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PRÊMIO FAPEMA 2023

Método sustentável desenvolvido no Câmpus Chapadinha aumenta a produtividade das culturas de milho

publicado: 06/12/2024 10h51, última modificação: 06/12/2024 15h20
A proposta combina pesquisa acadêmica com extensão rural, buscando soluções práticas para minimizar custos e aumentar a eficiência alimentar.
Método sustentável desenvolvido no câmpus Chapadinha aumenta a produtividade das culturas milho

Localizada no leste maranhense, Chapadinha tem uma vocação agrícola relevante, mas que apresenta grandes desafios, como o déficit hídrico, decorrente das condições naturais da região, que possui solo arenoso e clima tropical úmido, com períodos de chuvas e estiagem concentradas em alguns períodos do ano. Essa combinação pode causar impactos negativos na produtividade de culturas como o milho.

Com base nessa problemática enfrentada pelos produtores de milho, principalmente na entressafra (período mais seco e sem chuvas), a estudante do curso de Zootecnia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Câmpus Chapadinha, Victorya Maria Ferreira Martins tem realizado estudos para melhorar a produtividade de biomassa dos grãos, com foco no desenvolvimento de forragens destinadas à alimentação de ruminantes.

Victorya explica como iniciou a pesquisa: “eu sou bolsista do grupo do Gepruma desde 2022. Quando eu cheguei ao grupo, essa pesquisa já estava em andamento. É uma pesquisa que foi para a dissertação de mestrado. Durante esses anos, a gente vem fazendo pesquisa cada vez mais levada para a forragem de cultura aqui na nossa região, que é uma região com solos mais arenosos, mais seca. E aí essa pesquisa a gente faz dentro da Universidade para que a gente possa levar para fora para outros produtores para minimizar custos, para trazer uma forragem melhor nutricionalmente para os animais”.

A pesquisa de Victorya, intitulada “Produtividade, índice de colheita, sanidade dos grãos e eficiência agronômica de milho hibrido utilizando polímeros retentores de umidade no solo na entressafra agrícola com uso sustentável de água”, investiga o uso de polímeros hidrorretentores, que funcionam como géis que absorvem e armazenam água, liberando-a lentamente para as plantas, como uma estratégia essencial para a manutenção da umidade do solo, particularmente durante a fase crítica de germinação das plantas.

Aplicados semanalmente, desde a germinação até a colheita, os polímeros ajudam a reduzir o estresse hídrico em períodos de irrigação limitada. Sua eficácia foi comprovada no aumento da produtividade agrícola durante a entressafra, com melhor desempenho em termos de biomassa, melhor qualidade dos grãos e menor perda durante a ensilagem. A pesquisa também revelou melhorias na estrutura radicular das plantas e outros aspectos cruciais para o desenvolvimento das culturas. Isso oferece uma solução viável para produtores enfrentarem a escassez de água de forma mais eficiente, garantindo maior estabilidade na produção animal e vegetal.

O estudo, que incluiu a preparação do solo, plantio, irrigação e monitoramento do crescimento das plantas por um período de 90 a 120 dias, culminando na colheita e no processo de ensilagem, contou com a participação de alunos de graduação e pós-graduação da UFMA, promovendo um ambiente de aprendizado prático.

“Essa pesquisa foi realizada no câmpus mesmo. A gente começou com a preparação do solo na área, a gente fez todos os cálculos de quantas plantas, por cova. Foi um trabalho bem árduo, de uns três dias. A gente vai lá em campo, a gente planta, a gente faz a nossa escala de irrigação. Todos os dias a gente vai lá e irriga essa planta e acompanha todo o crescimento dessa planta desde a germinação. A gente faz as avaliações em campo. E aí ali em torno, entre 90 e 120 dias, a gente vai lá e colhe. E aí a gente vai para o processo da encilagem. E é tudo feito aqui dentro. E é bem legal porque a gente sempre traz outros alunos, novatos aqui da área, para participar disso”, afirma Victorya sobre a metodologia do estudo.

Após a fase de campo, os resultados são organizados e divulgados tanto para a comunidade acadêmica quanto para produtores rurais, com linguagem adaptada.

“Depois de toda essa parte em campo, a gente começa a escrever, começa a publicar, começa a conversar com outras pessoas para poder levar isso tanto para outros pesquisadores, quanto para um produtor rural, de uma forma não tão técnica”, complementa a discente.

A pesquisa da Victorya alcançou um estágio em que há transferência da tecnologia desenvolvida na Universidade para o campo, suas inovações já estão sendo aplicadas por produtores rurais. A interação é crucial para aproximar a academia do setor produtivo, traduzindo o conhecimento técnico em soluções práticas e compreensíveis para o público do campo.

Embora a pesquisa tenha nascido de uma necessidade específica da região leste do Maranhão, os resultados podem ser amplamente aplicáveis em outras regiões. A utilização de polímeros, por exemplo, pode ser adaptada a diferentes cenários agrícolas, incluindo períodos de entressafra ou regiões com características de chuvas espaçadas. Isso demonstra a flexibilidade e relevância das tecnologias desenvolvidas pelos pesquisadores da UFMA.

Desafios e aprendizados da pesquisa

Descrevendo como foi realizar a pesquisa e os resultados encontrados pouco se imagina os desafios superados por quem faz ciência. No caso da Victorya, os desafios incluíram tanto dificuldades práticas no campo quanto questões logísticas e de planejamento. Durante o trabalho de campo, a estudante enfrentou os mesmos problemas que os produtores, como monitoramento diário das plantas, controle de pragas e manejo de irrigação. Além disso, houve desafios relacionados à aquisição de insumos e ao financiamento do projeto, apesar de já aprovado em órgãos de fomento. Esses obstáculos exigiram esforço e flexibilidade, tornando a experiência enriquecedora, apesar de cansativa.

