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Docentes de Medicina e Nutrição da UFMA alertam sobre o risco da ingestão de altas quantidades de bebidas alcóolicas
A flexibilização das medidas restritivas após dois anos do início da pandemia de covid-19 acarretou na liberação da realização de festas com grande público, que se tornaram comuns novamente e têm atraído uma grande parte da população, entre datas comemorativas e realização de grandes shows particulares.
É comum a ingestão de bebidas alcoólicas nesses eventos, e, não raramente, acontece o abuso da substância, que pode ocasionar graves efeitos colaterais e, em casos mais extremos, levar ao coma alcoólico e até à morte. Foi o caso de um jovem sul-africano, de 23 anos, que desmaiou e morreu após tomar uma garrafa de 700ml de licor, com grau alcoólico de 35%, quando entrou em uma aposta sobre quem ingeria a bebida mais rápido na ocasião.
De acordo com o endocrinologista e professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Maranhão Wellington Santana da Silva Júnior, o excesso de álcool é responsável por um de cada dez óbitos entre adultos em idade produtiva. Isso traz um enorme impacto orçamentário para a saúde e diminui a qualidade e a expectativa de vida. A respeito dos malefícios causados pela ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, o professor afirma que o consumo traz riscos a curto e longo prazo.
“Acidentes automobilísticos, violência urbana e doméstica, comportamentos sociais e sexuais de risco e intoxicação alcoólica são alguns exemplos de problemas agudos. Mas doenças psiquiátricas, como dependência, depressão e ansiedade; doenças metabólicas, como obesidade e hipertensão; e também alguns tipos de cânceres, como o câncer de fígado, podem ocorrer com o consumo crônico”, alerta.
Por que algumas pessoas ficam bêbadas mais rápido que outras?
É possível perceber que algumas pessoas possuem uma tolerância maior ao álcool do que outras. Isso ocorre devido à capacidade de metabolização do álcool, que varia de maneira significativa de organismo para organismo. Há indivíduos que conseguem metabolizar o álcool de três a quatro vezes mais rápido do que outros.
O endocrinologista esclarece que fatores genéticos, idade, sexo, tamanho corporal, etnia, uso de alguns medicamentos, frequência do consumo alcoólico e consumo de álcool na presença de alimentos são fatores que podem influenciar o metabolismo da substância.
Diferenças na expressão da enzima álcool-desidrogenase (ADH), que é liberada pelo fígado e responsável pelo metabolismo do álcool, também podem influenciar na capacidade de metabolização, pois quanto menor for a disponibilidade desta enzima no organismo maior será a sensibilidade da pessoa ao álcool.
Como ocorre o coma alcoólico e como identificar
Um dos grandes riscos da ingestão de bebidas destiladas em grandes quantidades e em um curto período de tempo é o coma alcóolico, que ocorre porque essa substância afeta o metabolismo de variadas formas.
O professor explicou em detalhes os efeitos da alta ingestão de bebidas alcóolicas. “O álcool em excesso possibilita que ocorra o aumento da formação de acetaldeído, uma substância tóxica para o organismo, além de estresse oxidativo e diminuição da produção de glicose pelo fígado, um processo que nós, médicos, chamamos de gliconeogênese. A diminuição da gliconeogênese causa a queda dos níveis de glicose no sangue e disfunções neurológicas, que vão colaborar para o rebaixamento do nível de consciência e, consequentemente, o coma”.
Alguns sintomas podem ser observados para identificar se uma pessoa está com intoxicação alcoólica: o indivíduo apresenta confusão mental – que pode chegar ao coma, vômitos, convulsões, diminuição da frequência respiratória, hálito com odor característico, pele pálida e queda da temperatura corporal. No coma, a pessoa perde os sentidos, não responde aos chamados e tem sono excessivo. Nessas situações, o ideal é sempre buscar auxílio médico e informar que o indivíduo consumiu álcool em excesso, para que as medidas necessárias sejam tomadas. Pois, caso a pessoa não tenha o suporte médico necessário, podem advir arritmias cardíacas, dano cerebral e, em casos mais graves, ocasionar a morte.
Precauções que podem ser tomadas
A nutricionista e professora da UFMA Helma Jane Ferreira Veloso comentou a importância de sempre se hidratar e ingerir eletrólitos antes e após o consumo de bebidas alcoólicas. “Existem bebidas isotônicas específicas para essa reposição de eletrólitos, tais como gatorade, pedialyte e soro caseiro, ou mesmo suco de frutas com pitada de sal já pode ajudar bastante. O fundamental é não exagerar no consumo de bebidas alcóolicas”, afirma.
A professora também citou a importância de uma alimentação rica em carboidratos (foto ao lado), que é corroborada pelo médico: “A presença de alimento no estômago pode desacelerar o processo de absorção do álcool e o consumo de carboidratos, que são fontes de glicose, podem diminuir a queda do açúcar no sangue, que pode ocorrer nos casos de intoxicação alcoólica”, ressaltou Wellington Júnior.
Como medidas preventivas e para aproveitar as festas sem riscos, os dois profissionais frisam que o fundamental é não exagerar no consumo de álcool, evitar beber de estômago vazio, se alimentar antes, durante e após o consumo de bebidas, beber água enquanto estiver consumindo álcool e não dirigir se for beber.
Em casos de pessoas com diabetes que fazem uso de insulina e medicamentos, o médico frisa que a atenção deve ser redobrada, devido ao risco de queda acentuada dos níveis de glicose. “Também é importante orientar os filhos sobre os riscos do consumo alcoólico e, nos casos de dependência química, buscar ajuda especializada", finaliza o médico.
Por: Bruna Castro
Imagens: copass-saude.com.br e Brasil Escola
Revisão: Jáder Cavalcante