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Professora do curso de Letras-Francês do Câmpus São Luís realiza palestra sobre obra literária no seminário “Espaço Literário”, da Universidade Aix-Marseille, na França
A professora Emilie Audigier, do curso de Letras-Francês do Câmpus São Luís, é uma das convidadas do seminário “Espaço Literário”, evento promovido pela Aix-Marseille Université, na França. A palestra da docente ocorreu nesta quarta, 2, de forma presencial, para estudantes do Mestrado em Letras da universidade francesa, e contou com a apresentação da tradução da obra “Mon destin est d’être jaguar” (Minha vida é uma onça, na tradução para português), do escritor brasileiro Alberto Mussa. A palestra foi realizada às 15h30, no fuso horário da França; e 11h30 no fuso horário brasileiro.
Emilie, por ter conhecido Mussa e acompanhado o processo de criação desse trabalho, aponta que o livro segue um espírito antropólogo ao trazer uma nova visão de mundo ao não enxergar os indígenas como excluídos. “Achei a interpretação do mito ofertado pelo Mussa simplesmente genial. Era uma forma de aliar erudição histórica e imaginação literária. Valorizando o pensamento indígena brasileiro, não mais como uma representação exótica, de fora, mas numa tentativa de inventar uma nova poética em que os indígenas são considerados como integralmente brasileiros, de dentro, e não apenas como os outros, esquecidos, desprezados ou exterminados”, explicou.
O processo de tradução passou por estudos da Collège International de Traduction Littéraire (CITL), em Arles, na França, com pesquisas históricas de textos, por vezes, inéditos no país europeu. Os textos ajudaram a entender técnicas ainda malcompreendidas, como a antropofagia e a visão de mundo e de sociedade do povo Tupinambá. A professora aponta que, no livro, a prática cultural da antropofagia é capaz de transformar o mal — visto como inevitável na natureza — em bem, tornando-se necessária no sistema complexo de vingança que mantém salva a sociedade, segundo o povo indígena.
A obra, segundo Emilie, segue a contribuição que foi construída por outros autores como Gonçalves Dias, em “Dicionário da Língua Tupi”; Oswald de Andrade, em “Manifesto Antropófago”; e Guimarães Rosa, em “Meu Tio o Iauretê”. Por isso a professora acredita que “Minha vida é uma onça” pode ser considerado como uma obra decolonial, linha de pensamento que exalta conhecimentos fora da episteme eurocêntrica.
Por: João Meireles
Produção: Marcos Paulo Albuquerque
Revisão: Jáder Cavalcante