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Energia limpa e menos poluição: pesquisa da UFMA aposta em biodigestores para transformar a suinocultura no Maranhão
O descarte inadequado de resíduos é um dos principais problemas ambientais enfrentados nos grandes processos de produção. Atualmente, sabe-se que a ausência de tratamento de dejetos pode causar diversos problemas de saúde pública, meio ambiente e até prejuízos econômicos. Para superar esses desafios, surgem alternativas inovadoras voltadas para o desenvolvimento sustentável, que buscam, principalmente, transformar o descarte em recursos reaproveitáveis.
Esse é o princípio que move o trabalho de doutorado de Railda Silva Gomes, discente do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia (PPG-BIONORTE), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Sob orientação da professora Alana Gandra Lima, o projeto, que une ciência, tecnologia e preocupação social, explora soluções para o descarte inadequado de dejetos da suinocultura, uma realidade comum em muitas propriedades rurais do estado. O foco está no uso de biodigestores: equipamentos capazes de transformar o esterco dos porcos em biogás, considerada uma fonte de energia renovável e fertilizante natural, ao mesmo tempo em que reduzem os impactos ambientais.
“Em termos técnicos, o objetivo é demonstrar a viabilidade da implantação de biodigestores como solução eficaz para o tratamento dos dejetos suínos. Espera-se alcançar uma redução significativa do impacto ambiental causado pelo descarte inadequado dos resíduos. Do ponto de vista social, o estudo busca promover o uso de tecnologias sustentáveis nas práticas agropecuárias locais, ampliando a conscientização dos produtores, além do fortalecimento do vínculo entre instituições e comunidades rurais”, pontuou a pesquisadora Railda Gomes.
A falta de saneamento no campo
De acordo com o último relatório do Instituto Trata Brasil (2024), o índice de saneamento básico nas áreas rurais do Maranhão é praticamente inexistente. A ausência do tratamento adequado de resíduos de suínos contamina o solo, os rios e os lençóis freáticos, afetando a qualidade da saúde da população e o equilíbrio dos ecossistemas.
Segundo Alana Gandra, os efeitos da contaminação podem ter muitos desdobramentos para a sociedade, como o desenvolvimento de doenças de veiculação hídrica, degradação do solo, desigualdade social e perpetuação do ciclo de pobreza enfrentado por diversas famílias. “A falta de saneamento básico nas áreas rurais não é apenas uma questão de infraestrutura, mas uma violação de direitos fundamentais como saúde, educação, dignidade e equidade social. Investimentos em saneamento rural são fundamentais para promover qualidade de vida, inclusão social e desenvolvimento sustentável”, explicou a professora.

Para enfrentar este desafio, a pesquisa se propôs a fazer a instalação de um biodigestor na Fazenda Oriente, localizada no município de Dom Pedro, no interior do estado. O equipamento vai tratar os resíduos gerados pelos porcos, transformando-os em energia e adubo. Na etapa atual, a equipe está, por enquanto, realizando a caracterização e o levantamento do potencial metanogênico do resíduo de suíno.
Ciência melhorando a vida da população
Parte das análises está sendo realizada nos laboratórios da Central de Química Analítica e no Laboratório de Genética da UFMA. Ainda assim, o impacto direto acontece no campo, junto aos produtores e ao meio ambiente.
A pesquisa não se limita ao ganho energético. O estudo também avalia o cenário socioambiental da propriedade antes e depois da implantação da tecnologia, oferecendo uma visão clara dos impactos positivos como a redução de gases de efeito estufa, melhoria na qualidade do solo e da água e a possibilidade de venda de créditos de carbono. Esse cenário beneficia, principalmente, pequenos e médios produtores do setor de suinocultura. A longo prazo, poderia atender às exigências ambientais impostas pelo mercado, as quais estão cada vez mais rigorosas.
Para Railda, a jornada de investigação tem gerado importantes descobertas.
"Um dos maiores aprendizados foi reconhecer que a sustentabilidade não se limita à proteção ambiental, mas também envolve respeito à cultura local, viabilidade econômica e inclusão social. Aprendi que a escuta ativa é essencial: antes de propor soluções, é preciso entender os contextos, as limitações e as potencialidades de cada produtor. Conduzir essa pesquisa me mostrou que ciência e campo caminham melhor juntos, e que, quando aliados à responsabilidade social e à busca por soluções sustentáveis, podem transformar realidades de forma concreta”, enumera a doutoranda.

Alana Gandra destaca que o perfil do público envolvido na pesquisa é propício à adoção de soluções como os biodigestores. Segundo ela, “o público-alvo definido para a implementação do projeto apresenta não apenas potencial técnico e econômico, como também demonstra interesse e necessidade de atender às demandas impostas pelos diversos setores por medidas mais sustentáveis, que possibilitem eficiência na gestão de resíduos e novas oportunidades de geração de receita”.
A expectativa é que os resultados sirvam de modelo para outras regiões rurais, mostrando que inovação tecnológica e sustentabilidade podem caminhar juntas para melhorar as condições ambientais e de produção agrícola no estado.
Contribuições para o Plano Maranhão 2050
O trabalho foi contemplado pelo Edital Inova Cerrado Tração SEBRAE/CONFAP nº01/2025 e pelo Edital Inova Maranhão FAPEMA/SECTI Nº 06/2025. Assim, ao apostar em uma solução que une saneamento básico e geração de energia renovável, a pesquisa da UFMA está alinhada diretamente aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e também ao Plano Maranhão 2050, que busca ampliar o acesso ao saneamento e à energia sustentável no estado.
Mais do que uma solução tecnológica, a transformação de resíduos em energia é uma ferramenta de mudança em direção a um futuro promissor.
Por: Giovanna Carvalho
Produção: Ingrid Trindade
Imagens: arquivo pessoal
Revisão: Jáder Cavalcante