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Dissertação identifica compostos nocivos à biodiversidade marinha na zona portuária de São Luís

publicado: 05/01/2023 13h39, última modificação: 10/01/2023 09h57
O trabalho conquistou o primeiro lugar no prêmio Porto do Itaqui
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Um estudo realizado por pesquisadores vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal do Maranhão foi classificado em primeiro lugar no prêmio Porto do Itaqui, que incentiva e reconhece pesquisadores e pesquisadoras do Maranhão com produção científica aplicada aos setores portuário, marítimo e logístico do porto. A pesquisa “Distribuição de Agentes Anti-Incrustantes de 3ª Geração em Distintos Compartimentos Ambientais da Região Portuária de São Luís, Maranhão" identificou a presença de substâncias químicas provenientes de embarcações na zona portuária de São Luís, representando um risco à flora e à fauna marinha da região.

Os anti-incrustantes são produtos especiais, aplicados com o objetivo de prevenir a fixação de incrustações – organismos vivos que se agarram aos cascos de navios – que prejudicam a eficiência de embarcações. Segundo a professora doutora Teresa Cristina Rodrigues do Santos, que também participou da pesquisa, os estudos sobre esses anti-incrustantes vêm sendo desenvolvidos pelo Laboratório de Química Analítica e Ecotoxicologia (Laec) desde 2010, sendo investigada a presença dos contaminantes em vários tipos de amostras ambientais e, também, o possível efeito sobre espécies marinhas. “A pesquisa envolveu coleta de amostras de água marinha, sedimentos e de águas intersticiais, que é a água contida no solo. A partir do desenvolvimento de metodologia analítica específica, foi possível identificar, em determinadas áreas, a presença de dois biocidas: o Irgarol e o Diuron, em concentrações não desprezíveis”, explicou Teresa, lembrando que, desde o dia primeiro de janeiro, o uso do Irgarol em formulações anti-incrustantes está proibido no Brasil, devido aos seus efeitos negativos na biota marinha.

Segundo José Lucas Martins Viana, autor da dissertação premiada, o uso desses produtos é generalizado, e os resultados obtidos mostram que são as pequenas embarcações nos arredores do porto, e não os navios, que mais contribuem para os níveis elevados de biocidas nas águas de São Luís. “Atividades como a lavagem e raspagem dos cascos são fontes potenciais de altas concentrações dessas substâncias. Diversos tipos de proteção podem ser utilizados, como barreiras físicas ou substâncias que se degradam rapidamente, porém o uso das tintas é o mais disseminado, por ser mais barato e eficaz”, afirmou.

Ele explica, ainda, que o reconhecimento dado à pesquisa pela premiação é valioso quando a problemática dos anti-incrustantes no Brasil é levada consideração. “Temos pouquíssima informação sobre esse tipo de contaminação na costa brasileira. Conseguimos avaliar e verificar a distribuição de ambos os biocidas em três compartimentos ambientais diferentes, e isso nos permitiu ter uma ideia de como essas substâncias se comportam no ambiente. Com a pesquisa, conseguimos mostrar que, apesar de estarem presentes nas águas do mar, mesmo em pouca quantidade, essas substâncias apresentam alto risco ecológico. Dessa forma, ações de reconhecimento como o prêmio Porto do Itaqui são importantes para o incentivo e aperfeiçoamento da pesquisa científica no estado, e estou muito contente de fazer parte disso”, ponderou.

Saiba +

Os primeiros biocidas utilizados regularmente em tintas anti-incrustantes foram os óxidos de cobre e de zinco em meados do século XX, denominados de primeira geração. Devido à baixa durabilidade e eficiência, as tintas de segunda geração, que surgiram na década de 60, foram desenvolvidas à base de um composto organoestânico (COE). Dada à alta durabilidade, essas tintas foram amplamente empregadas, chegando a revestir 90% dos cascos dos navios em operação no mundo durante a década de 80.

A alta toxicidade dessa geração, entretanto, acarretou que a utilização do COE, em tintas anti-incrustantes, fosse banida pela Organização Marítima Internacional (OMI) em 2003. Em razão desse banimento, um novo grupo de tintas foi criado, sendo elas intituladas de terceira geração. Atualmente, contempla 16 diferentes compostos biocidas, homologados pela OMI para utilização em embarcações, entre os quais encontram-se o Irgarol e o Diuron.

Por: Orlando Ezon

Produção: Bruna Castro

Revisão: Jáder Cavalcante

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