Notícias

Pesquisa da UFMA que explora os resíduos marinhos para produção de energia limpa conquista parcerias internacionais

publicado: 28/04/2025 14h25, última modificação: 28/04/2025 15h55
Pesquisa da UFMA que explora os resíduos marinhos para produção de energia limpa conquista parcerias internacionais

Uma pesquisa desenvolvida no Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que contou com a participação do professor e coordenador do curso, Glauber Cruz, tem ganhado destaque no campo das energias renováveis a partir da biomassa marinha. O estudo, fruto da colaboração entre pesquisadores internacionais e o discente egresso da UFMA Arthur Vinicius Sousa, investigou o aproveitamento de resíduos descartados pela indústria pesqueira como alternativa para geração de energia sustentável.

A investigação, realizada entre novembro de 2024 e abril de 2025, com o apoio do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) e em parceria com a School of Energy Science and Engineering, Harbin Institute of Technology, da China; e Faculty of Ocean Engineering, Technology and Informatics e Universiti Malaysia Terengganu, da Malásia, resultou em um artigo de revisão publicado na revista científica Biomass and Bioenergy (Qualis A1), uma das mais reconhecidas na área de bioenergia.

Um estudo sobre reaproveitamento

A pesquisa detalha o desempenho de diferentes resíduos marinhos em processos termoquímicos como combustão, pirólise e gaseificação. Entre os principais resultados, destaca-se a eficiência de conversão de carbono de até 84% obtida na combustão de resíduos de peixe. A pirólise, por sua vez, mostrou-se altamente eficaz na produção de biochar, com até 78% de carbono fixo em peso, além de bio-óleo com rendimentos entre 17% e 50%, podendo ser convertido em biodiesel com eficiência de 98,2%. Esses dados obtidos indicam o potencial de transformar materiais subutilizados, frequentemente descartados pela indústria pesqueira e de processamento, em fontes limpas de energia, com aplicação em diversos setores.

Segundo o professor Glauber Cruz, o estudo pode ter expressivo impacto em toda a cadeia produtiva. “Do ponto de vista socioambiental, a valorização desses resíduos garante um reaproveitamento deles de maneira sustentável e com descarte apropriado, evitando que escamas de peixes sejam jogadas em aterros sanitários ou até mesmo ao ar livre, contaminando o solo e as águas, bem como a proliferação de vetores endêmicos e acúmulo de animais peçonhentos naquele local.  Tal aproveitamento desses resíduos também se mostra como um potencial para obtenção de emprego e renda em comunidades ribeirinhas”, explicou ele.

Reconhecimento e trajetória da pesquisa

O artigo publicado foi fruto de uma sólida construção desenvolvida no âmbito de instituições federais. O convite para participação na publicação internacional veio após a repercussão de trabalhos anteriores com a mesma temática, ligados ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica (PPGMEC) do IFMA e pesquisas de iniciação científica e mestrado da UFMA.

Arthur Vinicius Sousa, que participou da pesquisa desde a graduação, lembra que a proposta surgiu como iniciação científica em um tema até então inédito. “[A pesquisa] começou ainda na graduação, como uma proposta de trabalho de iniciação científica, vinculado ao curso de Engenharia Mecânica, e na época foi um tema completamente novo. Não havia basicamente nada na literatura sobre o uso das escamas de peixes com a finalidade bioenergética. Devido a isso, foi um trabalho bem inovador”, explica.

Sobre o reconhecimento obtido, o discente egresso descreve com entusiasmo. “Da noite para o dia, viramos referência internacional. o que, ao mesmo tempo, dá aquela sensação de quero mais. Então, foi realmente o que me motivou a seguir na carreira acadêmica, não manter só na iniciativa científica. É um sentimento bom, porque você vê que consegue ter relevância. Mesmo estando no Brasil, principalmente no Estado do Maranhão. Isso mostra que a gente tem potencial para desenvolver ciência”.

Os esforços também foram agregados a uma parceria internacional com outros pesquisadores chineses e da Malásia, incluindo o professor do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), Flávio Bittencourt, que reuniu todos no projeto.

Mais do que apenas propor uma nova fonte de energia, essa abordagem integra sustentabilidade, inovação tecnológica e valorização ambiental, com influência direta na redução dos impactos da atividade pesqueira, também no estado.

“Essa abordagem pode ser integrada as cadeias produtivas maranhenses, como a indústria pesqueira regional, por meio da conscientização dos pescadores para fazer um descarte apropriado desses resíduos e, consequentemente, reaproveitá-los para a produção de bio-óleo, biogás e biochar por meio de processos termoquímicos”, clarifica o professor Glauber Cruz.

O trabalho reforça o papel da UFMA como referência na formação de pesquisadores voltados à resolução de problemas socioambientais. Atuações como as do professor Glauber Cruz, ao lado de um discente, demonstram como as instituições públicas podem transformar desafios locais em contribuições científicas com impacto internacional.

“A UFMA foi, na região Norte-Nordeste, em 2017, a precursora em estudar escamas de peixes para produção de bioenergia, produzindo um artigo de altíssima qualidade, o qual ainda é bem citado, vencendo um prêmio Fapema de 2019, com o trabalho de iniciação científica e duas menções honrosas em 2022 (Fapema e Porto do Itaqui) com o trabalho de Mestrado”, destaca Glauber.

Saiba mais sobre o estudo acessando o artigo (clique aqui).

Por: Giovanna Carvalho

Revisão: Jáder Cavalcante

registrado em: