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I Encontro da Comunidade Igaípe, em Brejo, contou com o apoio do Gaep, da Pós-graduação em Cultura e Sociedade

publicado: 23/01/2023 13h10, última modificação: 24/01/2023 12h27
A iniciativa foi organizada pelo povo Anapuru Muypurá e também teve apoio do Conselho Indigenista Missionário no Maranhão

No sábado, 14, ocorreu o I Encontro da Comunidade Igaípe, de tema "Memória, luta e pertencimento", na comunidade de Igaípe, no município de Brejo, a 315 quilômetros de São Luís. O encontro foi organizado pelo povo Anapuru Muypurá com apoio do Conselho Indigenista Missionário (Cimi-MA) e do Grupo de Pesquisa Epistemologia da Antropologia, Etnologia e Política (Gaep), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (PGCult) e ao Centro de Ciências do Câmpus São Bernardo (CCSB) da Universidade Federal do Maranhão.

Estiveram presentes indígenas Anapuru Muypurá da região do Baixo Parnaíba Maranhense, que relataram sobre o silenciamento das suas memórias ancestrais, os processos de retomada e levante e a luta pelos direitos originários. Foi exibido o documentário “Brotos Originários” (2022), de Priscila Aguiar, e, em seguida, a comunidade relatou suas histórias e memórias de origem. O encontro, com participação de toda a comunidade, contou, ao final, com um lanche com bolos, sucos e frutas. 

“Para mim, foi um grande privilégio participar desse encontro indígena. Aqui na comunidade, nunca tinha acontecido um encontro nesse sentido. Nós sabemos que, embora os anos tenham se passado, a cultura indígena ainda vive aqui. Nós temos que buscar nossos espaços, nossa história”, declarou Gisele Gomes, moradora da comunidade Igaípe.

Victor Anapuru Muypurá, da comunidade indígena em Teresina, Piauí, relatou que, para ele, o I Encontro do Igaípe foi muito produtivo, com as discussões sobre a história e identidade dele e de sua comunidade, com a consciência de pertencimento e com o incentivo à busca pela história da própria família.

“Muitos foram silenciados, e, hoje, precisamos escutá-los, uma vez que um dia foram proibidos de falar quem eram, falar sua língua materna e de praticar sua cultura. Esse encontro fortalece cada vez mais nossa retomada. Nós, indígenas Anapuru Muypurá, estamos aqui para reafirmar que não fomos extintos, ainda pisamos nestas terras que nossos pais, avós e nossos ancestrais também pisaram. Nós Anapuru Muypurá resistimos”, declarou Victor.

Márcio Saraiva Muypurá, da respectiva comunidade indígena em Brejo, ressaltou a importância em reunir seus parentes e partilhar as memórias ancestrais para o fortalecimento da luta coletiva. “Acredito que cada um que participou saiu com a missão de transformar os espaços que ocupamos. O povo Anapuru Muypurá resiste”, afirmou.

Saiba mais

Segundo o indígena Lucca Anapuru Muypurá, o povo Anapuru Muypurá é originário da região Nordeste e ocupava, no século XVI, áreas hoje pertencentes aos estados do Maranhão, Piauí e Ceará. Atualmente, o povo está em processo de retomada e autoidentificação contemporânea na região do Baixo Parnaíba, no Maranhão. Registros históricos, a exemplo o mapa etno-histórico de Curt Nimuendajú, apontam que os indígenas Anapuru Muypurá já viviam nessa região no século XVII.

Atualmente, os Anapuru Muypurá se apresentam dispersos em várias áreas rurais e urbanas do Estado do Maranhão. Contudo o povo possui maior concentração familiar em Brejo, Chapadinha e demais municípios da região do Baixo Parnaíba. Há também famílias nos estados que fazem fronteiras com o Maranhão: Pará, Piauí e Tocantins.

O processo de invisibilidade social do povo Anapuru Muypurá, conforme relata Lucca, começou a mudar em 2019, quando começaram a se reorganizar politicamente e estabelecer relações constantes com o Conselho Indigenista Missionário e com os demais povos indígenas em processo de retomada no Maranhão (Akroá Gamella, Tremembé do Engenho e da Raposa, Kariú Kariri e Tupinambá). Os Anapuru Muypurá deram início ao processo de investigação de sua própria história, “cavando memórias” e publicando-as nas redes sociais, inclusive com relatos de luta pelos seus direitos originários, sendo o primeiro deles a terra.

Um dos aspectos centrais da identidade Anapuru Muypurá é a memória de uma origem comum que os liga ao tempo do antigo aldeamento Brejo dos Anapurus, na região do Baixo Parnaíba Maranhense. Algumas famílias Anapuru Muypurá ainda mantêm suas práticas ancestrais, como o cultivo de lavouras, a cura por de plantas medicinais e benzimentos, o culto aos encantados, a confecção de artesanatos de palha e barro, entre outras.

Confira as fotos:

Realização do "I Encontro da comunidade de Igaípe: memórias, lutas e pertencimento" em Brejo- MA com apoio do Grupo de Pesquisa GAEP/PGCULT - 14-01-2023

Por: Luciano Santos

Produção: Alan Veras

Revisão: Jáder Cavalcante

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