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PRÊMIO FAPEMA 2023

Pesquisa da UFMA revela potencial do bacurizeiro no combate à Sepse

publicado: 17/01/2025 09h12, última modificação: 17/01/2025 11h01
Pesquisa da UFMA revela potencial do bacurizeiro no combate à Sepse

A sepse é um problema de saúde pública, potencialmente grave, desencadeada por uma resposta inflamatória sistêmica acentuada por uma infecção, na maioria das vezes, causada por bactérias. Assim, a busca por novos tratamentos é sempre necessária, principalmente, quando envolve alternativas promissoras, como a utilização de recursos naturais presentes na flora local. Pensando nessa problemática, a doutoranda e mestra em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e especialista em Imunologia, Danielle Gomes Franco, desenvolveu uma pesquisa sobre a Platonia insignis (Bacurizeiro), uma espécie vegetal encontrada no território maranhense, reconhecida por suas propriedades antibacterianas, importantes para o combate da proliferação desses organismos, os principais desencadeadores da síndrome séptica.

A pesquisa, intitulada "Platonia insignis mart: caracterização química e efeito antimicrobiano na sepse polimicrobiana e na infecção letal por Escherichia Coli e Enterococcus Faecalis", foi vencedora do Prêmio FAPEMA 2023, na categoria "Dissertação de Mestrado: Ciências Agrárias", destacando potencial para o desenvolvimento da ciência e tecnologia no estado, além de apontar caminhos para melhorar a qualidade de vida da população. 

A descoberta do potencial do bacurizeiro

Sendo uma planta típica da Amazônia maranhense, a Platonia insignis emerge como uma fonte potencial de compostos bioativos com a capacidade de mitigar a proliferação bacteriana. No Laboratório de Imunofisiologia da UFMA, já existia uma sólida tradição de pesquisa com foco na flora local. Nesse cenário, o estudo de Danielle Cristine Gomes explorou o bacurizeiro, com o objetivo de investigar a relação entre o extrato do fruto e sua eficácia no combate à sepse, uma condição grave e ainda comum na prática clínica. 

“O estudo começa com as informações etnobotânicas, como a população utiliza as espécies, as espécies que são abundantes na nossa flora, mas sempre também olhando a possibilidade de existir essa mesma espécie em outros locais. Então, esses dados botânicos nortearam o primeiro trabalho com a Platonia no nosso laboratório, que foi para tratamento de vaginites, que é uma infecção por fungos. E aí a gente fez alguns testes e viu que ela também tinha ação para bactérias. E esse foi então o trabalho de Daniele que foi premiado”, contou a orientadora, Rosane Nassar Guerra.

O processo científico por trás envolveu várias etapas rigorosas, desde os indícios encontrados, até os testes realizados até o momento.

“Faz-se uma análise fitoquímica para rastrear o que se tem, vai para a literatura para saber quais são as ações desses compostos, o que já tem relatado de pesquisa que está em andamento, ou então que já foi feita. Assim, a gente consegue entender mais ou menos qual seria a ação desse extrato baseado nesses compostos encontrados. Com base nesses compostos, a gente sabe se o extrato é tóxico tanto em nível in vitro, quanto celular. E, a partir daí, a gente vai continuando, fazendo a avaliação antibacteriana, vendo se diminui, se cresce a viabilidade celular de bactérias e sobrevida também de modelos experimentais”, explicou Danielle.

Esse detalhamento demonstra o rigor científico adotado no estudo, essencial para validar os resultados e avançar nas etapas futuras da pesquisa. O próximo passo, de acordo com as pesquisadoras, seria prosseguir para os testes in vivo, para compreender como  essa ação funciona também no sistema imune de seres vivos, uma vez que o estudo apresentado ao Prêmio Fapema foi testado in vitro, no ambiente controlado do laboratório. 

A superação dos desafios

O caminho até chegar ao tão esperado resultado, muitas vezes, depende da superação de percalços que podem surgir, fazendo com que soluções criativas precisem ser encontradas para dar continuidade ao processo. Para Danielle Gomes, um dos principais obstáculos encontrados foi o período de Pandemia de covid-19, em que a pesquisa estava sendo realizada, mesmo que o número de pessoas no laboratório fosse reduzido. “O trabalho desse prêmio também foi feito num período muito difícil, que foi o período da pandemia. Ficava quase que inviável você vir, porque ciência é colaboração. Então, você precisa de uma equipe grande para ajudar a fazer os experimentos, a analisar, e, nesse período, as pessoas não podiam estar agrupadas. Um desses empecilhos e dificuldades foi justamente isso, trabalhar com ciência em um período tão insalubre”, destacou ela.

Todo trabalho científico depende de financiamento para sua viabilidade. Sem ele, os resultados não poderiam ser alcançados. Nesse contexto, Rosane Guerra destaca a relevância do financiamento, pois, sem os recursos necessários, a continuidade das pesquisas se torna inviável. “Tudo passa por financiamento para infraestrutura, porque eu preciso mudar equipamentos. São coisas pequenas do cotidiano que envolvem dinheiro. A pesquisa científica é muito, digamos, caprichosa, porque ela precisa de financiamento constante e, preferencialmente, crescente”. 

As contribuições do estudo

Na ciência, nada é criado de forma isolada, pois o conhecimento científico é uma atividade coletiva, que depende de tentativas e erros para que o caminho de uma descoberta possa ser trilhado. 

Com base nisso, Rosane destaca a importância do trabalho interdisciplinar. “A gente tem uma parceria muito forte com a química e também com a botânica. Agora a gente precisa saber se tem manejo, em que pé estão os estudos, conhecer um pouco mais da anatomia foliar, então também impacta a biologia. Na verdade, você tem um conjunto de pesquisas que podem ser desenvolvidas no âmbito da nossa instituição ou no país ou no mundo, que são complementares aos nossos resultados. Acho que a coisa mais legal da ciência é que não tem respostas, ela tem perguntas, tudo pode mudar”. 

O incentivo da FAPEMA

Para Danielle Gomes, o interesse pela ciência começou ainda na graduação. Assim, as agências de fomento, como a Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), sempre fizeram parte de sua trajetória acadêmica.

“Entramos no laboratório, damos os primeiros passos em tentar entender o que é pesquisar, o que é iniciar, entender os protocolos. A FAPEMA vem pra isso, para auxiliar aquele estudante a continuar naquele laboratório, para participar de congressos, ajudar os colegas no trabalho. Então, justamente, começa naquele apoio. Então a FAPEMA lá, desde a iniciação científica no meu trabalho, ela fez parte. Até o mestrado. Auxiliaram nos insumos, nos produtos”.

No que diz respeito aos próximos passos do trabalho, a pesquisadora destaca a realização de um artigo para reunir as propriedades da planta estudada e suas possibilidades de utilização, que será relevante para outros estudiosos da área. “Estou desenvolvendo um artigo, que faz justamente essa busca de todo o contexto da Platonia, na parte econômica, que é o que faltava. Quem for pesquisar ou quem tiver interesse vai ter toda essa abrangência, essa visão geral, histórica, genética, aspectos socioculturais, geográficos”. 

A trajetória da pesquisadora Danielle Gomes é um exemplo de como o investimento pode gerar conhecimento relevante e abrir caminhos para novas descobertas que beneficiam tanto a comunidade acadêmica quanto a sociedade.

Por: Giovanna Carvalho

Revisão: Jáder Cavalcante

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