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Professor da UFMA realiza pesquisa que comprova utilização da astronomia por povos originários no Maranhão
Uma pesquisa realizada pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e publicada pelo Journal of Archaeological Science: Reports realizou descobertas arqueológicas significativas em estuários localizados no norte do Estado do Maranhão, próximo da costa atlântica. Os resultados demonstraram que aldeias indígenas existentes há mais de dois mil anos, onde hoje é a Amazônia, foram construídas de acordo com as constelações, evidenciando que os povos originários do Maranhão conheciam astronomia e a utilizavam para contar o tempo e construir suas moradias.
O estudo, desenvolvido pelo arqueólogo e professor da UFMA Alexandre Guida Navarro, em parceria com a professora Anna Roosevelt, da Universidade de Illinois, em Chicago, nos Estados Unidos, e com o pesquisador Christopher Davies, da McHenry County College, teve duração de dez anos.
Iniciada em outubro de 2014 e finalizada em janeiro de 2024, o estudo revelou sítios arqueológicos com restos de 21 vilas pré-históricas de palafitas, que foram construídas sobre esteios de madeira Tabebuia handroanthrus (ipê). Os troncos de madeira, que antes estavam submersos, foram descobertos na estação seca o que, segundo o professor, indica que a civilização vivia em palafitas e aldeias suspensas na superfície dos lagos e rios.
Os achados foram encontrados em sítios arqueológicos descobertos principalmente no Rio Turiaçu e no Lago Cajari, localizado na cidade de Penalva. Além das palafitas, também foram encontrados materiais em ótimo estado de preservação, como potes de barros pintados, alguns com aplique de desenhos modelados de animais, que o pesquisador acredita terem sido utilizados para cozinhar alimentos e em rituais realizados por aquele povo.
Além disso, usando o software de astronomia StarryNight, descobriu-se, no sítio arqueológico chamado Formoso, localizado no lago de mesmo nome, que o céu noturno da antiga aldeia, foi comparado com um mapa dos esteios, revelando uma semelhança estatisticamente significativa com a constelação das Plêiades. De acordo com o pesquisador, a pesquisa mostrou que a aldeia do Formoso pode ter servido para marcar os ciclos sazonais de inundação e atividades agrícolas na Baixada Maranhense.
“Os povos originários indígenas do Maranhão já tinham conhecimentos de astronomia, assim como os incas, os maias e os astecas. Nós chegamos a essa conclusão, pois, quando mapeamos o sítio do Formoso, em Penalva, percebemos que existem onze núcleos de casas. Ou seja, onze casas foram construídas dentro do rio, e as evidências que ficaram são as estacas das árvores no fundo do rio. Quando nós observamos a constelação de Plêiades, que é uma constelação visível a olho nu, ela tem aproximadamente de sete a onze estrelas que são visíveis. O formato da constelação das Plêiades é igual ao formato dessa aldeia que nós mapeamos. É idêntico”, explica.
O arqueólogo esclarece que muitas dessas características também já foram encontradas em outras sociedades antigas. “Muitos traços geométricos que aparecem aqui são traços compartilhados por outras sociedades, diferentes dessas, que viviam na foz do Amazonas, por exemplo, como os marajoaras, nesse mesmo período, ou então povos que viveram no Alto Amazonas, já chegando quase à região do Peru, e por povos que viviam na América Central e no Caribe”, conclui.
Os resultados da pesquisa ajudam a entender melhor como viveram esses povos originários e foram divulgados recentemente, em uma matéria realizada pelo Jornal Hoje.
Por: Bruna Castro
Revisão: Jáder Cavalcante