Notícias

Discurso da pró-reitora de extensão e cultura Zefinha Bentivi na entrega da comenda 200 Anos da Imprensa no Maranhão

publicado: 29/12/2021 09h00, última modificação: 29/12/2021 14h31
Discurso da pró-reitora nos 200 Anos da Imprensa no Maranhão.JPG

Boa noite!

Vou iniciar minha fala, neste momento, inspirando-me em Ferreira Gullar.

Diz o poeta:

“o poema/ antes de escrito/ não é em mim/ mais do que um aflito silêncio/ ante a página em branco”.

Eu fiquei pensando: se, para um genial poeta, orgulho do Brasil e do Maranhão, há “um aflito silêncio ante uma página em branco”, imaginem para mim, com o desafio de falar em nome de todas e todos que, nesta noite memorável, tornam-se comendadoras e comendadores da imprensa do maranhão.     

Até porque o poeta, em continuidade, afirma:

“o poema /antes de escrito/antes de ser/ é a possibilidade/do que não foi dito/do que está/ por dizer”.

E o que está ainda por dizer de pessoas, homens e mulheres, cuja história, cuja labuta na imprensa é reconhecida e referendada pela sociedade? E por que eu? Como posso tornar nossa minha fala?

Questões que me fiz durante esses dias todos, quando me passaram esta incumbência.

Em longas horas que antecederam este momento, lembrei-me de uma frase de Dostoievski, quando define o ser humano “como o ser a que tudo se habitua”. Intertextualizando-o, ouso dizer que o ser humano é também habitado por muitos outros. Neste momento, habitam em mim:

1. Paulo Melo Sousa; 2. Douglas Pires Cunha; 3. Lukas Carvalho; 4. José Tribuzzi Pinheiro Gomes (Bandeira Tribuzzi); 5. Mário Linconl; 6. Jailson Mendes; 7. Luiz Carlos da Cunha; 8. Douglas Pinto; 9. Marcos Saldanha; 10. Edvânia Kátia Sousa Silva; 11. Sebastiao Barros Jorge; 12. Josefa Melo e Sousa Bentivi Andrade (Zefinha Bentivi); 13. Marcelo Cheche Galves; 14. José Ribamar Bogéa; 15. Pedro Freire; 16. Sergio Antonio Nahuz Godinho;17. Moacyr Sposito Ribeiro; 18. José Sarney; 19. Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (ABRAÇO)- aqui representada pelo professor e jornalista Ed Wilson; 20. Célio Sérgio Serra Ferreira; 21. Dreyfus Nabor Azoubel; 22. Hipólito César Vieira Ferreira (César Hypolito); 23. José Ribamar Gomes (Gojoba); 24. Othelino Nova Alves; 25. Raimundo Jurivê Pereira de Macedo; 26. Marcia Maria de Paiva Coimbra; 27. Roberto Fernandes; 28. Alberico Carneiro; 29. Raimundo Nonato Borges; 30. Pergentino Holanda Silva; 31. José Raposo Gonçalves da Silva (Amaral Raposo); 32. Neiva Moreira; 33. Benedito Bogéa Buzar; 34. Herbert Fontenele Filho; 35. Nascimento Moraes Filho; 36. José Raimundo Rodrigues; 37. Bernardo Coelho de Almeida; 38. José de Jesus Louzeiro; 39. Josilda Bogéa; 40. Ribamar Correa; 41. Manoel dos Santos Neto; 42. Sebastião de Almeida Negreiros; 43. Marcelo Rodrigues; 44. Sidney Pereira; 45. Djalma Silva Rodrigues; 46. Félix Alberto Gomes Lima; 47. David Peres; 48. Francisco Melo Filho; 49. Chafi Braide Júnior; 50. Curso de Comunicação, UFMA São Luís, aqui representado por seus professores, técnicos, discentes e pelos seus egressos, muitos deles homenageados nesta noite, com a comenda dos 200 anos da imprensa no Maranhão. Isso é muito orgulho!

