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Professores da UFMA ganham Prêmio Capes de Tese 2024
Docentes da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) foram reconhecidos no Prêmio Capes de Tese 2024. A professora do curso de Comunicação Sarah Fontenelle Santos foi uma das vencedoras da premiação, que distingue as melhores teses de doutorado defendidas em 2023. Já o professor Wagner Cabral da Costa, do Departamento de História, recebeu menção honrosa pela relevância de sua pesquisa.
Ao todo, 49 pesquisas foram premiadas nesta edição, que registrou um número recorde de participantes: mais de 1.600 inscrições. A lista definitiva dos ganhadores foi divulgada em 13 de setembro, marcando a 19ª edição do prêmio como uma das mais concorridas até o momento. Confira a lista dos vencedores aqui.
Os professores Sarah Fontenelle e Wagner Cabral compartilharam suas impressões sobre o reconhecimento recebido e os objetivos centrais de suas pesquisas, destacando a importância dos estudos desenvolvidos na UFMA para o avanço científico e acadêmico no país.
Comunicação Popular e Insurgente da Boa Esperança: entre território, memória e histórias de vida em "Lagoas do Norte para quem?"
Premiada pela Capes, a pesquisa de doutorado [acesse a tese aqui] da professora de Comunicação Sarah Fontenelle teve por objetivo analisar a comunicação popular junto aos saberes e às práticas dos atingidos do Programa Lagoas do Norte em defesa do direito à cidade, em Teresina, Piauí. Sarah apresentou análises quanto à elaboração da comunicação como ferramenta de pesquisa-ação na comunidade, envolvendo os elementos: informação, organização, educação popular e mobilização.
“Nosso objetivo inicial era cartografar todos os sinais, sons, rascunhos, desenhos, esboços e elaborações de comunicação e jornalismo que a comunidade desenvolvia como comunicação, a que chamamos de mapas dos afetos comunicativos. Lá encontramos uma riqueza de formas/conteúdos comunicacionais desde danças, boletins, informes, cartazes, pichações, grafitagens, redes sociais, documentários, apetrechos de museus, histórias. Desde a cartografia, compreendemos que as histórias de vida e as memórias eram a melhor e mais utilizada tática de comunicação para denunciar o sistema de opressão que violava o direito à cidade e à moradia dos moradores”.
Segundo a pesquisadora, o trabalho busca entender o território e produzir conhecimento comunicacional e jornalístico com base nas filosofias e nos modos de vida locais, com destaque para o Bem Viver e o Ubuntu.
“Os saberes ancestrais são o fio condutor de todo o processo, entre os quais destacamos as filosofias do Bem Viver e Ubuntu. Logo buscamos colocar no lugar uma comunicação em circularidade com a natureza, com os encantados do lugar e com todas as pessoas que lutam em defesa do seu direito ao território, contra a remoção de suas moradias e pelo direito a uma cidade coletiva, inclusiva e de bem viver. Na comunidade Boa Esperança, região ribeirinha às margens dos rios Parnaíba e Poty, em suas táticas contra o projeto de cidade desterritorializado chamado Programa Lagoas do Norte, aprendemos que a comunicação e o jornalismo ganham muito quando partem das histórias de vida e das memórias, pois são elas que guardam as lembranças ancestrais para reeditar a vida, reelaborar a palavra silenciada por séculos de opressão e construir narrativas em que o povo é protagonista”, salienta Sarah Fontenelle.
Sarah ainda acrescenta sobre o sentimento em ter recebido o prêmio, fruto de uma pesquisa desenvolvida de forma coletiva. “Este prêmio vem carregado com muitos afetos, além de muita honra. É o reconhecimento de uma caminhada coletiva com muito carinho. Sou muito grata às confluências com a comunidade Boa Esperança, que permitiu à academia acessar um saber ancestral que nos ajuda a elaborar uma comunicação de cura, enraizada na terra. Sou grata pelo encontro com a minha orientadora Maria Angela Pavan, sempre muito atenta e aberta às propostas do trabalho e também ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Esse prêmio tem um peso muito grande para área acadêmica dando um contorno especial para a luta no território e para a comunicação que vem das margens”, expressou agradecida.
Soldados do Traço: Cartuns contra o Nazifascismo. Conexões Transatlânticas (1922-1945)
Professor do Departamento de História da UFMA e egresso do Programa de Pós-Graduação em História (PPGHis), Wagner Cabral recebeu menção honrosa do Prêmio Capes de Tese com o trabalho Soldados do Traço: Cartuns contra o Nazifacismo (Conexões Transnacionais 1922-1945). [Acesse aqui]
A Tese de Wagner Cabral teve como ponto principal o estudo de críticas que os “soldados do traço”, cartunistas antifascistas, realizavam como uma forma de combater o nazifascismo (1922-1945) por meio do humor, utilizando o cômico como ferramenta de reflexão. A pesquisa levou em conta cartuns provenientes de doze países, em onze idiomas diferentes: Brasil, Argentina, Estados Unidos, França, Espanha, Itália, Grã-Bretanha, Alemanha, Luxemburgo, Holanda, União Soviética e Tchecoslováquia, sendo ao final selecionados cerca de 150 cartuns.
