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Herbário MAR da UFMA celebra doze anos de existência com um acervo de 16 mil espécimes

publicado: 25/07/2025 11h16, última modificação: 25/07/2025 13h35
Coleção científica se consolida como referência na conservação da flora maranhense e no avanço da pesquisa no Meio Norte brasileiro
Herbário MAR da UFMA celebra doze anos de existência com um acervo de 16 mil espécimes

Era 8 de julho de 2013 quando, oficialmente, o Herbário do Maranhão (MAR) ganhava nome e reconhecimento no Departamento de Biologia (DEBIO) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Idealizado e fundado pelo professor do DEBIO Eduardo Bezerra, atual curador da coleção, o espaço tornou-se muito mais que um repositório de plantas, é o grande resultado de uma longa história de dedicação à biodiversidade, à pesquisa científica e ao resgate de um patrimônio natural do estado.

Na UFMA, existem cerca de seis herbários distribuídos nos câmpus de São Luís, Bacabal, Chapadinha, Pinheiro, Codó, Grajaú. O primeiro Herbário da Universidade foi o Herbário Ático Seabra, fundado na década de 1980 e vinculado ao Departamento de Farmácia, que tinha como curadora a professora Terezinha Rêgo. Atualmente, os materiais do herbário Ático foram integrados ao Herbário do Maranhão. 

Atualmente, com um acervo de aproximadamente 16 mil espécimes vegetais, o Herbário MAR celebra doze anos de existência com conquistas que vão além das fronteiras, integrando o INCT - Herbário Virtual da Flora e dos Fungos, que está inserido na Rede Brasileira de Herbários e é indexado internacionalmente no Index Herbariorum, diretório mantido pelo renomado New York Botanical Garden (EUA). Mas sua trajetória começa bem antes da data oficial de criação.

Raízes históricas e preservação das exsicatas  

A gênese da coleção biológica remonta à década de 1980, quando o geneticista Warwick Estevam Kerr, reconhecido por seu trabalho pioneiro na genética de abelhas, foi convidado a organizar o DEBIO da UFMA. Convidados por ele, vieram os botânicos Ilse e Gerhard Gottsberg, que iniciaram as primeiras coletas botânicas no estado, com destaque para os cerrados e áreas de transição ecológica. Essa pesquisa, juntamente com a fusão do Herbário Ficológico do Laboratório de Hidrobiologia da UFMA, foram fundamentais para a consolidação do que hoje é o Herbário.

As espécies passam por um longo processo quando chegam ao Herbário, uma ação que intensifica a preservação das amostras: a primeira etapa é a arborização - que consiste na prensagem da planta no papelão ou no jornal, seguido de choque térmico para remover microrganismos entre a secagem na estufa e a conservação no freezer; após a secagem completa, passa pela montagem em uma cartolina e pela identificação na etiqueta; logo depois, as amostras são herborizadas e armazenadas no herbário. Quando passam por esse processo, recebem o nome de exsicatas. 

A primeira exsicata data de 7 de agosto de 1981 e pertence à espécie Gustavia augusta L. (família Lecythidaceae), coletada em Santa Rita, às margens da BR-135. A partir dali, formou-se uma coleção que também agregou outras cidades do estado, como a Ilha do Maranhão, Codó, Barreirinhas, Alcântara e Nina Rodrigues, sendo assim, uma coleção científica e especializada na Flora do Maranhão, mas que também abriga espécimes da flora de estados circunvizinhos. Esse é o maior do Estado do Maranhão. 

Herbário MAR impulsiona novas pesquisadoras

O trabalho é contínuo para manter o laboratório, com isso, novas gerações de estudantes atuam na pesquisa e na conservação das amostras, como a mestranda em Ciência e Tecnologia Ambiental Dayane Sousa Candido e a estudante do curso de Ciências Biológicas Maria Luiza Alves Soares. Além do apoio técnico, as pesquisadoras fazem parte do Laboratório de Estudos Botânicos (Leb), com orientação do docente Eduardo Bezerra.  

