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Docentes da UFMA mapeiam localização de aeronave americana que caiu em Humberto de Campos na época da Segunda Guerra Mundial
Era uma tarde pacata de 13 de maio de 1943, por volta das 16h, os moradores do povoado de Ilha Grande, próxima ao município de Humberto de Campos, Maranhão, escutaram um grande estrondo vindo do Canal da Tábua, um dos pontos de pesca próximo dali, como se fosse um “grande trovão”. Em seguida, escutaram dois estrondos ainda maiores e pensaram que a Segunda Guerra Mundial havia chegado ali. Assustados, mesmo com a enorme coluna de fumaça negra no céu, não se arriscaram a ver o que tinha acontecido. Somente no outro dia, viram que se tratava de uma aeronave destruída, ainda com uma das asas apontadas para cima, e começaram a recolher os corpos e os pertences dos ocupantes ao redor e de dentro do avião.
Esses são relatos de filhos dos pescadores que foram contemporâneos ao acidente, memória que reside até hoje entre os descendentes e que ganhou novos capítulos nos últimos dias, com a descoberta de uma parte do trem de pouso da aeronave do tipo North American B-25 Mitchell, conhecida como Bombardeiro, sendo o que pode ser mais um indício de que o Brasil foi rota dos Estados Unidos no contexto da Segunda Guerra. Na busca por mapear com mais evidências o local exato da queda e dos destroços, os docentes da Universidade Federal do Maranhão Wener Santos e Arkley Bandeira foram até o Canal da Tábua entre os dias 9 e 10 deste mês, munidos de um Global Positioning System (GPS) de alta precisão e de informações fornecidas pelo Google Earth, que ajudaram a identificar uma anomalia de um metro de altura no leito oceânico local, que os pesquisadores acreditam ser onde estejam os destroços enterrados da aeronave.
O mapeamento da localização do avião é o primeiro passo para que se possa investigar mais a fundo a aeronave na próxima etapa de averiguação, de maneira que se possa estudar a possibilidade da retirada segura dos destroços. A ideia, segundo o secretário municipal de Ciência e Tecnologia, Trabalho e Renda de Humberto de Campos e docente aposentado do Departamento de Física da UFMA, José Maria dos Santos, é que o artefato possa ser levado até o município e ser colocado em exposição futuramente em um museu. “Já existe uma ideia do grupo, apoiado pelo prefeito e pelo governador, de fazermos um museu aqui em Humberto de Campos para colocarmos esses destroços e outros que virão, em que estamos trabalhando para retirarmos da localização onde está o avião”, explicou.
A equipe da UFMA foi chamada ao local a pedido da Prefeitura de Humberto de Campos, após o próprio secretário Santos ter feito parte da expedição de resgate do trem de pouso encontrado no Canal, em maré baixa. A expectativa da Prefeitura é que o apoio da Universidade Federal do Maranhão também venha em convênios para a realização de pesquisas, projetos e treinamentos com os desdobramentos da retirada do avião do leito oceânico.
O professor e arqueólogo Arkley Bandeira detalhou que a equipe da UFMA havia recebido informações prévias da localização aproximada de onde foi encontrado o trem de pouso, e que a visita teve o objetivo de prospectar a área com informações de satélite. Equipes de mergulho nas próximas etapas indicarão se há riscos ou não na retirada. “Para mim, é uma situação nova pela surpresa da descoberta. Com o aumento das investigações e das pesquisas, pode ganhar mais notoriedade com a possível descoberta de outros sítios arqueológicos, inclusive com ganhos em outras áreas, como no ecoturismo e na geração de renda”, acrescentou o docente.
Relembre o caso
Antes da queda, em 13 de maio de 1943, o Bombardeiro havia saído da Flórida e passado dois dias em Belém, com destino a Natal para uma última parada em território brasileiro. A aeronave tinha como rota o norte da África, onde então chegariam ao Mar Mediterrâneo, palco da Segunda Guerra Mundial, contudo apresentou problemas na passagem pelo Maranhão. Os tripulantes enviaram um pedido de socorro à Base Aérea do Tirirical, hoje Aeroporto Internacional Marechal Hugo da Cunha Machado, na capital maranhense, porém a queda não deixou sobreviventes, vitimando piloto, copiloto, engenheiro de comunicação, engenheiro químico, operador químico e um auxiliar operacional, todos norte-americanos.
Os corpos foram enterrados em dois cemitérios da região, um deles localizado no povoado de Cedro, conforme relataram os pescadores de Ilha Grande. Contudo, três meses depois, em agosto de 1943, militares americanos estiveram no Maranhão para levar os restos mortais aos Estados Unidos, ameaçando até mesmo bombardear a região caso os moradores se recusassem a permitirem que os corpos fossem exumados e se pertences pessoais das vítimas não fossem devolvidos, conforme também relataram os descendentes de Ilha Grande durante a visita da comitiva da Universidade Federal do Maranhão.
A aeronave pode ter entre 7 e 15 toneladas, dependendo da quantidade de bombas que pode estar ainda enterrada com o Bombardeiro. Além da Prefeitura de Humberto de Campos e da UFMA, Marinha, Aeronáutica, Corpo de Bombeiros também já foram notificados da descoberta. A Universidade Federal do Maranhão também teve apoio institucional da empresa G5 Soluções Logística e Transportes LTDA e da Prefeitura de Humberto de Campos, por meio do prefeito Luis Fernando, no trabalho realizado na sexta, 9, e no sábado, 10. Na ocasião, a Secretaria Municipal de Saúde acompanhou a comitiva aproveitando a visita para fazer observações técnicas ligadas à pasta.
Com informações adicionais de O Povo e CNN Brasil.
Por: Luciano Santos
Revisão: Jáder Cavalcante