Projeto de extensão da UFMA realiza pesquisa sobre os Saberes Griôs na comunidade quilombola Vila das Almas

A ancestralidade, os saberes tradicionais e como são reproduzidos ao longo das gerações na comunidade quilombola Vila das Almas, em Brejo, no Maranhão, são objetos de estudo do Projeto de Extensão Saberes Griôs, Literatura, Formação de Professores e Tecnologias Educacionais, vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Meio Ambiente, Desenvolvimento e Cultura (Gepemadec) e coordenado pelo professor Josenildo Brussio, do Centro de Ciências de São Bernardo, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). O projeto tem como objetivo investigar os segmentos estruturais por meio dos saberes griôs, por meio da memória coletiva dos moradores, o imaginário e as representações simbólicas destes elementos culturais presentes nas práticas sociais, políticas e culturais cotidianas da comunidade.

Na cultura africana, o griô é um indivíduo capaz de difundir um tipo de saber por meio da conversa, os quais podem ser um poeta, historiador, cantor ou contador de história. Nesse caso, os griôs representam para história da comunidade Vila das Almas a transmissão do saber, a contribuição para continuidade das tradições nas atividades agrícolas (agricultura familiar, principalmente), extrativistas (babaçu, buriti, tucum), artesanais (tecelagem, doces, farinhas) e atividades culturais (festejos, danças, apresentações culturais), que garantem a memória e ancestralidade cultural.

Para o professor Josenildo, que coordena o projeto de extensão, a transmissão dos costumes locais por meio dos saberes griôs é de grande importância para a comunidade Vila das Almas. “Foi muito importante percebermos que eles já desenvolvem um tambor mirim na comunidade, eles desenvolvem um trabalho já com a criançada, nessa preocupação da transmissão dos saberes griôs por meio da ancestralidade para gerações futuras. E aí a garotada toda se envolve no tambor de criola, o tambor mirim, o bumba-meu-boi, tem a quadrilha, a capoeira, o maculelê como atividades culturais mais importantes da comunidade”, pontuou o coordenador.

Saberes griôs na educação

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Maranhão tem a segunda maior população quilombola do país e cerca de 80% é composta por pessoas negras. Atualmente, há registro de mais de 2.300 escolas quilombolas no Brasil, para atender cerca de cinco mil comunidades quilombolas, segundo dados do Governo Federal.

O projeto “Saberes Griôs, Literatura, Formação de Professores e Tecnologias Educacionais” se debruça sobre a questão da educação escolar em territórios quilombolas. Entendendo como estão sendo oferecidas o atendimento educacional e as formas didáticas dos professores sobre as atividades dos saberes griôs dentro das salas de aula nas comunidades quilombolas.

Nesse sentido, além das interações e atividades, o projeto, junto à comunidade, realizou uma oficina entre docentes e alunos, sobretudo do ensino médio, a fim de analisar os segmentos estruturais com a transmissão dos saberes griôs. “Então, nós realizamos uma oficina com os professores e alunos, da única escola que tem lá do ensino médio. E foi uma oficina muito interessante, em que a gente pôde fazer o levantamento desses segmentos culturais, ou seja, dos saberes griôs”, informou Josenildo.

Dessa forma, o projeto de extensão enfatiza a valorização da diversidade cultural dos povos negros e quilombolas na educação, principalmente na formação dos docentes do estado, com base nos saberes griôs, entendendo também a necessidade de obter inovações no sistema educacional para novas amplitudes epistemológicas no ensino e referenciais teóricos para os professores acerca de temas como a afrocentricidade, que resgatem os saberes griôs, como os saberes ancestrais e locais da comunidade Vila das Almas. 

Por: Camilla Fernanda

Fotos: arquivo