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Pesquisa da UFMA revela que menos luz pode melhorar crescimento e imunidade de peixe nativo da Baixada Maranhense

publicado: 21/11/2025 14h44, última modificação: 21/11/2025 14h44
Pesquisa da UFMA revela que menos luz pode melhorar crescimento e imunidade de peixe nativo da Baixada Maranhense

Pesquisa do curso de Engenharia de Pesca da UFMA revela que menos luz pode melhorar crescimento e imunidade de peixe nativo da Baixada Maranhense

A Universidade Federal do Maranhão (UFMA), por meio do curso de Engenharia de Pesca do Câmpus de Pinheiro, alcançou mais um importante destaque na produção científica. Neste mês, pesquisadores da instituição publicaram no periódico internacional Aquaculture Research um estudo que investiga como diferentes ciclos de luz influenciam o desenvolvimento do peixe Trachelyopterus galeatus, popularmente conhecido como cumbá, niquim, cangati, anujá e cachorrinho ou fidalgo, dependendo da região.

Segundo o professor do curso de Engenharia de Pesca e um dos autores da pesquisa, Joel Artur Dias, a conquista é resultado do fortalecimento das investigações científicas conduzidas na unidade. “O nosso curso de Engenharia de Pesca tem se destacado pelo notável avanço de suas pesquisas. Isso reforça o amadurecimento científico do câmpus e evidencia o impacto crescente das pesquisas desenvolvidas na região da Baixada Maranhense”, afirma.

Influência do fotoperíodo

O estudo buscou compreender como o fotoperíodo, quantidade diária de luz e escuridão, interfere no crescimento, comportamento e resistência imunológica das larvas da espécie, que é amplamente consumida na Baixada Maranhense. Para o pesquisador, investigar esses fatores ambientais é essencial para o avanço da aquicultura brasileira.

“Com o avanço constante da aquicultura nacional e a busca por espécies de valor econômico promissor, compreender fatores fisiológicos e ambientais, como o fotoperíodo, é indispensável para garantir uma produção eficiente, manejo adequado e conservação responsável”, explica Joel.

A escolha do T. galeatus não foi por acaso: trata-se de um peixe importante para o consumo local, mas que sofre com a captura excessiva de juvenis. “O interesse por esse peixe decorre de sua relevância para o fortalecimento da aquicultura e para a preservação dos ecossistemas naturais, especialmente na Baixada Maranhense, onde é amplamente consumido, mas tem seus estoques ameaçados pela captura intensa de indivíduos juvenis para o abastecimento do mercado local”, destaca o professor.

O estudo que investigou como diferentes ciclos de luz influenciam o desenvolvimento do peixe Trachelyopterus galeatus

Por isso, um dos objetivos centrais foi elaborar um protocolo de criação que possa auxiliar tanto produtores quanto iniciativas de conservação. Os resultados trouxeram respostas consistentes: fotoperíodos mais curtos, ou seja, menos horas de luz, favoreceram o crescimento e a uniformidade quando os indivíduos foram expostos ao patógeno Aeromonas hydrophila, comum na piscicultura continental. “Concluímos que fotoperíodos curtos favoreceram os parâmetros de desempenho zootécnico e produtivo, além da resistência imunológica das larvas após desafio sanitário”, reforça Joel.

Além de ampliar o conhecimento sobre a espécie, a pesquisa abre caminho para sistemas de criação mais sustentáveis e alinhados às necessidades naturais do peixe. “O estudo fortalece as bases para sistemas de criação inovadores, sustentáveis e tecnicamente robustos, alinhados ao futuro da piscicultura no Brasil”, completa o docente.

Participação Estudantil

Metade dos autores do artigo são egressos recentes do curso de Engenharia de Pesca, demonstrando o protagonismo discente na produção científica do câmpus. Para Suéllem Pinheiro, que participou do projeto como estudante, acompanhar todas as etapas do experimento foi uma experiência intensa e formadora. “Participar deste experimento foi, ao mesmo tempo, desafiador e muito enriquecedor. O planejamento e a execução exigiram bastante cuidado desde a montagem dos sete tratamentos, com atenção aos termostatos e horários exatos de alimentação. O acompanhamento diário era essencial para garantir a confiabilidade dos dados”, relata.

Alimentação das larvas do Trachelyopterus galeatus

Entre os achados que mais chamaram sua atenção, Suéllem destaca o papel da luz no sistema imunológico das larvas. “Os dados mostraram que a disponibilidade de luz e escuridão não influenciou apenas a sobrevivência, como também teve impacto direto sobre o sistema imunológico. Ver que o fotoperíodo pode influenciar essa resposta imunológica foi um achado muito satisfatório e trouxe informações valiosas para a área, reforçando a importância de considerar a iluminação como um fator relevante no manejo larval desta espécie”, salienta.

A pesquisadora também reforça que os melhores resultados ocorreram nos períodos maiores de escuridão, algo relacionado ao comportamento natural da espécie. “O Trachelyopterus galeatus é uma espécie de hábito noturno. Respeitar esse padrão biológico pode trazer benefícios significativos tanto para o desempenho quanto para a resposta imunológica das larvas”, esclarece.

Para ela, experiências como essa possuem forte potencial de inspirar novos jovens a ingressarem na área. “Trabalhos como esse ajudam outros estudantes a enxergar o potencial da pesquisa aplicada, despertam curiosidade científica e reforçam o desejo de contribuir com o avanço do conhecimento e com o desenvolvimento da aquicultura no Brasil. Além disso, a possibilidade de transformar resultados de laboratório em recomendações práticas para produtores é algo que motiva e aproxima os jovens da realidade do setor produtivo”, comenta.

Ciência que transforma a Baixada Maranhense

Em 2025, o curso de Engenharia de Pesca da UFMA obteve elevado reconhecimento em eventos nacionais e internacionais, como o Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca (CONBEP) e o International Fish Congress (IFC), conquistando quatro premiações entre mais de 600 trabalhos apresentados, e três delas em primeiro lugar.

Trabalhos do curso foram destaque no Congresso nacional de Engenharia de Pesca (CONBEP)

O professor Joel destaca que o compromisso da comunidade acadêmica é o que move a pesquisa. “A verdadeira força da ciência nasce do compromisso coletivo, da paixão pelo conhecimento e da coragem de avançar mesmo quando as condições parecem adversas. O crescimento alcançado até aqui não é fruto de abundância, mas de persistência, e justamente por isso se torna ainda mais admirável”, evidencia.

Com resultados inéditos e aplicáveis ao setor produtivo, a pesquisa representa um marco para a engenharia de pesca na UFMA e reforça a vocação científica do câmpus de Pinheiro. “Que esses resultados sirvam como um convite para que se reconheça o potencial que pulsa na Baixada Maranhense. Acredito que o curso de Engenharia de Pesca poderá ir ainda mais longe, expandindo fronteiras, inspirando novas gerações e consolidando-se, de forma incontestável, como um dos pilares do conhecimento em pesca e aquicultura no Brasil”, finaliza o professor Joel.

Por: Geovanna Selma

Fotos: acervo pessoal

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