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Grupo de Estudos em Câncer de Pênis realiza estudo inédito e inovador sobre o sequenciamento genético da população latino-americana

publicado: 27/07/2022 11h38, última modificação: 27/07/2022 15h31

O Instituto Nacional do Câncer (Inca), órgão que atua no desenvolvimento e na coordenação de ações integradas para controle e prevenção do câncer no país, estima que aproximadamente 463 pessoas morreram no Brasil vítimas de câncer de pênis no ano de 2020. Segundo o Ministério da Saúde, as baixas condições socioeconômicas e de instrução, a má higiene íntima, a fimose e a infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) são apontados como fatores de risco determinantes para o quadro clínico de câncer peniano.

Devido à sua gravidade e ao grande nível de desinformação sobre o assunto, campanhas sanitárias são desenvolvidas todo ano com o objetivo de informar e conscientizar a população sobre a doença como, por exemplo, a Campanha Novembro Azul. Antenada com essas questões, a Universidade Federal do Maranhão também é uma grande aliada no combate contra o câncer peniano, por meio do Grupo de Estudos em Câncer de Pênis (Gecap), que conta com a colaboração da professora Silma Regina Ferreira Pereira, do Departamento de Biologia da Cidade Universitária.

Segundo a pesquisadora, a ideia de estudar o câncer de pênis surgiu após passar uma temporada nos Estados Unidos fazendo seu pós-doutorado. Lá, Silma já desenvolvia pesquisas voltadas para o câncer de mama, mas,, quando retornou ao país, observou que o câncer de pênis é mais comum em países em desenvolvimento como o Brasil. “Já que câncer de mama é bastante estudado em vários países, porque tem bastante recurso financeiro para a pesquisa, pensei em investir em algo que é um problema da região, dos nossos pacientes e que, com as técnicas em genética que eu aprendi nos Estados Unidos, eu poderia iniciar um grupo de pesquisa sobre câncer de pênis”, afirmou.

Desde 2016, o Gecap promove estudos na área, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema) e conta com a participação de estudantes de graduação, como Biologia e Medicina, além de alunos da Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGSC), médicos urologistas e oncologistas do Hospital Aldenora Bello (HAB) e do Hospital Universitário da UFMA (HU-UFMA). Entre suas principais conquistas, está o primeiro sequenciamento genético de câncer peniano da população latino-americana, feito considerado inédito na área.

A realização foi possível graças à participação, em 2021, no edital VarsConsult para a análise de bioinformática de dados da técnica new generation sequencing (NGS), com o trabalho “Assinatura mutacional de carcinoma de pênis HPV positivo utilizando sequenciamento de alta performance de regiões codificantes (exoma)”. De acordo com Silma, o sequenciamento foi feito na Dinamarca, e a análise dos dados, no Laboratório de Genética e Biologia Molecular (LabGeM) da UFMA, em parceria com o grupo de bioinformática VarStation. Como resultado, foram verificadas alterações no ácido desoxirribonucleico (DNA) das células tumorais, e identificadas mutações exclusivas em tumores ligados ao HPV.

Este feito inédito cria novos caminhos no tratamento e na prevenção do câncer, além de realizar uma melhor compreensão sobre a origem da doença. “O objetivo principal é conhecer a heterogeneidade de mutações que há nesse tipo de câncer e, com base nas mutações conhecidas, buscar alguns genes que poderiam ser mais importantes no sentido de encontrarmos marcadores genéticos para diagnósticos, prognósticos e, também, terapia desse tumor. Populações da Europa, Ásia e América do Norte já têm dados sobre o perfil mutacional dos seus pacientes, mas nossa população tem um background genético diferente, além de um perfil socioeconômico particular”, informou Silma Regina.

Em 2020, o grupo já havia realizado um estudo que abordou a relação entre o vírus HPV (Papilomavirus humano) e o câncer peniano (publicado na revista Molecular Carcinogenesis). Na época, foi realizada a biopsia no tumor, em que foram verificadas variáveis clínicas como tamanho, estadiamento, se o tumor tinha ou não infecção por HPV e qual o tipo de risco do HPV. “O trabalho mostrou que a nossa população tinha uma frequência de pacientes com infecção viral por HPV altíssima, mais de 95% dos pacientes. Nós genotipamos e conseguimos identificar os tipos de HPV, e foi constatado que a maioria era de alto risco, com uma associação muito forte com a tumorigênese. A partir disso, foram publicados trabalhos sobre alterações genéticas em DNA quanto às alterações no ácido ribonucleico – RNA”, pontuou.

O perfil dos pacientes do Maranhão contrasta com o das populações anteriormente avaliadas, nas quais a maioria dos tumores são HPV negativos, acrescentou a docente. “Nosso trabalho busca, portanto, melhor entender o papel do HPV na gênese desses tumores, focando em possíveis novos alvos de prognóstico e terapia. Fico muito animada com os nossos resultados, que revelaram dez genes frequentemente mutados exclusivamente na nossa população. As terapias direcionadas a alvos moleculares têm sido a busca das pesquisas em câncer em todo o mundo”, explicou.

Visto que se trata de uma doença debilitante, a conscientização da população masculina é necessária, uma vez que os homens, mesmo ao observarem feridas e inflamações na região peniana, não costumam buscar ajuda médica enquanto ainda há tratamento. Alguns passam até pelo processo de amputação do membro, o que traz, como consequência, comorbidades ao paciente, além de questões sociais e psicológicas.

Para mais informações, como os principais sintomas, diagnósticos e tratamentos, acesse a página do Inca e do Ministério da Saúde.

Saiba mais

Além da professora Silma Regina Ferreira Pereira, atualmente, também participam junto ao Gecap a professora Ana Paula Silva dos Santos, do Departamento de Fisiologia da UFMA; o doutor Leudivan Nogueira, urologista do HAB; o médico Ronald Coelho, oncologista do HAB; a urologista do HU-UFMA e HAB Amanda Jordão, também aluna de Mestrado no PPGCS; Jenilson da Silva, do Mestrado do PPGCS; o pesquisador aluno de pós-doutorado André Valle, a pesquisadora Patrícia Castelo-Branco, do LabGeM; e Ingrid Monteiro e Carla Costa, alunas do curso de Biologia da UFMA. Além disso, o grupo também teve colaboração de professor Alexander Birbrair, da Universidade Federal de Minas Gerais; o professor André Khayat, da Universidade Federal do Pará; o professor Carlos Eduardo Alves, da Universidade Estadual Paulista (Unesp); e a pesquisadora Luisa do Canto, da Universidade da Dinamarca.

O grupo de pesquisa em Genética e Biotecnologia da UFMA-CNPq, liderado pela professora Silma Regina Pereira, tem realizado outros projetos em busca de novas terapias e métodos diagnósticos para cânceres, em parceria com a professora Luciana Rebelo Alencar, do Departamento de Física; e os docentes do Departamento de Química Claudia Quitino, Márcio Almeida, Rita Luz e Flávio Damos, todos da UFMA.

Leia o artigo sobre sequenciamento genético de câncer peniano, no endereço eletrônico doi.org/10.3390/cancers14143514.

Por: João Meireles

Produção: Bruna Castro

Revisão: Jáder Cavalcante

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