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NOTA DE PESAR: Dileusa Dinis Rodrigues, artista conhecida internacionalmente como Dila, grande expoente da arte Naif

publicado: 08/11/2022 14h17, última modificação: 08/11/2022 19h52

É com imenso pesar que a Universidade Federal do Maranhão comunica o falecimento de Dileusa Dinis Rodrigues, conhecida internacionalmente como Dila, aos 83 anos de idade, expoente da arte Naif, termo de origem francesa que significa “arte ingênua”. Com incontáveis participações em exposições no Brasil e no exterior, tem obras memoráveis no Maranhão, como os grandes murais em azulejo no Centro Pedagógico Paulo Freire e na entrada do Centro de Convenções da UFMA (fotos abaixo), e no Aeroporto Internacional de São Luís – Marechal Cunha Machado e na Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão. O velório ocorre nesta terça-feira, 8, a partir das 15h, na Academia Maranhense de Letras (AML), e o enterro ocorrerá na quarta-feira, 9, às 10h, no Memorial Pax União, na Estrada da Maioba.

Nascida no dia 26 de abril de 1939, em Humberto de Campos, é um dos maiores talentos da história do Maranhão e do Brasil. As obras da artista, para um olhar mais desatento, facilmente, podem se misturar ao dia a dia, uma vez que seus temas favoritos eram o folclore e a cultura popular. A qualidade de seu traço traz o detalhamento no uso das cores, dos efeitos de luz e sombra e, especialmente, da notável narrativa retratada em suas produções.

Reconhecendo seu imensurável legado à cultura maranhense, a Universidade Federal do Maranhão concedeu à artista, em 17 de dezembro de 2021, a honraria Mérito Cultural, título a pessoas que se destacam por suas notórias contribuições à cultura do estado em diversos segmentos. Além disso, a UFMA, por meio da TV UFMA e da Diretoria de Comunicação (DCom) da Superintendência de Comunicação e Eventos (SCE) da UFMA, realizou entrevistas especiais, em que Dila falou sobre sua trajetória, o reconhecimento obtido na carreira e seu amor pela arte.

A Universidade Federal do Maranhão presta suas condolências pela perda se solidariza com familiares, amigos e com toda a equipe do Solar do Outono da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social (Sedes), lar que muito contribuiu com as entrevistas e que abrigava e cuidava diariamente da grande artista.

Confira o programa "Faixa Nobre.doc" com Dila, na íntegra:

 

Confira também a entrevista "Dila: a virtuose da arte ingênua do Maranhão", concedida à DCom e publicada em outubro de 2021:

DCom: Como surgiu seu interesse pela arte?

Dila – A palavra arte vem de arteira. Eu sempre fui uma criança arteira, ninguém podia comigo numa briga, eu fazia bonecas de barro, enfim, nasci para a arte. Você, quando nasce para fazer uma coisa, Deus lhe dá o dom, então os meus quadros, a gente não se sabe de onde vêm, vão saindo.

DCom: Como foi sua trajetória para expor seus quadros sua arte em São Luís e no mundo?

Dila – Olha, isso é uma coisa incrível. Eu saí daqui, fui pra São Paulo, fui pra Recife, expondo, e depois de outra vez em São Paulo, voltei para cá, porque, todas as vezes que eu pintava, voltava. Para pintar, eu botava para tocar um disco de bumba-meu-boi e morria de saudade. Fiz até uma toada linda, que, no dia que eu estiver numa rodada de bumba-meu-boi, vou cantar esta toada.

 DCom: Como você teve a oportunidade de expor no Maranhão e em outras regiões do país?

Dila – As oportunidades vão aparecendo, você não pode é parar. Eu expus em São Luís, depois em São Paulo, e lá tenho um marchand belga que é marchand de todos os artistas de Naif do Brasil, chamado Jacques Ardies. Ele solta a gente para fora, França, tudo quanto é país.

DCom: O que você mais gosta na pintura Naif?

Dila – De tudo. Dos temas, das histórias, de tudo.

DCom: Como vão surgindo as cores de cada obra que você pinta, na sua mente?

