo, diante de contextos de exclusão e violência. “Os eventos ligados a essa cena são, em primeiro lugar, momentos em que pessoas LGBTQIA+ podem ser quem são, podem se expressar abertamente, por meio das suas vestimentas, do canto e da dança, mas também das conversas, dos abraços e dos beijos, seu pertencimento a um grupo tão diverso. Para muitas pessoas, porém, por causa do preconceito e da intolerância que ainda fazem tantas vítimas país afora, esses eventos representam uma espécie de oásis numa travessia marcada por tantas formas de violência física e simbólica”, afirma o pesquisador.

A metodologia adotada articula teoria e prática com base no circuito da cultura, estrutura que permite analisar os diversos momentos da cadeia cultural: da produção à regulação. A atuação dos DJs nas festas, por exemplo, é observada como uma prática que envolve criatividade, consumo cultural e representação identitária. Além disso, práticas como a organização de festas temáticas e o uso estratégico das redes sociais pelas produtoras revelam a ocupação simbólica e material do espaço urbano de forma marcante. Um exemplo citado pelo professor Márcio é a festa de Halloween da produtora Vem Pro Rolê, que cresce a cada edição, mobilizando marcas, serviços e público com ampla antecedência.

O estudo também investiga os obstáculos enfrentados pelos artistas locais na produção musical autoral. O professor Márcio aponta que, apesar de existirem artistas com projetos autorais, como DJs e cantoras, a predominância dos hits nacionais e internacionais nas pistas ainda é notável. A falta de políticas públicas que financiem e incentivem a produção musical local é um dos fatores que contribuem para essa realidade.

Do ponto de vista da economia criativa, a cena musical LGBTQIA+ ludovicense desponta como um campo em crescimento. “As relações dentro da cena estão cada vez mais formais, superando acordos verbais que, no passado, geravam muitos problemas e eram um sintoma forte de amadorismo. Isso é fundamental para o desenvolvimento de um setor realmente forte, que garanta que cada prestador de serviço e cada artista receba remuneração pela sua atuação na cena. Essa é, aliás, uma das consequências da formação de uma cena: a articulação entre os atores favorece o amadurecimento coletivo”, analisa o professor.

Além das ações de campo e produção acadêmica, a pesquisa já rendeu apresentações em eventos científicos e tem inspirado novos trabalhos. “A pesquisa já resultou em artigos, resumos e uma monografia. Está em pré-produção um documentário que aborda um grupo específico que compõe a cena musical local, além de mais uma monografia, apresentando o resultado de um levantamento on-line que realizamos cujos respondentes foram os frequentadores dos eventos”, adianta o pesquisador.

O projeto dialoga com os compromissos institucionais da Universidade no que se refere à promoção da diversidade e da inclusão. A Universidade tem um papel fundamental ao apoiar e dar visibilidade a esse tipo de produção científica, que é também uma forma de atuação política e social. Com previsão de conclusão para julho de 2025, a pesquisa reforça o papel das universidades públicas na valorização das expressões culturais das comunidades LGBTQIA+ e no fortalecimento de espaços de acolhimento, liberdade e criação.

Por: Geovanna Selma

Produção: Sarah Dantas

Revisão: Jáder Cavalcante

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