Para Victorya os principais desafios foram em campo “porque durante esse processo, a gente está lá no campo, no dia a dia, a gente passando pelo que o produtor passa na roça. Lá, o processo de irrigar, o processo de, diariamente, medir a planta, de observar, de ver se está tendo pragas ou não, insetos ou não, nessa colheita”.

Daniele de Jesus Ferreira, orientadora da Victorya nessa pesquisa, aponta que o planejamento e a aquisição de insumos foram os principais desafios a serem superados. “Primeiramente, as ideias iniciais que nós pesquisadores começamos a colocar: ‘Será que isso vai funcionar numa região em que a seca, ela é tão marcante? Será que vai haver o desenvolvimento?’. Outro ponto é a aquisição de insumos. Mas a parte de campo também é [desafiadora]. Às vezes, a planta não germina a tempo, e a gente começa a ficar preocupada, aí a gente faz transplantio, planta de novo, até chegar lá no final. Algumas espécies que nós escolhemos não deram certo, aí a gente tem que lançar mão de outras estratégias porque não respondem, aí são desafios que fazem parte”, enumera a orientadora.

Esses obstáculos, apesar de desafiadores, são considerados parte essencial do aprendizado e da evolução no campo da pesquisa.

Prêmio e reconhecimento

O avanço tecnológico proposto por Victorya recebeu o reconhecimento da agência de fomento do Maranhão, a Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), conquistando o segundo lugar no Prêmio Fapema 2023, na categoria “Popvídeo Ciência”.   A premiação foi celebrada pelas pesquisadoras como um marco importante, com destaque para o esforço coletivo. Além disso, a conquista reforçou a motivação para continuar enfrentando os desafios da vida acadêmica e da pesquisa científica.

“Eu fiquei muito feliz porque é um trabalho árduo. Então, a gente fica muito feliz quando a gente é reconhecida. Às vezes, a gente faz as coisas sem precisar ser reconhecido, porque a gente faz para aprender, mas é muito gratificante quando a gente é reconhecida pelo nosso trabalho. E é um trabalho em grupo. Não fiz sozinha, nada foi sozinha, sempre, desde o início, desde a ideia, quando vem a ideia lá dos nossos orientadores, da professora Daniela e do professor Zanini, que eles passam por grupo. Então, é um prêmio muito gratificante para mim, não só para mim, foi um prêmio para o grupo, porque o trabalho é realizado o tempo todo em grupo, e eu achei muito interessante ver vários pesquisadores de várias áreas diferentes”, expressa Victorya.

Considerando que a vida de pesquisador não é fácil e que muita gente desiste no meio do caminho, para Daniele, a premiação é um sinal que ainda há esperança, que há pessoas que ainda querem essa vida de pesquisador. Segundo a orientadora, conquistar o Prêmio Fapema pode ser avaliado por diversas perspectivas e enumera:

“Quando nós temos essa premiação, como a Vitória falou, de reconhecimento, o reconhecimento é muito importante para característica humana, social, psicológica, emocional, que o seu trabalho tem uma importância, tem uma contribuição para a produção científica, mas principalmente uma questão de um fortalecimento do compromisso social e o fortalecimento profissional”, pontua a orientadora, complementando:

“levar aquilo que testamos no campo para ser disseminado dentro da sociedade, e quando encontramos alguém, um produtor, que ele olha, eu trabalhei dessa forma, eu utilizei o que vocês é extremamente gratificante, e essa premiação, como a Vitória falou, ela não é minha, ela não é só da Vitória, ela é uma premiação do grupo, porque nós somos um grupo, todos ali trabalham, todos ali estão empenhados dentro dessa pesquisa, e é um fortalecimento para o próprio aluno, para a própria comunidade, como ela falou, o impacto dentro do desenvolvimento acadêmico desse aluno, de forma que isso estimula ele desde o melhor desempenho na própria graduação a levar essa disseminação, a estimulação de uma inovação que é extremamente importante para o campo profissional”, finaliza a professora.

O desenvolvimento da sociedade depende diretamente de avanços científicos e tecnológicos. Nesse sentido, Victorya deixa uma mensagem: “a minha consideração é que outras pessoas vão ver essa reportagem e que elas lembrem de não desistir da ciência, da tecnologia, da pesquisa porque a nossa sociedade ela depende da pesquisa. E que as pessoas devem lembrar de nunca trabalharem sozinhas porque trabalhar em grupo, mesmo que seja complicado, difícil, é importante. A gente nunca cresce sozinha”.

Sobre o Prêmio Fapema

O Prêmio FAPEMA, desde 2005, evidencia a Produção Científica no Estado do Maranhão e reconhece os pesquisadores(as) que desenvolvem soluções utilizando as ferramentas disponíveis para fazer Ciência, Tecnologia e Inovação. A cerimônia de premiação é o ápice do processo de avaliação, em que os(as) vencedores(as) são laureados(as) com o Troféu de Reconhecimento.

Com o propósito de incentivar a Produção Científica, o Prêmio FAPEMA homenageia Pesquisadores Juniores, Jovens Cientistas, Mestres, Doutores, Pesquisadores Seniores, Jornalistas, Extensionistas e Inovadores Tecnológicos, além do reconhecimento popular da categoria Popvídeo Ciências.

Por: Ingrid Trindade

Fotos: arquivo pessoal

Revisão: Jáder Cavalcante

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