Dila – As cores são normais: onde tem o verde, tem o amarelo, tem o azul, tem o vermelho e assim a gente vai produzindo, são lindas. O Naif é uma pintura linda, é uma palavra em francês que quer dizer “pintura ingênua”. É uma pintura que tem um lado muito importante na pintura americana.

DCom: E sua inspiração para seus quadros, onde e quando surge?

Dila – Isso surge espontaneamente. Eu pinto o Bumba Meu Boi, o Tambor de Crioula, Festa do Divino, tudo o que diz respeito ao folclore, e tudo isso tem suas origens, vem de origem popular e de outras raízes.

DCom: O que a senhora sente quando pinta os quadros, com tantos detalhes?

Dila – Os detalhes vêm do Naif, das personagens, das figuras, da história. Geralmente, o Naif pinta uma história, e a história vem do nosso folclore. A arte simplesmente sai, vai saindo, a gente faz um negócio lindo, e não sabe por quê, mas geralmente é algo ligado ao nosso folclore, à nossa história, porque está dentro da gente. Em São Paulo, eu pintava sempre o folclore. Sabe quanto eu tenho no mundo em litografias? Novecentas mil litografias.

DCom: Quando vai fazer alguma obra, a inspiração vem da mente ou de algo que está próximo de você?

Dila – É Deus, Ele é bom demais com a gente. Uma vez eu estava com muita dificuldade de desenhar e de repente eu sonhei com uma revista com várias paisagens, e eu disse no sonho "como eu vou fazer isso?", aí uma voz respondeu: "vai pintar". Era uma voz muito linda, uma voz limpa, sonora, ensinando como pintar. Essa voz me ensinou a pintar, e eu acho que é Deus. Quando Ele manda um artista ao mundo, este caminha por uma longa estrada: caminha, caminha, caminha, e seus rastros são obras que ele deixa para a história, mas é Deus quem manda o artista para registrar.       

DCom: O que significa ter este reconhecimento como artista, com obras e grandes murais, a exemplo, no Aeroporto de São Luís, na Assembleia Legislativa e na Universidade Federal do Maranhão?

Dila – Eu tenho muitos painéis no Brasil. Quando eu morrer, muitas bandeiras serão hasteadas (risos). Eu adoro viver, adoro a vida.

 

Biografia, da Galeria Jacques Ardies

Dileusa Dinis Rodrigues 1939 - Humberto de Campos, Maranhão. Autodidata, iniciou sua carreira em 1968, quando já residia em São Paulo, realizando, nesse mesmo ano, suas duas primeiras exposições individuais, uma no Instituto Cultural Brasil-Argentina, São Paulo, e outra na Galeria 21, de Recife. Nos anos seguintes, participou de diversas exposições no Brasil e no exterior como, por exemplo, na Galeria Gradiva, de Buenos Aires (1973); no Clube Hebraica, em São Paulo (1979); no Museu Histórico do Maranhão, em São Luís (1988); e na Galeria Jacques Ardies em São Paulo (1989 - 1995 - 2005). 

Dila voltou à sua terra natal em 1996, fixando residência em São Luís, onde foi recebida com muito carinho. Declarou na ocasião: “Ali está o meu chão. Está na hora de começar a pintar os babaçuais antes que eles acabem. E quem vai lembrar-se dos nossos pés de guajurus e muricizeiros?”.

A artista sempre esteve amarrada às imagens da memória, ao cotidiano nordestino e às lembranças da infância, que ela expressa em sua arte de forma original. “Espontânea, popularesca, sensibiliza com o fascínio de suas cores vivas, todas as classes sociais. Ingênua na simbologia, mas percuciente em suas mensagens, estabelece com o povo imediata interação”, escreveu o crítico e poeta Afonso Pantoja.

Dila se tornou uma pintora de grande notoriedade e era bastante procurada para realizar grandes murais encomendados pela cidade de São Luís, Maranhão.

Com informações da Galeria Jacques Ardies e do site Catálogo das Artes.

Por: Luciano Santos

Revisão: Jáder Cavalcante

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