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Projeto de Extensão da UFMA é premiado com o 1° lugar do III Prêmio Anpocs de Extensão Universitária
No último dia 18 de outubro, o projeto de extensão 'Escola de Educação Popular no Corredor Carajás: Cidadania, Direitos Humanos e Direitos da Natureza', coordenado pelo professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Horácio Antunes, foi agraciado com o primeiro lugar no III Prêmio Anpocs – Extensão Universitária. Em uma cerimônia transmitida ao vivo no YouTube, o projeto foi reconhecido por sua atuação na defesa de direitos e promoção da cidadania entre os povos tradicionais que vivem no Maranhão, ao longo do corredor Carajás, e enfrentam pressões e impactos de empreendimentos industriais e minerários.
Esse projeto é desenvolvido pelo Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (Gedmma) da UFMA, em parceria com Associação Justiça nos Trilhos (JnT), e foi inicialmente concebido como 'Programa Grande Carajás, Cidadania, Direitos Humanos e Educação Ambiental', em 2014. A nova fase do projeto, agora denominada 'Escola de Educação Popular', reflete uma ampliação no compromisso de promover não só direitos humanos e ambientais, mas também de fortalecer os direitos humanos e ambientais.
Origens do projeto e transformações ao longo dos anos
O projeto nasceu de uma demanda concreta por formação política identificada durante o 'Seminário Internacional Carajás 30 anos: Resistências e mobilizações diante de projetos de desenvolvimento na Amazônia Oriental', realizado em São Luís, Maranhão, em maio de 2014. Esse seminário contou com a participação de diversos movimentos sociais e comunitários, além de grupos acadêmicos nacionais e internacionais. “Durante o evento, representantes das comunidades tradicionais do Corredor Carajás nos procuraram para expressar a necessidade de envolver as novas gerações nos processos de organização comunitária e resistência”, explica o professor Horácio. Foi então que o Gedmma e a JntT uniram esforços para a criação do curso de extensão sobre cidadania, direitos humanos e educação ambiental, que, desde 2014, já formou três turmas de jovens lideranças locais.
Em 2024, o projeto foi repensado para refletir seu compromisso crescente com uma educação que integra o conceito de direitos da natureza. "Percebemos que os desafios e as necessidades dessas comunidades exigiam que repensássemos o projeto para incluir uma abordagem mais ampla sobre a relação entre sociedade e natureza", acrescenta o professor. Hoje, o curso continua a ser oferecido de forma itinerante, em encontros bimestrais que ocorrem diretamente nas comunidades, promovendo um diálogo contínuo e colaborativo.
Resistência e cidadania no Corredor Carajás
O Corredor Carajás é um eixo de infraestrutura formado pelo sistema mina-ferrovia-porto de uma mineradora, que conecta as minas de Carajás, no Pará, ao porto de São Luís, no Maranhão. Esse sistema impulsionou um grande desenvolvimento industrial, mas trouxe também diversos problemas socioambientais para as comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas, de camponeses e assentados da reforma agrária ao longo do trajeto da Estrada de Ferro Carajás (EFC).
Para lidar com esses desafios, o projeto da UFMA tem como um de seus objetivos centrais a formação de novas lideranças comunitárias, incentivando os jovens a continuarem seus estudos e a se engajarem nos processos organizativos locais. "A resistência dessas comunidades se fortalece a partir do engajamento das novas gerações. Vários dos jovens que participaram das turmas iniciais do curso ingressaram no ensino superior e hoje continuam ativos nas suas comunidades", explica o professor Horácio.
Contudo manter o projeto tem sido um desafio. Com encontros bimestrais em regiões remotas, há uma necessidade constante de recursos para cobrir os custos de transporte e alimentação dos participantes. O projeto foi inicialmente financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema) e agora conta com o apoio de recursos de editais da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Justiça nos Trilhos.
Diálogo de saberes e construção coletiva do conhecimento
O método de ensino do projeto é fundamentado no diálogo de saberes, uma prática pedagógica baseada na obra do educador Paulo Freire, que privilegia a construção coletiva do currículo junto aos cursistas. Cada turma, no início do curso, participa da definição dos temas, datas e locais dos encontros. Essa abordagem permite que o conteúdo seja continuamente adaptado às realidades e interesses das comunidades.
"Uma das experiências mais significativas que tivemos com o diálogo de saberes foi a criação do livro 'Liberdade Caça Jeito: a história de todos na história de cada um', que surgiu com a primeira turma do curso", lembra o professor. Esse livro foi inteiramente escrito pelos cursistas e inclui entrevistas, poemas e ilustrações produzidas por eles, resgatando a memória e os saberes locais.
A importância da parceria com a Justiça nos Trilhos
A colaboração com Justiça nos Trilhos é fundamental para a logística e a realização doa encontros. A JnT tem uma ampla rede de articulação com as comunidades e oferece apoio logístico e financeiro, possibilitando a realização de encontros mesmo em locais mais distantes. "A Justiça nos Trilhos é um aliado essencial; eles conhecem as necessidades e têm uma longa história de apoio aos movimentos sociais da região. Essa parceria fortalece o alcance do projeto e contribui para que as ações cheguem a mais comunidades", destaca Horácio.
Além disso, a parceria com a Capes e outras universidades, como a Universidade Federal Rio Grande do Sul (Ufrgs), também tem contribuído para ampliar a troca de experiências. A nova turma de 2024 contará com a participação de pesquisadores da UFRGS aumentando as oportunidades de intercâmbio e colaboração.
Reconhecimento nacional e expectativas para o futuro
O III Prêmio Anpocs - Extensão Universitária tem por objetivo reconhecer iniciativas de extensão universitária conduzidas pela comunidade de cientistas sociais. O prêmio foi recebido com entusiasmo pela equipe do projeto. "Esse reconhecimento é um incentivo para continuarmos. O fato de termos sido escolhidos de forma consensual entre os finalistas nos dá a certeza de que estamos no caminho certo", comenta o professor. O prêmio não só valida o trabalho realizado, como também amplia a visibilidade do projeto, podendo inspirar outras universidades a desenvolver iniciativas semelhantes.
A nova turma, prevista para começar em novembro de 2024 trará inovações como a maior participação de adultos e uma ampliação do diálogo entre gerações. "Estamos preparando uma nova turma com mais representatividade indígena e de outra faixas etárias. O envolvimento de adultos vai permitir um intercâmbio geracional, essencial para a continuidade das lutas por direitos e pela preservação dos modos de vida tradicionais", finaliza Horácio.
A Escola de Educação Popular no Corredor dos Carajás é uma resposta direta ás necessidades de formação de lideranças e de resistência das comunidades impactadas pelo modelo de desenvolvimento predatório da região. Com práticas educativas baseadas no respeito aos saberes locais e na construção coletiva, o projeto da UFMA reafirma a importância da Universidade em colaborar com a construção de uma sociedade mais justa com o meio ambiente.
Por: Geovanna Selma
Fotos: Divulgação
Revisão: Jáder Cavalcante