O ponto de partida para a entrada de Maria Luiza Soares no Herbário foi o incentivo gerado pelo professor e pelo desejo de ampliar os saberes na área. “Dentro do laboratório, passando por todas as etapas e conhecendo, comecei a me interessar bastante por essa área de morfologia vegetal. Mas, até então, eu não tinha tido contato com o herbário em si. Foi uma proposta do professor Eduardo que me fez interessar-me pela área de frutos, que seria a coleção da carpoteca, que já seria um armazenamento de frutos, como um herbário, só que voltado para frutos. Como o herbário e a carpoteca dividem o mesmo espaço, comecei a ter muito contato também com essa área das plantas secas, as exsicatas”, compartilhou.

A bióloga Dayane Candido desenvolveu sua monografia dentro do Herbário, seguindo a mesma temática no mestrado, sendo um exemplo do impacto positivo desse espaço na formação acadêmica. “Eu realmente me encontrei na área da botânica, mais especificamente com o herbário. Para mim, foi muito enriquecedor, porque eu pude fazer todo o meu trabalho de monografia aqui dentro e no mestrado mantive a mesma linha de pesquisa com o Herbário do Maranhão, só que uma coisa mais extensa, já voltado para catalogar as plantas. O Herbário está em tudo, tanto para catalogar o registro da flora, quanto documentar, entre outros aspectos que são muito enriquecedores”, comentou.                                                  

Um legado em constante crescimento

O Herbário reúne projetos de pesquisa, extensão, saídas de campo e parcerias entre cursos e laboratórios de todo o estado. Cerca de 90% dos dados textuais estão disponíveis ao público, e 91% das amostras são georreferenciadas, contribuindo diretamente para o mapeamento da biodiversidade do Meio Norte brasileiro. As coletas abrangem ecossistemas diversos como dunas, restingas, Cerrado e Floresta Amazônica, sendo o herbário um testemunho científico da vasta biodiversidade brasileira, referência para a pesquisa de outras áreas, como Farmácia e Oceanografia.

Para o professor Eduardo Bezerra, o Herbário é muito além de um registro da biodiversidade. “A conservação do acervo é fundamental, pois pode colaborar na elaboração de políticas públicas, subsidiando dados sobre áreas prioritárias para a conservação da flora no Maranhão. O Herbário MAR também tem sido um espaço de formação acadêmica e técnica, recebendo estagiários, bolsistas de iniciação científica, mestrandos e doutorandos, colaborando com cursos de graduação e pós-graduação da UFMA e outras instituições do estado. Também realiza ações de extensão e educação ambiental, promovendo exposições, recebendo visitas de escolas ou ministrando palestras sobre a flora maranhense e a importância das coleções botânicas”, destacou.

O Herbário MAR é um espaço vivo de memória, ciência e futuro. Cada amostra carrega uma história: de quem coletou, de onde veio, do bioma que representa. E, ao completar doze anos de existência formal, tem grande contribuição para a formação de novos cientistas e a conservação do patrimônio natural do Maranhão.

Para Eduardo Bezerra, a longevidade do projeto só foi possível por meio de grandes parcerias. “Um dos marcos para o Herbário MAR foi o recebimento do acervo do Herbário Ático Seabra. O Ático Seabra estava desativado, e, após algumas reuniões, o Departamento de Farmácia entendeu a importância de unificar as coleções e doou todas as exsicatas para o Herbário MAR. Com essa união, fortalecemos ainda mais as pesquisas com plantas no Maranhão. Como recebemos um bom volume de amostras, após serem triadas e registradas, acreditamos que o Herbário MAR vai alcançar a marca de 20 mil exsicatas registradas. E a partir dessa união, no intuito de colaborar com mais pesquisas botânicas, serão criadas subcoleções”, pontuou o professor.

O Herbário do Maranhão é um espaço para além da coleção de plantas secas. A pesquisa, a extensão, o aprendizado e a preservação da biodiversidade são fortalecidos a partir dessa iniciativa. Os pesquisadores são os responsáveis pela consolidação do local e da história construída. O acervo botânico recebe visitas de escolas, de taxonomistas, de estudantes de outros cursos e a equipe ainda promove o contato mais acessível, levando o herbário nas escolas. São doze anos de uma longa trajetória cercada de desafios, de muito aprendizado e de respeito à nossa biodiversidade. 

Para mais informações sobre o Herbário MAR, acesse o site, disponível aqui.

Por: Giovanna Carvalho e Aline Vitória

Produção: Sarah Dantas

Fotos: Giovanna Carvalho

Revisão: Jáder Cavalcante

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