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SÉRIE PRÊMIO FAPEMA 2024
Graduando de medicina conquista Prêmio Fapema na categoria Jovem Cientista
Com o intuito de observar a espiritualidade e o otimismo dos pacientes com fibromialgia, a pesquisa “Coping espiritual e otimismo de paciente com diagnóstico de fibromialgia no ambulatório de dor crônica do HU-UFMA” conquistou o Prêmio Fapema, promovido pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), na categoria Jovem Cientista. O estudo foi realizado pelo discente de medicina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Lucas Brito, com orientação do professor do Departamento de Medicina e Chefe do Ambulatório de Dor Crônica do HU-UFMA, João Garcia.
A pesquisa faz parte da Liga Acadêmica de Dor, realizada dentro do Ambulatório de Dor Crônica do Hospital Universitário da UFMA. A fibromialgia é um assunto estudado ao longo dos anos pelo grupo. Nesse sentido, Lucas Brito pontua a relação da doença com o coping espiritual.
“A fibromialgia é uma doença que não tem exatamente uma etiologia conhecida. Diria meio que idiopática, que é esse tipo de doença que a gente não sabe exatamente de onde vem, não tem os mecanismos de como ela se desenrola exatamente conhecidos, mas tem tratamento, tanto medicamentoso quanto não medicamentoso, assim como diversas doenças. E o tratamento medicamentoso envolve antidepressivos, analgésicos, atividade física, principalmente, quando se trata de não medicamentoso, mas entram também estratégias adjacentes, como a espiritualidade, o otimismo, o fator social, o meio em que a pessoa está inserida, o psicológico, a saúde mental, tudo isso vai fazer parte do tratamento daquela pessoa que é acometida pela doença. E o coping espiritual, ele vem nesse sentido de ser uma estratégia, que seria uma tradução literal no inglês, seria justamente uma estratégia para enfrentamento do quadro da doença. Então, a espiritualidade acaba sendo uma ferramenta que a pessoa pode usar para aquilo”, explicou Lucas.

Durante o processo de desenvolvimento da pesquisa, foram utilizados como método questionários dos Estados Unidos e da Europa, que foram traduzidos para o português e validados por estudos nacionais. Baseado nesses questionários, Lucas Brito detalha o resultado da pesquisa: “Primeiro, todos os pacientes foram mulheres, porque é uma doença muito mais prevalente no sexo feminino, embora existam, sim, homens com fibromialgia. E sobre a análise de associação entre as variáveis, a gente não encontrou uma relação estatisticamente significativa entre espiritualidade e o quadro da fibromialgia, embora muitos estudos anteriores ao nosso mostram que existe sim, uma relação entre espiritualidade e quadro de dor, mas a gente encontrou uma relação muito forte entre o otimismo e o quadro da fibromialgia, em que mulheres que eram as pacientes, que eram mais otimistas, tinham menor impacto da fibromialgia na vida delas e o contrário também, quem tinha menos otimismo tinha maior impacto da fibromialgia”.
Desafios e benefícios do estudo
No decorrer do desenvolvimento de um trabalho, são diversos os obstáculos vivenciados que podem fortalecer a execução da iniciativa ou até mesmo desmotivar. Lucas Brito afirma que um dos desafios da pesquisa foi a aplicação dos questionários, já que as pacientes com fibromialgia, quando estão em crise, não conseguem ficar muito tempo sentadas, como, por exemplo: para responder aos questionários, além da dificuldade em mostrar para os pacientes a importância da pesquisa.
O professor João Garcia reforça a importância do aprendizado sobre a doença e destaca o diferencial do trabalho. “A gente precisa estar sempre estudando pacientes com fibromialgia, primeiro, porque é um grupo de pacientes cada vez maior, é um grupo de pacientes subdiagnosticado, são pessoas que nem sempre têm acesso a especialistas que podem fazer o adequado diagnóstico da doença. Ela é uma doença invisível, ela não tem diagnóstico por exames, é um diagnóstico clinico pelo especialista, é algo que deve ser muito cuidadoso. Uma vez que nós conseguimos diagnosticar uma paciente com fibromialgia, nós precisamos olhar todos os aspetos que envolvem esse manejo do cuidado. Olhar para as questões espirituais, as questões que são muito além de medicamentos é algo para o qual nem sempre o médico está atento. Então, acho que a principal contribuição é ter um olhar diferenciado, ver a pessoa humana com outros olhos, dar realmente uma visão da subjetividade, e essa questão de otimismo e espiritualidade tem realmente um impacto grande que, muitas vezes, as pessoas não observam. O grande diferencial desse estudo é olhar a pessoa humana doente com outros olhos, sair do foco do remédio, do medicamento e olhar outras possibilidades que podem potencializar os desfechos de sua saúde”, ressaltou.

Pesquisa consagrada pela Fapema
Em sua 19ª edição, a Fapema premiou mais de cinquenta pesquisadores, sendo dezessete da UFMA. O evento reconhece e incentiva os estudos científicos e inovadores que proporcionam benefícios para a sociedade, além de premiar os docentes que dedicam sua vida para o progresso da educação.
Lucas Brito é graduando em medicina, e o seu trabalho concorreu com pesquisas de mestrado. A sua vitória mostra a excelência da sua pesquisa que promove melhorias para a saúde. Nesse contexto, o estudante compartilha a sua felicidade e surpresa com a premiação.
“Eu nem esperava ganhar, eu me inscrevi, mas sabendo que o projeto era muito bom, mas eu vi que eu estava concorrendo com pessoas de muito alto calibre. Os outros concorrentes, eu vi que eram todos alunos de mestrado, e eu fiquei pensando, não, não é para mim. Quando eu vi meu nome, foi uma surpresa, uma grata surpresa, e é imensurável quanto eu fiquei honrado de receber esse prêmio, porque eu estou no final da minha graduação, e, quando eu entrei, eu não sabia absolutamente nada, nada de pesquisa. Então, foi realmente uma iniciação, foi realmente a partir do zero ao reconhecimento de que você soube fazer uma trajetória, construir uma jornada, principalmente, guiado pelo doutor João, né? Que era o meu grande mestre, e espero que continue sendo por muito tempo, foi uma honra, tanto receber o prêmio, quanto estar ao lado dele nessa jornada”, afirmou.
Para o professor João Garcia, a conquista reforça a sua admiração pelo desempenho do estudante: “Isso para mim tem um valor muito especial, porque eu me sinto entregando um aluno iniciado na pesquisa para o mercado. Um aluno que pode, a partir daí, dar realmente muitos frutos, que pode ser mestre, doutor, enfim. Iniciar um aluno, ganhar um prêmio com aluno de graduação, para mim, realmente faz com que a gente pense que é muito bom ser professor, que é muito bom ensinar pesquisa. Então, como disse Fernanda Torres, ser professor presta, fazendo uma alusão ao que ela falou. Esse é o meu sentimento em relação a esse prêmio”, relatou.
A Universidade Federal do Maranhão tem um papel fundamental na evolução social, já que muitas pesquisas inovadoras são desenvolvidas pela comunidade acadêmica, e o reconhecimento, por meio do Prêmio Fapema fortalece a construção de mais estudos.
Por: Aline Vitória
Produção: Lucas Cássio e Ingrid Trindade
Fotos: Arquivo pessoal
Revisão: Jáder Cavalcante