Sim, eu me sinto habitada, representando a todos e por todos representada, nesta sessão solene. De forma especial, torno-me porta-voz de Edvânia Kátia Sousa Silva e Márcia Maria de Paiva Coimbra. Somos três mulheres, entre 47 homens!  E eu as convido para reverenciarmos também a maranhense de São Luís Eponina de Oliveira Canduru Serra, a primeira jornalista maranhense. “Eponina é, sem dúvida, pioneira no jornalismo local, e isso, pela iniciativa, qualidade dos textos e os gêneros explorados: opinião e informação [...] além de João Lisboa, chegou ao que poderia definir os primórdios da reportagem.”

E quem afirma tudo isso sobre Eponina? O mestre Sebastião Jorge, cuja contribuição à imprensa do Maranhão e do Brasil dá-se por sua entrega ao ofício de jornalista, à formação de jornalistas e, principalmente, por sua dedicação à pesquisa. Aliás, preciso aqui ressaltar que, numa época em que o curriculum lattes sequer existia, lá estava Sebastião Jorge pesquisando e incentivando seus alunos e suas alunas a conhecerem a história da imprensa no Maranhão. Esse homem é um baluarte da imprensa deste estado.

Mestre, muito obrigada! Fui e continuarei sendo sua discípula! Preciso aqui também dizer da honra de estar ao lado de outro grande pesquisador, o professor Marcelo Galves. A história da imprensa no Maranhão deve muito a você, professor! Muito obrigada!

Senhoras e senhores,

Sou uma apaixonada pela linguagem e pelo jornalismo. Daí porque tenho dedicado meus estudos e minhas  pesquisas ao entendimento dessas instituições, nos termos do teórico Castoriadis. Nessa perspectiva, o jornalismo é uma instituição que se constitui por meio de uma prática de comunicação que tem por função perceber e construir um conhecimento sobre a realidade, um conhecimento que é construído na e pela linguagem, transformando-se o jornalista em um operador do dizível, daquilo que se deve dizer.

Em que pese, todavia, à centralidade da linguagem no produto jornalístico, a imprensa, bem o sabemos, é uma designação coletiva dos veículos de comunicação e dos profissionais que exercem o jornalismo e outras funções da comunicação informativa, interpretativa e opinativa. É, assim, a junção de ferramentas, competências técnicas e veículos responsáveis pelo exercício do jornalismo.

Para Nelson Werneck, “a história da imprensa é a própria história do desenvolvimento da sociedade capitalista. E o que se verifica, ao longo desse desenvolvimento, é uma luta em que aparecem organizações e pessoas da mais diversa situação social, cultural e política, correspondendo a diferenças de interesses e aspirações”.   Não somos uma só imprensa. Não somos um só jornalismo.

E essa diversidade está muito bem-representada, quando se homenageiam diferentes categorias nesta efeméride dos 200 Anos da Imprensa no Maranhão. São jornalistas de atuação, perfil profissional e viés político-ideológico distintos, mas cada um, cada uma aqui escolhido(a) foi reconhecido(a), quer por um júri popular ou por júri técnico, como digno(a) de representar os 200 anos da nossa imprensa. Foram também escolhidos pesquisadores, empreendedores, produtores, organizações da sociedade civil e instituições de ensino.

Sim, a imprensa é diversa, plural e, muitas vezes, contraditória, mas sempre fundamental à manutenção da democracia. Como reflete Nelson Traquina, não há jornalismo sem democracia, e não há democracia sem um jornalismo livre e pulsante!       

Nesse sentido, cabe ressaltar o papel da Universidade Federal do Maranhão neste processo de reconhecimento da importância social da imprensa. Destaco, sobremaneira, o apoio do reitor Natalino Salgado Filho, quanto a incentivar, não apenas a formação de comunicadores, incentivar a pesquisa e a extensão da área, mas, principalmente, de reconhecer talentos. Ele mesmo, um cronista da nossa imprensa e, “nas horas vagas”, médico, gestor, escritor, entre outras inumeráveis atividades, mas sem descuidar do seu papel na imprensa maranhense.

Aplausos, senhores! Muitos aplausos para a sensibilidade política, institucional, acadêmica e a competência gerencial do coordenador deste projeto, o professor Marcos Fábio, nosso vice-reitor. Ele também, um membro da tribo da imprensa do Maranhão.