O professor relata mais detalhes sobre o trabalho, que abordou os eixos poderes, políticas e sociabilidades. “Nossa pesquisa estudou e analisou o fluxo e a circulação transnacional de caricaturas de combate ao fascismo no período de 1922, quando houve a ascensão de Benito Mussolini na Itália e, depois, a ascensão de Hitler na Alemanha em 1963 até 1945, o final da Segunda Guerra Mundial, quando o fascismo foi derrotado. Fizemos uma extensa e profunda pesquisa em acervos digitalizados de jornais, livros, revistas, bibliotecas nacionais, panfletos, pôsteres, revistas satíricas, em doze países diferentes, de forma que, a partir daí, nós desenvolvemos uma metodologia que nós chamamos de “dialética do visível e do legível”, a partir do qual se possa analisar a necessidade de você ler o visual e, ao mesmo tempo, contar e visualizar as narrativas. Com base nessa metodologia, nós fizemos essa ampla pesquisa e a uma seleção que deu origem a algumas temáticas centrais, que foram exatamente as temáticas que nós desenvolvemos na Tese”, explica.
A tese foi dividida em quatro capítulos, onde cada um investigou uma temática específica levantadas dentro dos 150 cartuns analisados. O primeiro capítulo é dedicado à análise do “bestiário”, onde se analisa o uso de diversos animais na luta contra o nazifascismo e os significados associados a eles, suas assim como as reapropriações e conexões transnacionais, como no caso do Brasil, com o símbolo da FEB (a cobra fumante).
Em seguida, o segundo capítulo traz o simbolismo religioso cristão reapropriado em charges (as alegorias do Mal), destacando três personagens emblemáticos: Caim (o primeiro assassino), o Anticristo e o Diabo. Dando continuidade à “questão religiosa” (Kirchenkampf) o terceiro capítulo trata dos cartuns de crítica e resistência ao processo de Gleichschaltung (sincronização) e nazificação das Igrejas cristãs (católica e protestante) na Alemanha, investigando assim o uso da violência política para o controle e a cooptação de jornais e revistas satíricas.
O quarto e último capítulo se debruça sobre diferentes casos da “caricatura no banco dos réus”, levando em conta o processo de repressão, controle e censura da caricatura na Itália fascista na época, assim como a análise de cartuns que provocaram protestos e processos judiciais levados adiante pela diplomacia da Alemanha nazista em países vizinhos.
Wagner Cabral também destaca como o reconhecimento do seu trabalho, por meio da menção honrosa no Capes de Tese, é gratificante e muito significativo para sua carreira acadêmica.
“O Prêmio Capes de Tese avalia ao todo 49 áreas do conhecimento, são mais de 1.600 trabalhos inscritos, só no campo da história, são mais de oitenta programas de pós-graduação que apresentaram seus trabalhos também para concorrer, então receber esse destaque é um reconhecimento da qualidade, da originalidade, da competência do estudo. Além disso, também é importante para o programa, o PPGHIS, que ainda está começando, e eu sou da primeira turma do doutorado. E, por outro lado, do ponto de vista da UFMA como um todo, que já possui dois grandes prêmios na Capes de Tese e cinco menções como essa, eu me sinto particularmente honrado por estar ao lado de outros colegas que já receberam esse prêmio, estou muito bem-acompanhado por profissionais de inegável excelência e qualidade de produção acadêmica”, expressa.
Saiba mais sobre o Prêmio Capes de Tese
Criado em 2005, o Prêmio Capes de Tese é um programa de reconhecimento que seleciona os melhores trabalhos de doutorado, abrangendo todas as áreas do conhecimento para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural, social e de inovação.
A edição 19 do prêmio foi estabelecida no Edital n° 4/2024, onde foram reunidas teses de pós-graduação brasileiras, com o objetivo de ampliar visibilidade e ações positivas no ensino da pós-graduação no país.
A avaliação dos trabalhos seguiu os critérios: originalidade, relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social, metodologia utilizada, característica da redação, organização do texto e qualidade, além da quantidade de publicações decorrentes da tese.
A solenidade de entrega da premiação ocorre em dezembro deste ano.
Por: Camilla Fernanda e Pedro Correa
Produção: Sarah Dantas
Revisão: Jáder Cavalcante