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Pesquisa da UFMA mostra que agricultura orgânica favorece abelhas solitárias e amplia diversidade alimentar

publicado: 12/09/2025 11h24, última modificação: 12/09/2025 11h24
Pesquisa da UFMA mostra que agricultura orgânica favorece abelhas solitárias e amplia diversidade alimentar

Um estudo internacional coordenado pelo professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Samuel Boff, do Laboratório de Estudos sobre Abelhas (Lea), apontou que áreas agrícolas manejadas de forma orgânica favorecem a reprodução e a dieta das abelhas solitárias. A pesquisa foi conduzida na Alemanha, em colaboração com instituições parceiras, mas seus resultados têm forte relevância para a agricultura brasileira, especialmente no contexto da agricultura familiar.

O trabalho comparou paisagens agrícolas convencionais e orgânicas, monitorando a diversidade de plantas, colonização de ninhos em hotéis de abelhas e a dieta de pólen desses polinizadores. Para isso, os pesquisadores aplicaram técnicas inovadoras de identificação de grãos de pólen com o uso de inteligência artificial (IA), recurso que permitiu quantificar a frequência das espécies vegetais utilizadas pelas abelhas como fonte de alimento.

Segundo o professor Samuel Boff, o resultado mais expressivo foi a constatação de que o número novas abelhas solitárias aumenta na medida em que cresce a proporção de áreas orgânicas na paisagem agrícola, enquanto áreas dominadas pelo modelo convencional apresentam menor produção de abelhas. “Essa diferença está associada às práticas de manejo: na agricultura orgânica, o uso de defensivos agrícolas é muito reduzido ou inexistente, e há maior tolerância à presença de diferentes espécies de plantas e flores no ambiente, o que amplia a disponibilidade de recursos alimentares para as abelhas”, explica.

Outro destaque foi uso da inteligência artificial para identificar e quantificar grãos de pólen. “A aplicação da inteligência artificial representa um passo importante, pois, a partir da construção de uma biblioteca de imagens, a rede pode ser treinada para reconhecer os diferentes tipos de pólen com crescente precisão. Além disso, ao contrário das análises moleculares, a IA possibilita quantificar a frequência dos grãos na amostra, o que é fundamental para compreender a dieta das abelhas e traçar planos para a sua conservação”, relata o professor.

A pesquisa também identificou que, em alguns casos, ninhos em áreas convencionais apresentaram maior número de células de cria por ninho, um dado que surpreendeu os pesquisadores. “Esse resultado, também nos chamou a atenção. Ele pode ser explicado por diferentes hipóteses que precisam ser testadas. É possível que as fêmeas em áreas convencionais sejam mais resilientes e mantenham a reprodução mesmo em condições menos favoráveis. Outra possibilidade é que, em ambientes mais pobres, elas reduzam o número de ovos para investir em filhotes maiores”, destaca Samuel.

Os impactos para o Brasil são diretos: como país agrícola, compreender o efeito das práticas de manejo sobre polinizadores é essencial para garantir tanto a produção de alimentos quanto a conservação da biodiversidade. “Embora haja diferenças entre regiões tropicais e temperadas, nossos resultados indicam que a expansão do modelo convencional tende a reduzir a abundância de abelhas solitárias. Por outro lado, a agricultura familiar, geralmente associada a práticas mais sustentáveis, tem grande potencial para manter populações de abelhas mais diversas e abundantes”, afirma Boff.

Para ele, os resultados também podem subsidiar políticas públicas que incentivem a transição para sistemas de produção mais sustentáveis. “Sistemas orgânicos favorecem populações de abelhas solitárias, polinizadores essenciais para a produção de alimentos no Brasil. Isso reforça a necessidade de políticas públicas que incentivem a expansão da agricultura orgânica e familiar, além de mecanismos que facilitem a transição do modelo convencional para práticas mais sustentáveis”, conclui.

Os próximos passos da pesquisa envolvem ampliar estudos de campo no Brasil. “Os próximos passos envolvem ampliar estudos de campo em diferentes paisagens agrícolas, integrar análises de biodiversidade, genética e comportamento, e testar práticas de manejo que favoreçam a coexistência entre produção agrícola e conservação”, informa o professor.

O artigo com os resultados foi publicado na revista científica Agriculture, Ecosystems and Environment.

Por: Geovanna Selma

Produção: Sarah Dantas

Fotos: acervo pessoal

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