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DIA NACIONAL DE ZUMBI E DA CONSCIÊNCIA NEGRA

No Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, pesquisa da UFMA sobre a presença de pessoas negras como fontes no jornalismo gera reflexões

publicado: 20/11/2025 11h08, última modificação: 20/11/2025 11h08
No Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, pesquisa da UFMA sobre a presença de pessoas negras como fontes no jornalismo gera reflexões

O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, consolida-se na esfera pública brasileira como uma plataforma incontornável para a discussão sobre justiça social e a reparação histórica. Instituída em homenagem a Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares e símbolo máximo da resistência à escravidão, a data, além de celebrar o vasto legado cultural da população negra, lança luz sobre as profundas desigualdades estruturais que desafiam o conceito de democracia racial. Neste contexto, o 20 de novembro se torna um catalisador para a reavaliação de estruturas sociais e o fomento a debates fundamentais.

Compreender os trâmites do racismo estrutural é uma atividade de revisão de espaços, logo é necessário aprofundar uma análise crítica, revendo conhecimentos prévios. Assim, tendo a mídia como um espaço de identidade e representação social, a discente do curso de Jornalismo do Câmpus de Imperatriz, Ana Maria da Conceição, desenvolveu a pesquisa: “O contrato da fala: a representação de fontes jornalísticas negras no Jornal Nacional”, que analisou a representatividade de pessoas negras como fontes oficiais, especializadas e primárias nas reportagens do telejornal.

A investigação partiu da percepção da baixa presença de pessoas negras como figuras de autoridades e especialistas na grande mídia. Segundo o Instituto Brasileira de Geografia e Estatísticas (IBGE), mediante a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) foi revelado que a população negra (pretos e pardos) corresponde a 56,7% da população brasileira (dados do 2º trimestre de 2024), sendo a maioria no país; a graduanda, então, realizou a análise de como essa maioria se torna minoria quando o assunto é credibilidade e protagonismo na construção da notícia.

Como método da pesquisa, foi realizada uma abordagem quantitativa e qualitativa, além de observação de conteúdo das edições entre 1° e 31 de agosto de 2024. Foram observados critérios como: raça, gênero e classificação da fonte – ao total foram revisados 27 folhetins.

Os dados revelaram que fontes negras ainda aparecem em baixa proporção no Jornal Nacional, fontes brancas são maioria, principalmente entre oficiais e especialistas, pessoas negras surgem com mais frequência em pautas esportivas e de questões raciais propriamente. Há quase ausência de especialistas negros em áreas como política, economia, meio ambiente e saúde, o tempo de fala de fontes negras é inferior ao de fontes brancas.

Os resultados apontam que, mesmo com avanços pontuais na representatividade, o telejornal ainda reproduz desigualdades estruturais, reforçando a centralidade da branquitude e reduzindo o acesso de pessoas negras ao lugar de discussão. A pesquisa da discente demonstra a importância de diálogos abertos e contínuos sobre igualdade racial na atualidade, pois ainda existem desafios a serem superados.

Neste cenário, Ana Maria da Conceição, destaca que a desigualdade não está apenas no conteúdo dos telejornais, mas em quem tem legitimidade para falar. “Ao analisar quem pode falar e ser ouvido no principal telejornal do país, percebemos que a desigualdade não está apenas no que é dito, mas também em quem pode dizer. A pesquisa reforça que a representatividade não deve se limitar à presença na tela, mas ao direito de ocupar espaços de autoridade e credibilidade. Quando pessoas negras são silenciadas nos telejornais, toda a sociedade perde”, enfatiza.

A orientadora do trabalho e professora do curso de Comunicação Social – Jornalismo da UFMA Imperatriz, Leila Sousa, salienta que o jornalismo ainda privilegia vozes brancas e retrata pessoas negras de forma estigmatizada, reproduzindo desigualdades que, segundo ela, precisam ser combatidas. “É discrepante o tempo de tela entre negros e brancos e fica evidente o papel das instituições na reprodução do racismo. Privilegiar a voz de pessoas brancas como fontes oficiais e legítimas e situar pessoas negras majoritariamente em pautas sobre violência e vulnerabilidades, é uma prática ainda muito comum e rotineira no jornalismo brasileiro e que precisa ser denunciada e erradicada”.

Dessa forma, o Dia da Consciência Negra reforça a importância de pesquisas que evidenciam como o racismo estrutural ainda molda práticas e narrativas no campo da comunicação. A data de 20 de novembro, portanto, não é um marco comemorativo em apenas um dia, mas sim um indicador de que a busca pela construção de uma sociedade mais justa para todos seja constante.

A Universidade Federal do Maranhão, como veículo de aprendizado, reforça a missão de engajar medidas que celebrem o debate e a uniformidade, tanto internamente, como na sociedade civil por um todo, visto que o trabalho acadêmico produzido na academia contribui para discussões e avanços externos.

Por: Elcyane Ayres

Produção: Sarah Dantas 

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