Mestranda do Programa de Pós-graduação em Sociologia da UFMA recebe prêmio no XXI Congresso Brasileiro de Sociologia

Com o trabalho “Trajetórias de Homens Negros no Sistema Prisional: prisões e sujeitos no Tocantins", a mestranda Luciana Conceição da Silva, do Programa de Pós-graduação em Sociologia (PPGS-UFMA), ganhou destaque em sua pesquisa no 21° Congresso Brasileiro de Sociologia (SBS), que ocorreu nos dias 11 a 14 de julho, em Belém do Pará. O estudo teve por objetivo acompanhar a trajetória de homens autodeclarados negros, participantes do clube de leitura no sistema prisional, localizado no extremo norte do Tocantins, e acompanhá-los no processo de liberdade.

A pesquisa em questão destaca duas dimensões invisibilizadas pela sociedade brasileira: o debate sobre prisões e o reconhecimento do racismo como um elemento estrutural e sistêmico na constituição da sociedade brasileira. “Nossa análise reafirma a denúncia do encarceramento em massa de homens negros, mas também pretende ouvi-los buscando compreender os processos de identificação, com base na experiência da restrição da liberdade”, ressalta a orientadora do projeto, doutora Karina Almeida de Sousa.

A trajetória de Luciana teve início em 2017, em Tocantinópolis (Tocantins), com um projeto de extensão universitária de leitura e remissão de pena. Esse projeto a auxiliou na escrita de seu TCC em 2021, que consistiu na leitura de fragmentos de textos e letras de canções. Em 2018, o projeto expandiu-se, envolvendo dezenove detentos do sistema prisional, que leram mais de trinta livros, entre eles "Ubirajara”, de José de Alencar, "Metamorfose”, de Franz Kafka e "O Vampiro que Descobriu o Brasil”, de Ivan Jaf, em que faziam debates e resenhas sobre várias temáticas, incluindo gênero, raça e prisões.

Entretanto a pandemia trouxe dificuldades para realizar o trabalho em campo, o que a fez mudar seu foco. Assim, no ano de 2022, quando ingressou no mestrado em sociologia no PPGS de Imperatriz, continuou a explorar a temática das prisões, mas agora focada na trajetória de homens negros, acompanhando aqueles que passaram pelo sistema prisional e agora estão em liberdade. Esse acompanhamento foi realizado com base no projeto "Clube dos Livres", que consiste em oficinas de leitura visando à ressocialização dos detentos na cadeia pública de Tocantinópolis.

Luciana utiliza em sua pesquisa algumas obras que selecionou baseada em seus diários de campo, diálogos e debates ocorridos no presídio, assim como os contatos que estabeleceu com as pessoas que foram libertas. “Faço essa trajetória tanto dentro quanto fora da prisão, com base em algumas temáticas literárias. Entre elas, estão "A Prostituta Respeitosa", de Jean-Paul Sartre; e "Barrela", de Plínio Marcos, que foram textos que trouxeram o debate sobre raça, as reações desses debates e das pessoas que participaram, a maioria negros, sobre racismo, poder e o descaso do sistema prisional”, enfatiza.

A pesquisa da mestranda representa um desdobramento que vem sendo construído desde sua graduação, e o mestrado ampliou suas inquietações sobre a importância de abordar questões raciais no contexto das prisões. “Como mulher negra, essa perspectiva me instigou a ouvir e compreender o que essas pessoas pensam sobre a temática racial, tanto dentro quanto fora do regime penitenciário” aponta.

Saiba mais

O XXI Congresso Brasileiro de Sociologia foi promovido pela Sociedade Brasileira de Sociologia e realizado na Universidade Federal do Pará (UFPA). Segundo a organização, foram mais de 1.700 pessoas inscritas no Congresso, compondo os Fóruns, Minicursos, Conferências, Sessões Especiais, Mesas-Redondas, Comitês de Pesquisas, Grupos de Trabalhos, Sessão de Lançamento de Livros, Mostra Fotográfica e de Vídeos e atividades cultuais.

Por: Karla Costa

Produção: Alan Veras

Revisão: Jáder Cavalcante