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Oficina Bilíngue: acadêmicos de Grajaú promovem o ensino da cultura e língua Guajajara em escola municipal

publicado: 10/02/2023 11h55, última modificação: 15/02/2023 19h56

O curso de Pedagogia do Programa de Formação de Professores para a Educação Básica do Plano de Ações Articuladas (Profebpar) na UFMA, polo de Grajaú, realizou o projeto de mediação pedagógica “Oficina bilíngue: uma possibilidade para crianças Guajajaras”, que ocorreu na escola municipal Frei Benjamin, localizada no bairro Vila Viana, no município de Grajaú. Entre os meses de agosto e setembro de 2022, os acadêmicos do Profebpar promoveram uma série de ações com objetivo de romper barreiras linguísticas e facilitar o diálogo entre o corpo docente da escola e os educandos indígenas. 

Fruto da atividade de campo do estágio em Gestão de Sistemas Educacionais do curso de Pedagogia, a oficina foi realizada por quatro alunos: Sanayra Lima, Daiane Lopes Guajajara, Ronildo Marizê Guajajara e Taiza Lopes Guajajara. A coordenadora titular do projeto, professora Patrícia Alves Silva, explicou que Grajaú recebe um grande contingente de alunos da etnia Guajajara de aldeias da região, que fica próxima à reserva indígena Morro Branco. Segundo a professora, a escola Frei Benjamin atendia, em 2022, cerca de 560 alunos, dos quais 60% eram indígenas.  

“Apesar de a rede municipal de Grajaú receber esses alunos, ela não apresentava ações de educação bilíngue. Ao chegar à escola para realizar o estágio supervisionado em gestão, nossos alunos, cuja maioria é indígena, observaram que essa era a questão mais emergente. Sendo assim, em um primeiro momento, eles se preocuparam em traduzir as identificações das portas, banheiros e cartazes espalhados para a língua tenetehára, que é a língua materna da cultura Guajajara, a fim de ambientar a escola”, explicou Patrícia. 

Posteriormente, foi feita com o corpo docente da escola uma oficina de língua materna, trazendo vários elementos da cultura indígena Guajajara, apresentando suas principais características e elementos. Sanayra Lima, que está entre os acadêmicos que realizaram o projeto, afirma que o impacto da oficina na dinâmica da escola é notável. “Percebemos que muitos alunos indígenas não conseguiam se comunicar usando a língua materna, assim como o corpo docente da escola tinha dificuldade de manusear a aprendizagem, por não ter conhecimento da realidade do aluno”, analisou. 

A partir do projeto, os professores passaram a se familiarizar com a língua materna desses alunos, além de entrar em contato com aspectos da cultura Guajajara, continua Sanayra. “Nós buscamos trazer para eles relatos dos próprios alunos e histórias de pessoas que saíram da aldeia e foram estudar na cidade. Dessa forma, os professores entenderam a importância da linguagem na sala de aula, ao passo que os alunos notaram a valorização de sua língua, que eles não precisam perder o contato com sua cultura para estudar”, relatou. 

Para a pesquisadora, a importância do projeto é mostrar que a educação tradicional também precisa observar e atender a essas populações. “As escolas precisam entender que o aluno indígena também tem direito a ter aulas ministradas na sua língua. Queremos mostrar que a cultura indígena deve ser valorizada como um meio para a aprendizagem, e não apenas de forma folclórica. Os resultados foram tão positivos que a própria escola solicitou um professor bilíngue, com oficina incorporada ao seu currículo”, ressaltou. 

Saiba mais 

Os Guajajaras estão entre os povos indígenas mais numerosos no Brasil atualmente, com uma população de mais 27 mil indivíduos, segundo dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Eles habitam onze terras indígenas situadas na margem oriental da Amazônia, todas dentro do Estado do Maranhão. 

Seu idioma materno pertence à família linguística tupi-guarani, guardando semelhanças com outras línguas, como o Asurini de Tocantins ou o Suruí, do Pará. O tenetehar ou ze'egete – "a fala boa" como é chamada pelos seus falantes – é subdividido pelos linguistas em quatro dialetos mutuamente inteligíveis. Nas aldeias, o tenetehar é a língua principal, enquanto o português, que é entendido pela maioria, assume a função de língua franca.  

Confira as fotos da iniciativa:

Oficina bilíngue: uma possibilidade para crianças Guajajaras

Por: Orlando Ezon

Produção: Alan Veras

Revisão: Jáder Cavalcante

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