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Professora da UFMA promove evento sobre capoeira em universidade francesa e reforça diplomacia cultural brasileira
A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) ampliou sua presença internacional com a realização do evento ‘Capoeira: diálogos transdisciplinares para além das rodas’, na Université Clermont Auvergne (UCA), na França. Coordenada pela professora Maria Teresa Rabelo, do Colégio Universitário (Colun), a iniciativa integrou a programação do Ano do Brasil na França (Saison croisée du Brésil en France 2025) e foi apoiada pela Embaixada do Brasil em Paris, consolidando a capoeira como ferramenta de diplomacia cultural e promoção da língua portuguesa brasileira (pt-br).
O encontro reuniu estudantes, pesquisadores e praticantes de capoeira para refletir sobre como essa manifestação afro-brasileira ultrapassa os limites do jogo corporal, tornando-se espaço de ensino, resistência cultural e intercâmbio entre países. Reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 2014 como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, a capoeira foi eixo central das discussões, que uniram palestras, oficinas de movimento e musicalidade, rodas de conversa e apresentações nas cidades de Clemont-Ferrand e Lyon.
A capoeira como instrumento pedagógico e diplomático
Para a professora Maria Teresa, a proposta era dar visibilidade à história e à cultura afro-brasileira dentro do espaço acadêmico internacional. “Falar da capoeira é falar da história do povo negro brasileiro, muitas vezes silenciada. Promover esse diálogo na universidade significa legitimar esses saberes como objeto de estudo e como instrumento de transformação social”, destaca.
Ela explica que o evento foi construído coletivamente, reunindo mestres e mestras de capoeira, professores e pesquisadores. “A arte da capoeira se manifesta de diversas maneiras: musicalidade, performance, dança, jogo e luta, o que a torna convidativa para ser tomada como um objeto de estudo interdisciplinar e, ao mesmo tempo, funciona como divulgação não só da língua mais também da cultura afro-brasileira”, acrescenta.
Participação da UFMA

O evento contou com a participação da servidora Raquel Gonçalves, também integrante do Grupo Nzinga, que colaborou na elaboração do projeto e ministrou palestra e oficinas. Segundo ela, a proposta nasceu de uma experiência no Colun, onde coordena o projeto de extensão ‘Educação para a Diversidade: capoeira como instrumento contra o racismo e o sexismo’.
“A professora Maria Teresa me convidou a colaborar quando assumiu o Leitorado na França. Desde novembro de 2024, trabalhamos juntas na construção desse projeto ficamos muito felizes quando a Embaixada deferiu e aprovou nossa proposta. A capoeira é uma manifestação afro-brasileira muito potente e muito difundida internacionalmente. Senti que os estudantes franceses estavam muito abertos a experimentar a prática como um instrumento pedagógico de aprendizado, eles fizeram perguntas após a palestra, ousaram cantar, achei a experiência desafiadora, mas muito recompensadora, vê-los interessados e envolvidos no tema”, relata Raquel.
Além da França, a servidora também ministrou oficina em Roma, durante um festival multicultural. “Foi aí que tive essa experiência na Europa, em contato direto com diferentes culturas e crianças em uma roda de capoeira. Pude falar também sobre as desigualdades de gênero na prática de capoeira em todo o mundo. Foi muito enriquecedor”, completa.
Impacto acadêmico e cultural
As palestras que integraram a programação abordaram temas como a trajetória da capoeira no Brasil, da criminalização ao reconhecimento como patrimônio cultural, sua musicalidade, a participação das mulheres, a relação com a religiosidade afro-brasileira e até mesmo os modos de “abrasileiramento” de praticantes europeus. Entre os convidados, estiveram a Mestra Rosangela Janja Costa, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o Mestre Nelsinho, do Grupo Capoeira Angola Laborarte, e outros capoeiristas atuantes na França.
De acordo com a professora Maria Teresa, o impacto da iniciativa para a UFMA é múltiplo: “Esse evento dá visibilidade à nossa universidade, permite que outros pesquisadores da UFMA e de instituições parceiras participem e fortalece a internacionalização acadêmica. É um exemplo de como a cultura afro-brasileira pode se tornar ponte sólida de diálogo entre o Brasil e França”, afirma.
Continuidade da iniciativa
O sucesso da ação já abriu caminho para novos projetos. Uma segunda edição está em fase de planejamento, com previsão de submissão de proposta à Embaixada do Brasil em Paris ainda este ano. Além disso, os organizadores vão lançar um produto audiovisual com entrevistas de mestres convidados, que também será publicado em formato de artigo acadêmico.

Para Raquel, a experiência reafirma a força da capoeira como difusora da língua e cultura brasileira. “A capoeira hoje está em mais de 160 países e é a maior responsável pela difusão da língua portuguesa brasileira no mundo. Eventos que colocam a capoeira no centro do debate cientifico contribuem para a valorização das manifestações da cultura negra e afro-brasileira, além de provocar deslocamentos epistemológicos dentro dos espaços institucionais. Acredito que eventos como este contribuem de forma significativa para as trocas entre a cultura popular e a universidade, no mundo todo”, conclui.
Por: Geovanna Selma
Produção: Sarah Dantas
Fotos: acervo pessoal
Revisão: Jáder Cavalcante