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Entrevista: professor Ramon Bezerra, do curso de Comunicação Social, fala sobre aspectos de livro de sua autoria “Economia da Confiança”
Em tempos de pandemia, a economia da confiança se tornou ainda mais necessária, auxiliando diversas famílias a se manterem no contexto atual. Mas o que é essa prática? Para abordar o assunto, o professor do Departamento de Comunicação Social e líder do Grupo de Pesquisa Comunicação, Tecnologia e Economia (ETC) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Ramon Bezerra Costa, lançou, em 2018, o livro “Economia da Confiança: comunicação, tecnologia e vinculação social”. A obra é um relato otimista, mas ao mesmo tempo crítico, sobre as mudanças nas dimensões econômicas, culturais e sociais que têm sido impulsionadas pelas tecnologias digitais de comunicação nos últimos anos.
Em entrevista concedida à Diretoria de Comunicação (DCom) da Superintendência de Comunicação e Eventos (SCE) da UFMA, o professor Ramon Bezerra falou sobre o processo de desenvolvimento do livro e outros detalhes.
DCom: Primeiramente, o que é economia da confiança?
Ramon Bezerra: A economia da confiança diz respeito a um modo de funcionamento no qual iniciativas, visando a lucro ou não, conectam pares desconhecidos para realizarem transações. Sendo mais específico, a economia da confiança pode ser entendida como um processo de produção, circulação e consumo de bens e serviços que acontece baseado em três eixos: a dinâmica entre pares, que trata do modo de funcionamento; a confiança entre desconhecidos, que funciona como reguladora do processo; e a abundância de recursos, que desempenha o papel de premissa que orienta as ações.
DCom: Como foi o processo de criação do livro?
RB: O livro foi uma adaptação da minha tese de doutorado. Foram quatro anos de pesquisa para chegar a esse conceito de “Economia da Confiança”. O livro foi publicado pela Editora Appris no final de 2018 e lançado em São Luís em fevereiro de 2019.
DCom: Quais resultados foram obtidos após a publicação do livro?
RB: O conceito ganhou mais visibilidade. Entre 2013 e 2017, fiz uma pesquisa que gerou o conceito "economia da confiança". Entre 2017 e 2019, a pesquisa buscou validar esse conceito con base na análise de quase 300 iniciativas do mundo todo. Minha pesquisa atual quer descobrir os potenciais dos modelos de negócios para a economia da confiança em São Luís, e, até o ano que vem, será finalizado esse programa de pesquisa. Nessa última etapa, pretendo mostrar a aplicabilidade da economia da confiança, assim ela deixa de ser um conceito teórico e vira um conceito operacional.
DCom: Quais as possíveis modificações que aconteceram com a economia da confiança durante a pandemia?
RB: Durante a pandemia, observei, ainda que, de forma não sistemática, a conexão entre pares precisou ser intensificada por conta do distanciamento social. Nosso consumo, por exemplo, parece que aumentou por meio de compras em plataformas on-line, como WhatsApp e Instagram, o que evidencia as interações entre pares e a emergência de pessoas que estão empreendendo, por necessidade ou oportunidade.
Assim, temos adquirido mais produtos e serviços de desconhecidos, segundo eixo, o que faz com que mais pessoas se dediquem a atividades que não são exatamente sua profissão, por exemplo: uma pessoa é jornalista, trabalha seis horas por dia em uma assessoria e no restante do dia faz doces e vende pelo grupo do WhatsApp do seu condomínio e pelo Instagram. Isso não significa que o fenômeno seja bom ou ruim, não podemos esquecer a alta no desemprego e a precarização das relações de trabalho, mas indica mudanças na sociedade que podem ser lidas por meio dam “chave” da economia da confiança.
Saiba mais
Dividido em quatro capítulos, o livro “Economia da Confiança: comunicação, tecnologia e vinculação social” começa descrevendo a economia da confiança com base em diversos exemplos e histórias, em que, entre as práticas abordadas, estão os coworkings e o financiamento coletivo (crowdfunding). O segundo capítulo foca em como as tecnologias digitais de comunicação alteraram as formas de acesso aos bens e serviços. Em seguida, é enfatizado o papel da confiança nas relações sociais e como a forma de acreditarmos uns nos outros têm mudado. O último capítulo questiona a ideia, muito difundida na economia, de que existe escassez de recursos, para propor que, na verdade, existe abundância, tudo depende de como os recursos são geridos e acessados.
Além disso, o grupo de pesquisa ETC está realizando o questionário “Empreendedorismo e inovação em modelos de negócios de São Luís”. O objetivo é identificar a opinião de diferentes públicos sobre sua percepção do cenário empreendedor de São Luís-MA e a viabilidade de empreendimentos baseados nas dinâmicas da economia da confiança.
Por: Talita Farias
Produção: Laís Costa
Revisão: Jáder Cavalcante