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SÉRIE PRÊMIO FAPEMA 2024

Pesquisa da UFMA sobre acesso à energia e cidadania conquista Prêmio Fapema 2024

publicado: 08/05/2025 14h55, última modificação: 08/05/2025 17h14
Pesquisa da UFMA sobre acesso à energia e cidadania conquista Prêmio Fapema 2024

Em regiões marcadas pela desigualdade, a chegada da energia não é apenas uma inovação, é também uma possibilidade de trabalho, segurança e dignidade. No entanto, quando esse acesso não vem acompanhado de políticas estruturantes, a cidadania continua sendo um privilégio distante para muitos brasileiros. 

Essa foi a reflexão que impulsionou a tese de doutorado “Luz é para todos, mas a cidadania é para poucos?”, desenvolvida pelo pesquisador e professor adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), José Tavares Bezerra Júnior, no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas (PPGPP), vencedora do Prêmio Fapema 2024, na categoria Tese de Doutorado – área de Ciências Humanas e Sociais.

O trabalho, orientado pela professora Maria Ozanira da Silva e Silva, avalia os impactos da eletrificação rural no Maranhão e os efeitos sociais concretos vivenciados pelas populações atendidas entre 2003 e 2022. Unindo o trabalho teórico e de campo, a pesquisa analisou seis povoados de três municípios maranhenses, escolhidos com base em baixos índices de desenvolvimento humano e significativa quantidade de famílias beneficiadas. 

No total, foram ouvidas 103 pessoas entre moradores, líderes comunitários, trabalhadores rurais e gestores públicos. “Foram, se não me engano, mais de mil quilômetros percorridos. Muita dificuldade para acessar esses povoados, mas eu creio que ter ido conversar com as pessoas fez toda a diferença”, contou o pesquisador.

A pesquisa revelou que, embora o acesso à energia tenha provocado mudanças concretas na vida das pessoas — como melhorias na segurança pública e ampliação da produção rural — os resultados também escancaram as desigualdades ainda presentes. “O que ouvi muito das famílias foi que o principal impacto foi na alimentação. Infelizmente, a fome é uma questão muito séria. A chegada da energia ajudou muito. Mas também não basta pensar que levar energia resolve os problemas. É um problema multifacetado, com várias questões vinculadas. A energia é um eixo estrutural fundamental para o crescimento e desenvolvimento, mas precisa estar articulada com outras políticas. Se não tiver, não adianta”, observou Tavares.

A infraestrutura é um fator determinante para a melhoria das condições de vida da população, sem isso, diversos serviços são comprometidos. “Imaginem um funcionamento de escola sem energia elétrica. Um posto de saúde. Na época em que eu fui, estava acabando a pandemia. Então, falava-se de vacina, imagina esse posto de saúde sem energia. Como é que você vai armazenar a vacina?”, refletiu o professor. 

A orientadora, professora Maria Ozanira, destacou a importância do trabalho de campo na coleta desses dados: “Sem ir à realidade, esses aspectos não seriam captados. Só com revisão bibliográfica, só com a pesquisa teórica, não seria possível enxergar tantas dimensões do problema”.

Desafios e aprendizados

Apesar de ainda precisar de melhorias, ver o impacto que o acesso a um direito básico teve na vida da população, foi o que mais impressionou o professor. “O que mais me surpreendeu foi ver a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. O agricultor falando em chegar em casa e poder beber um copo de água gelada — que, para a gente, é uma coisa normal, né? — Mas, para uma pessoa que passa o dia na roça, e antes era no pote, ter geladeira faz diferença”.

Outros impactos positivos também foram registrados. Em casas de farinha, por exemplo, o uso de energia elétrica substituiu o esforço manual, aumentando a produtividade. Na piscicultura, motores passaram a ser usados para manejar a água e acionar aeradores, melhorando a criação de peixes. A conservação de alimentos também melhorou, que antes estragava por falta de refrigeração.

Conquista do prêmio

A vitória do Prêmio Fapema foi recebida com entusiasmo por Jose Tavares e Maria Ozanira. “Eu fiquei muito feliz, porque acaba sendo o reconhecimento de uma pesquisa árdua”, declarou o pesquisador. 

A orientadora reconheceu o potencial da pesquisa. “A tese tem que ser publicada como livro. Eu acho que a tese do Tavares é um trabalho, realmente, que dá uma contribuição muito grande para a temática em si, como também para a estruturação de uma pesquisa”, pontuou.

Ela também ressaltou o papel do Prêmio Fapema como estratégia de visibilidade científica no estado. “Valoriza, incentiva e publiciza a produção científica e também a própria FAPEMA na sociedade”.

Além da análise crítica, a pesquisa apresentou sugestões para aprimorar o programa, garantir a manutenção das redes e ampliar o acesso de forma equitativa. “O poder público, quando o pesquisador se envolve e apresenta dados, pode contribuir de uma forma muito relevante, perde em não aproveitar. Teve esse objetivo também. Inclusive, na conclusão, a gente coloca indicativos, sugestões para que o programa seja mais assertivo”, afirmou Tavares.

Com sua abordagem interdisciplinar e enraizada na realidade maranhense, a tese reafirma o papel transformador da universidade pública e o potencial da ciência em contribuir para justiça social.

 

Por: Giovanna Carvalho

Fotos: arquivo pessoal

Revisão: Jáder Cavalcante

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