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ENTREVISTA: Pneumologista da UFMA alerta sobre o uso dos cigarros eletrônicos e os riscos para a saúde

publicado: 25/08/2022 09h08, última modificação: 26/08/2022 11h38

Em julho deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou a decisão de manter a proibição dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEF) ­– mais conhecidos como cigarros eletrônicos ou vape – e similares. No Brasil, o uso e a comercialização dos dispositivos já são proibidos desde 2009, mas o assunto entrou em evidência novamente após a Anvisa divulgar o resultado do Relatório Final de Análise de Impacto Regulatório (AIR), avaliação iniciada em 2018. 

Os cigarros eletrônicos vêm se popularizando entre os jovens, que muitas vezes não sabem os riscos que o aparelho pode causar para a saúde. No Brasil e em São Luís, é possível encontrar tabacarias e lojas, tanto físicas quanto on-line, vendendo os dispositivos apesar da prática ser contra a lei.

Para falar sobre o assunto, a Diretoria de Comunicação (DCom) da Superintendência de Comunicação e Eventos (SCE) da UFMA entrevistou a professora e pneumologista Maria do Rosário da Silva Ramos Costa, que teceu comentários sobre a composição dos DEFs, esclareceu como eles funcionam, além de alertar sobre os riscos para a saúde de quem os utiliza.

DCom: Quais riscos esses cigarros eletrônicos oferecem à saúde?

Maria do Rosário: O risco que os cigarros eletrônicos oferecem à saúde são muitos, tanto nos sintomas físicos quanto também psíquicos. Em relação ao pulmão, tem surgido uma síndrome chamada Evali, sigla em inglês para doença pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico ou vapingE-cigarette or vaping product use-associated lung injury, na tradução.

O vaping é a aerossolização ocasionada pelo aquecimento de um líquido que costuma conter em sua composição a nicotina, aromas, solventes e outros produtos químicos, por meio de um dispositivo.

A Evali tem sido considerada uma síndrome emergente nos últimos anos, sendo caracterizada como uma doença respiratória aguda, podendo evoluir para o óbito. O vape pode ser usado com ou sem a nicotina. No entanto ainda há ex-fumantes que elevam os níveis indicados dessa substância, deixando-os bem próximos do nível dos cigarros comuns.

Isso aumenta os riscos de problemas cardiovasculares, aborto espontâneo, alterações no desenvolvimento cerebral, parto prematuro, entre outros danos à saúde. As doses elevadas de nicotina ainda podem causar náuseas, convulsões e até depressão respiratória.

DCom: Existem pesquisas que comprovem os malefícios da utilização?

MR: As pesquisas científicas sobre os danos causados pelos cigarros eletrônicos, a longo prazo, são inconclusivas. Tal cenário existe devido à recente criação e popularização desses produtos. O fato de os estudos epidemiológicos longitudinais serem insuficientes também contribui para essa incógnita. Alguns trabalhos científicos identificaram o estresse oxidativo, apoptose e alteração na função dos cílios da mucosa respiratória. Esses prejuízos são semelhantes aos causados pelos cigarros convencionais, porém de forma mais amena. 

DCom: Muitas pessoas estão substituindo o uso do cigarro de tabaco pelos dispositivos eletrônicos para fumar. Qual a principal diferença entre eles?

MR: Ao contrário do cigarro que funciona por meio da queima do tabaco, o vape forma um vapor. Ele também não tem tantos componentes nocivos quanto o cigarro, como o monóxido de carbono, cianeto de hidrogênio e amônia. Mas atenção: isso não significa que ele não faça mal. Mesmo as opções sem nicotina não são seguras e podem causar doenças respiratórias. O cigarro eletrônico faz mal por conter diversos outros produtos químicos potencialmente tóxicos. O próprio dispositivo pode desprender nanopartículas de metal e ocorrem reações com o aquecimento e vaporização que incluem carcinógenos conhecidos e substâncias citotóxicas. A razão da substituição é que o acessório eletrônico está livre das mais de 4.720 substâncias nocivas à saúde presentes no cigarro comum. Além disso, o vaporizador não solta fumaça desagradável, não espalha bitucas e nem provoca mau hálito.

DCom: É possível observar que aumenta a cada dia a utilização desses dispositivos pela população jovem. Qual a necessidade você percebe de esclarecer o funcionamento e a composição deles?

MR: Devemos esclarecer como funciona esses cigarros para que as pessoas possam entender os males que eles podem causar: os cigarros eletrônicos são equipamentos movidos a bateria promovendo a aerossolização pelo aquecimento de líquidos, de uma solução chamada “e-liquid” ou “vape juice”, podendo ou não conter nicotina, além de outros compostos que incluem propilenoglicol, glicerina vegetal, agentes aromatizantes e aditivos. Essa mistura é aquecida rapidamente ao ser exposta às bobinas, que podem conter ferro, cromo, carbono níquel que estão presentes no vapor do cigarro eletrônico e são oriundos da bobina metálica responsável pelo aquecimento do líquido na produção dos aerossóis.

DCom: Mesmo sendo contra a lei é possível encontrar a venda dos cigarros eletrônicos, em tabacaria e lojas, além da venda on-line e do uso indiscriminado em diversos ambientes. Na sua opinião, por que isso acontece?

MR: Acredito que seja a globalização do produto. que é novo, atiçando a curiosidade, principalmente dos jovens que acreditam que é menos maléfico para o organismo, que podem utilizar mais e por ter vários sabores, o que desperta o interesse. A Sociedade Brasileira de Pneumologia alerta para as atratividades do cigarro eletrônico e, mesmo com líquidos sem nicotina, mas com sabores, cores, embalagens coloridas, propagandas com influencers, os jovens passam a naturalizar o consumo de algumas substâncias.

Além disso, alguns aditivos aromatizantes contêm pirazina, uma substância muito usada no passado pela indústria do tabaco, pois reduz as sensações desagradáveis que o tabaco causa nas vias aéreas superiores, facilitando a tragada e a absorção pelo trato respiratório. Isso contribui para a instalação da dependência e dificulta as tentativas de parar de fumar.

Por: Bruna Castro

Produção: Luciano Santos e Bruna Castro

Foto: Arquivo pessoal

Imagem: Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia

Revisão: Jáder Cavalcante

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