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Pesquisa de Pós-Graduação da UFMA analisa a trajetória de Tenório Jr. e as tramas do Cone Sul

publicado: 29/09/2025 16h15, última modificação: 29/09/2025 16h48
Pesquisa de Pós-Graduação da UFMA analisa a trajetória de Tenório Jr. e as tramas do Cone Sul

Parte da trajetória do pianista Tenório Jr., assassinado na Argentina em 1976, em plena ditadura militar, foi objeto de uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em História (PPGHis) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). O estudo “Solos manchados de sangue: das tensões sobre a vida e a morte de Tenório Jr. às mutações do jazz brasileiro em meio às tramas ditatoriais do Cone Sul (1964-1976)” foi conduzido pelo doutorando Antônio Carlos Ribeiro, em coautoria com o pesquisador Renan Branco Ruiz, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e orientado pelos professores Luiz Alberto Couceiro, da UFMA; e José Adriano Fenerick, da Universidade Estadual Paulista (UNESP).

Além da trajetória do pianista Tenório Jr, o trabalho também discutiu as disputas memoriais em torno do músico, especialmente, baseadas nas obras e nos relatos do guitarrista Frederico Mendonça de Oliveira, o Fredera, integrante da banda Som Imaginário e um dos principais biógrafos de Tenório.

Segundo o pesquisador, Antônio Carlos, a ideia da pesquisa surgiu de uma construção coletiva. “A ideia da pesquisa é fruto do trabalho colaborativo entre mim e o Renan. Ambos analisamos a história do jazz no Brasil há quase 15 anos e, entre alguns temas de pesquisa, sempre mencionamos a necessidade de se analisar, com o devido esmero, o “caso Tenório Jr. Haja vista que o campo de estudos relacionado à canção (música cantada) já contava com diversos trabalhos sobre o tema, compreendemos como se fazia urgente analisar a trajetória de Tenório e suas relações com o contexto político da época que causou sua morte, em 1976”, afirma.

O processo da pesquisa envolveu amplo levantamento de fontes primárias, leituras e debates a distância, além da participação em congressos internacionais, como o XV Congresso da Associação Internacional para o Estudo da Música Popular/ América Latina (IASPM-AL), realizado em 2022, no Chile.

“Nesse processo de pesquisa, também iniciamos a escrita, inicialmente por tópicos e depois em formato de texto. Após diversas análises e revisões, o trabalho foi enviado a revistas acadêmicas, gerando também apresentações de trabalho internacionais e textos adjacentes ao inicial.  Por exemplo, no Congresso no Chile, tentamos focar na questão da Operação Condor e a correlação do Brasil com as outras ditaduras latino-americanas. Isso, claro, baseado no que aconteceu ao músico”, explica.

Entre os principais resultados, o estudo foi considerado inédito no campo de estudos do jazz no Brasil e também nos debates sobre a trajetória de instrumentistas em meio ao autoritarismo. “Concluímos que o caso e a morte de Tenório Jr. são extremamente significativos sobre a condição do músico e do jazz brasileiro durante a ditadura militar. Justamente por isso, a história foi utilizada por veículos de imprensa e outras personagens ativas no período, como o Fredera”, alega.

A relevância da pesquisa vai além da comunidade acadêmica, alcançando também reflexões sobre democracia e memória histórica. “O estudo sobre o Tenório Jr. nos auxilia a compreender diferentes mecanismos e modos de agir das ditaduras. É um trabalho que estimula a valorização de histórias de pessoas ordinárias (ainda que vistas como artisticamente excepcionais), que muitas vezes foram tratadas de maneira marginalizada (ou secundarizada) pela historiografia; com base nas quais é possível retrabalhar a relação dialética entre memória e esquecimento. Por fim, trata-se de um debate que também motiva reflexões sobre democracia e os tempos atuais”, conclui.

Acesse a pesquisa aqui e o artigo neste link.

 

Por: Geovanna Selma

Fotos: Acervo Pessoal

Revisão: Jáder Cavalcante

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