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Pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Odontologia da UFMA analisa bioatividade de materiais usados na odontologia

publicado: 22/07/2025 16h27, última modificação: 22/07/2025 17h36
Pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Odontologia da UFMA analisa bioatividade de materiais amplamente usados na odontologia

Uma pesquisa realizada no Laboratório de Biomateriais da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) está lançando luz sobre uma questão importante para a odontologia: os cimentos de ionômero de vidro (CIVs), tradicionalmente considerados “bioativos”, realmente merecem essa classificação?

Desenvolvido pela doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Odontologia (PPGO) Thaís Bezerra da Maceno Oliveira, com orientação do professor José Bauer, o estudo avaliou seis marcas comerciais de CIVs amplamente utilizados na prática odontológica, incluindo produtos nacionais e internacionais. A pesquisa resultou em uma dissertação de mestrado e foi publicada no periódico científico International Journal of Adhesion and Adhesives.

CIVs são amplamente empregados em restaurações dentárias, em especial, por sua capacidade de liberar íons como flúor, cálcio e fosfato, característica que, por muitos, é considerada suficiente para qualificá-los como materiais bioativos. No entanto, segundo os pesquisadores, essa definição pode ser limitada. “O simples fato de um material liberar íons não significa que ele seja bioativo. É necessário observar se ele provoca uma resposta biológica positiva, como formação de estruturas minerais ou ação antimicrobiana”, explica o professor José Bauer.

Durante o estudo, os pesquisadores investigaram cinco parâmetros principais:

• Liberação de íons benéficos
• Variação de pH ao longo de 28 dias
• Formação de hidroxiapatita (mineral presente nos dentes)
• Ação antibacteriana contra o Streptococcus mutans (bactéria associada à cárie)
• Citotoxicidade em células humanas.

Os resultados foram contundentes. Apesar de todos os cimentos analisados terem liberado íons importantes, o pH permaneceu ácido durante todo o período de observação, o que pode prejudicar tecidos dentários profundos. Nenhum dos produtos avaliados foi capaz de formar hidroxiapatita de forma efetiva nem apresentou atividade antibacteriana significativa. Além disso, os testes de citotoxicidade, realizados com células de fibroblastos humanos, revelaram efeitos tóxicos após 72 horas de exposição.

A pesquisadora Thaís Oliveira reforça que o estudo não pretende desmerecer o uso clínico dos CIVs, mas, sim, trazer dados que ajudem a aprimorar esses materiais. “Percebemos que muitos estudos anteriores avaliavam bioatividade apenas com base em testes indiretos. Nosso objetivo foi adotar uma abordagem mais completa, com contato direto com células vivas e ensaios padronizados”, explica.

Segundo Thaís, o maior desafio foi justamente a manipulação do material para criar corpos de prova com formato específico. “Como os CIVs têm propriedades físicas difíceis de manejar, foi complicado confeccionar amostras padronizadas para os testes de resistência”, ressalta. 

A pesquisa contou ainda com a colaboração da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá), reforçando a dimensão internacional do trabalho. A equipe destaca que os CIVs continuam sendo materiais importantes na odontologia, com bons resultados clínicos. No entanto sugere que estudos futuros explorem a adição de partículas bioativas ou fármacos à composição dos cimentos, com o objetivo de ampliar seu potencial biológico sem comprometer sua resistência.

“Acreditamos que é papel da Universidade provocar questionamentos e gerar conhecimento baseado em evidências, especialmente, quando se trata da formação de profissionais mais críticos e comprometidos com a saúde do paciente. Nossos achados reforçam a importância de desenvolver materiais que não apenas preencham o espaço da restauração, mas que também liberem íons ou fármacos capazes de auxiliar no controle da doença cárie. Esse é o nosso objetivo aqui no Biomma: desenvolver materiais 'inteligentes'. E, para mim, como doutoranda, é extremamente gratificante poder contribuir com a ciência dessa forma”, conclui Thaís Oliveira.

Saiba mais sobre a pesquisa por meio do canal no youtube do PPGO. 

Por: Maria Clara Botentuit

Revisão: Jáder Cavalcante

 

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