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Pesquisadores da UFMA contribuem para descoberta de nova espécie de crustáceo no litoral maranhense

publicado: 07/10/2025 12h07, última modificação: 07/10/2025 15h57
Estudo amplia o conhecimento sobre a biodiversidade marinha e reforça a importância da pesquisa científica diante das mudanças climáticas
Pesquisadores da UFMA contribuem para descoberta de nova espécie de crustáceo no litoral maranhense

Pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) fizeram parte de um projeto que identificou uma nova espécie de crustáceo parasito chamado Naricolax zafirae. O animal, visível apenas com o auxílio de uma lupa binocular, foi encontrado no litoral do Maranhão, na cavidade nasal de um peixe conhecido popularmente como barbudinho, comum da região. 

O nome da nova espécie foi uma homenagem à professora da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e pesquisadora maranhense Zafira de Almeida, falecida em 2021, vítima de câncer. Zafira era referência em estudos sobre o conhecimento funcional e a conservação dos recursos pesqueiros amazônicos. 

A descoberta é considerada inédita para a ciência, por ser o primeiro registro do gênero Naricolax no Oceano Atlântico. Isso amplia o conhecimento sobre a biodiversidade marinha, destacando o Maranhão como um dos principais polos de pesquisa sobre ecossistemas costeiros da Amazônia Atlântica.

O estudo foi fruto de uma colaboração entre a UFMA, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema). Os esforços resultaram na descrição de uma espécie até então desconhecida, encontrada em áreas de manguezais, dunas e praias que apresentam grande amplitude de maré. 

Segundo o professor do curso de Oceanografia e Limnologia da UFMA que participou da pesquisa, Jorge Nunes, o estudo buscou investigar partes ainda pouco exploradas da diversidade amazônica. “A proposta visava estudar parasitos de tubarões e raias, mas fomos além, porque a relação hospedeiro-parasito das espécies de peixes estuarino-marinhas do Litoral Amazônico é muito desconhecida. Com base nisso, demos prioridade para  os critérios ecológicos locais mais relevantes, como o endemismo ou importância econômica, várias espécies de peixes foram estudadas com o intuito de prospectar tanto os ectoparasitos, quanto endoparasitos”, relata. 

O Maranhão, por sua posição geográfica estratégica e diversidade de ambientes costeiros, tem se consolidado como um território essencial para estudos sobre biodiversidade e transformações ambientais. Dessa forma, pesquisas como essa contribuem para descobrir o potencial de ambientes que atuam diretamente no equilíbrio dos outros ecossistemas, como o bioma amazônico. 

“A Amazônia é colossal em todos os sentidos. Na diversidade biológica, é considerada um dos ambientes mais impressionantes do planeta. Mas mensurar essa exuberância em números pode subestimar em níveis muito elevados. Por outro lado, sob a lente de uma visão sistêmica ou funcional, deixa notório sua importância dentro do contexto da história evolutiva e ecológica, visto que a relação hospedeiro-parasito revela um processo concomitante dos dois organismos, conhecido como coevolução e resulta em uma fotografia ecológica em tempo real”, explica o professor Jorge. 

Ciência e mudanças climáticas: um debate em evidência

A descoberta ocorre em um momento em que as discussões sobre mudanças climáticas ganham destaque mundial, especialmente com a aproximação da COP 30, que será realizada em novembro, no Pará. O evento reunirá representantes de diversos países para debater soluções globais diante da crise climática, e os estudos que estão sendo produzidos na região amazônica são de grande importância para o diálogo.  

O aquecimento dos oceanos e o aumento da acidez da água são apontados por pesquisadores como algumas das principais ameaças à vida marinha. Essas alterações afetam diretamente crustáceos, corais e outros organismos cruciais para o equilíbrio dos ecossistemas costeiros. Apesar de ainda não ser possível apontar como essas condições podem afetar a espécie recém-descoberta, é urgente continuar com as investigações, como explica o professor e pesquisador da UERJ, Fabiano Paschoal. “É necessário um acompanhamento da presente espécie ao longo dos anos para uma melhor elucidação do tema”. Além de ampliar o conhecimento científico, estudos que ajudam a compreender como o oceano responde a variações de temperatura, salinidade e pH são indicadores fundamentais para prever impactos ecológicos de longo prazo. 

Caminhos para a preservação 

As descobertas científicas precisam caminhar junto às medidas de proteção aos ecossistemas, que são fundamentais para o equilíbrio ambiental e a manutenção das atividades humanas que deles dependem. O fortalecimento de políticas integradas de gestão, monitoramento ambiental e educação científica é um caminho indispensável para a proteção ambiental. 

“Medidas protetivas para os ambientes marinhos do estado não constituem uma tarefa fácil. Infelizmente, não existe fórmula nem mágica instantânea. A construção precisa de tempo, porque os efeitos são tardios e graduais. Sempre que aprendemos algo novo, incluímos nas propostas estratégicas para a conservação biológica. A meu ver, evitar problemas ambientais é mais eficaz e mais econômico que a sua mitigação da forma que vemos”, destaca Jorge.

Para a UFMA, descobertas como essa evidenciam o compromisso da universidade pública com a produção de conhecimento sobre o meio ambiente e com a busca por soluções para os desafios climáticos contemporâneos. “As universidades buscam excelência em todos os pilares que as sustentam. Nesse sentido, conquistas como essa representam uma grande projeção e reconhecimento científico para a UFMA”, concluiu Jorge Nunes.

Acesse o estudo clicando aqui. 

Por: Giovanna Carvalho

Produção: Sarah Dantas

Fotos: divulgação

Revisão: Jáder Cavalcante

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