Aplausos, aplausos, ao nosso superintendente de comunicação, jornalista Fernando Oliveira, que viabiliza todos os nossos pensamentos “malucos”, não apenas deste momento, mas de todos os outros. Isso porque nós, aqui na UFMA, criamos coisas todos os dias, e o Fernando está sempre lá para viabilizar.

No ardor que as boas iniciativas provocam e, como sou habitada por 50 pessoas, 50 vezes dizemos: obrigada a todos e a todas que fizeram este momento acontecer!

Senhoras e senhores,

Quando fui escolhida para ser homenageada, senti-me feliz, ao tempo em que me perguntei se estaria à altura de tamanha distinção. Confesso mesmo que estar ao lado de verdadeiras lendas da cena jornalística, cultural e política da cidade assombrou-me.

O que dizer de Neiva Moreira, cujos Cadernos do Terceiro Mundo me ajudaram a compreender melhor meu próprio mundo; de José Sarney, o homem que, entre outros feitos, foi responsável pela implantação do Curso de Comunicação no Maranhão; de Bernardo Coelho de Almeida, de Bandeira Tribuzzi; de Pergentino Holanda? O que dizer de um jovem jornalista, como Douglas Pinto, que não se cansa de procurar o conhecimento e, mesmo formado e legitimado como profissional da imprensa, volta à Academia para aprender e ensinar, numa troca de saberes recomendável e essencial para o crescimento do ser humano?

Muito a reverenciar, mas são 49 homenageados (as) e não há tempo para os (as) nominar e fazer uma referência mínima a suas virtudes e sua história com a imprensa maranhense. Permitam-me, porém, reportar-me a Luiz Carlos Cunha e, em seu nome, homenagear os jornalistas escolhidos por votação popular; a Sebastião Jorge e, em seu nome, homenagear os pesquisadores da imprensa no Maranhão; a José Ribamar Bogea, representando os empreendedores da imprensa maranhense; a César Hypolito, entre os representantes da produção jornalística; a Nascimento de Moraes Filho, com o qual homenageio os demais jornalistas que foram escolhidos por um júri técnico; ao Curso de Comunicação Social a quem homenageio em nome do professor Nilson Amorim Matos, em memória.  

Senhoras e senhores,

Finalizo minha fala com um pequeno texto que escrevi na introdução da minha tese de doutorado e o transcrevo agora: “No Nordeste brasileiro, no Maranhão dos anos 60, do século passado, uma criança de família ágrafa (somente meu pai sabia ler e escrever e fazer as quatro operações, entre todos os adultos que compunham nossa numerosa família), tomou gosto pelas palavras em casa. Isso porque, em que pese à condição social ou mesmo em função desta, minha família valorizava demais o ato de ler. Assim, quem soubesse ler tornava-se a estrela das noites iluminadas por belas lamparinas”.

Ali, no quando e no sempre, fincou-se a semente da professora, da jornalista e da pesquisadora. Creio eu. O sempre representa a eternidade daqueles momentos em mim para além da minha existência.

O quando é o momento presente, ao tornar-me comendadora da imprensa maranhense, além de me sentir com mais responsabilidade com o meu estado, sinto-me grata a Deus, em primeiro lugar, por tudo, pelos bons e maus momentos, porque eles me trouxeram aqui; à minha família de origem: meus avós, meus pais e meus irmãos (meu irmão Bentivi está ali a quem agradeço muito); ao meu marido, minhas filhas, meus genros, meu filho, sobrinhos e sobrinhas, meus netos e minhas netas, porque representam minha maior e mais importante conquista; aos meus amigos e companheiros de trabalho, especialmente àqueles que estão comigo no desafio diário da gestão de uma Pró-Reitoria.

Senhoras e senhores,

 Amparou-me, nesta jornada, Fereira Gullar na abertura deste discurso. Com ele, chego ao fim:

“o poeta inventa/ o que dizer/ e que só/ ao dizê-lo/ vai saber/ o que precisava dizer/ ou poderia/ pelo que o acaso dite/ e a vida/ provisoriamente/permite”.

Eu espero ter dito o que precisava dizer. Quanto ao provisório que a vida me permite, só posso dizer: “até aqui, ajudou-nos o Senhor Deus”!

Muito obrigada! 

 

Revisão: Jáder Cavalcante

registrado em: