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Discentes e docentes da UFMA lançam livros para propagar conhecimento sobre saberes tradicionais e acidentes aquáticos
Com temáticas diferentes mas com o intuito de disseminar o conhecimento científico acerca de temas do cotidiano maranhense, as discentes Thauana Oliveira Rabelo, Ingredy Vidigal, junto com seus orientadores Eduardo Bezerra Inácio Araújo e Jorge Luiz Silva Nunes, respectivamente, lançaram, na última quarta-feira, 29, os livros “Os Benzedores de Anajatuba” e “Animais Aquáticos Perigosos do Brasil: guia para adultos e crianças”.
As obras são frutos de anos de pesquisas, que receberam investimentos da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), e agora chegam ao público.
Animais Aquáticos Perigosos do Brasil: guia para adultos e crianças
Com uma linguagem educativa, “Animais Aquáticos Perigosos do Brasil: guia para adultos e crianças” traz o universo dos animais aquáticos, os acidentes com esses animais e seus impactos na saúde humana. “Eu estou trabalhando desde 2016, justamente com essa temática de animais aquáticos. E a ideia do livro surgiu justamente pelos trabalhos que a gente tem realizado sobre a importância de ver os impactos na saúde humana dos acidentes causados por animais aquáticos. Acidentes que são negligenciados tanto pelo poder público, quanto pelas instituições de saúde, que pouco se conhece, pouco se fala”, observou Ingredy Vidigal, uma das autoras do livro.
Como um guia, a obra tem um caráter de orientar sobre os acidentes com animais aquáticos. “O que a gente quer com esse livro é que as pessoas entendam um pouco mais desses acidentes que, às vezes, a gente banaliza ou negligencia. Também serve como um guia de primeiros socorros para as pessoas entenderem o que podem fazer mesmo antes do atendimento médico especializado”, esclarece Jorge Nunes, também autor do livro.
A publicação possui informações baseadas em estudos científicos, porém os termos e apresentações dos animais e os tipos de acidentes associados são apresentados de maneira popular. “A ideia é justamente a questão da acessibilidade. Trazer essa informação de forma lúdica, porque as pessoas, normalmente, têm preguiça de ler, não gostam de ler, não têm tempo, então sempre colocam ali como algo secundário. Então, uma forma das pessoas lerem, chamar um pouco mais de atenção, principalmente das crianças, que aprendem com mais facilidade, e tem maior chance de propagar aquelas informações”, explicou Ingredy.
“Animais Aquáticos Perigosos do Brasil: guia para adultos e crianças” é assinado por Ingredy Vidigal, doutoranda do Bionorte, que atualmente estuda o veneno de raias e sua microbiota e que iniciou seus estudos como iniciação científica voluntária do projeto Physalia (caravelas) e fez mestrado com os acidentes causados por animais aquáticos, além de defender um TCC no curso de Direito sobre os problemas do Direito da Saúde relativos ao acidentes causados por animais aquáticos; Vidal Haddad Júnior, médico dermatologista e maior especialista do mundo em acidentes causados por animais, seja terrestre ou aquático; o artista plástico Alexandre Huber, o maior nome da arte educação ambiental do Brasil com obras em diversos projetos de conservação ambiental, inclusive na União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN); e o professor pesquisador Jorge Nunes, vice-coordenador do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Conservação (PPGBC), bolsista Produtividade FAPEMA e coordenador do Laboratório de Organismos Aquáticos da UFMA.
Os Benzedores de Anajatuba
“Os Benzedores de Anajatuba” é um estudo inédito no Maranhão que traz conhecimentos sobre a flora ritualística e medicinal usada pelos benzedores da cidade de Anajatuba, além dos aspectos antropológicos da prática do benzimento. “O livro ‘Benzedores de Anajatuba’ foi um trabalho que surgiu da monografia, lá em 2019. Inicialmente, a gente estava tentando estudar, juntar tantos aspectos antropológicos, como também aspectos biológicos da biodiversidade, para poder compreender um pouquinho mais sobre esses especialistas religiosos, que são os benzedores. Até então, aqui no Maranhão, a gente não tinha um estudo que fosse voltado para os fins antropológicos, ou com essa pegada da ciência, da biodiversidade, compreender as famílias que estão por trás. Então, foi a primeira vez que a gente conseguiu juntar esses dois lados”, afirmou Thauana Oliveira Rabelo, mestranda do Programa de Pós- graduação em Biodiversidade e Conservação da UFMA e uma das autoras do livro.
O benzedores são especialistas religiosos responsáveis por manter a saúde das comunidades e os saberes sobre as espécies, promovendo também a noção de conservação e importância da vegetação para a região. “Compreender um pouco sobre esse conhecimento e essas práticas é também compreender sobre a conservação das áreas, já que eles são especialistas de chave para conservação”, pontuou Thauana.
Além de divulgar esse conhecimento, registrar essas práticas no Maranhão e retribuir aos quilombos estudados, o livro documenta as espécies da flora de Anajatuba. As plantas foram coletadas ao redor e nos quintais das casas dos benzedores durante entrevistas, com seus nomes populares, científicos e principais usos indicados.
Para Inácio Araújo, co-orientador do trabalho de monografia de Thauana e que, no livro, colaborou com o aspecto histórico das comunidades tradicionais e das práticas culturais, o lançamento desse livro revela a importância de conhecer a cultura e práticas das comunidades tradicionais. “[o livro] representa um sentido de valorização da importância dessas comunidades tradicionais para o nosso presente. Em geral, elas são muito retratadas relacionadas ao passado, como se fossem algo do passado, mas cada vez mais a gente percebe que se a gente tiver um futuro, esse futuro vai ter que ser parecido com as práticas dessas comunidades tradicionais indígenas, quilombolas, que elas têm muito a nos ensinar hoje no presente”.
Especialista em Botânica e orientador de Thauana, Eduardo Bezerra chama atenção para o números de homens que realizam a prática do benzimento: na comunidade de Anajatuba eles são a maioria. E lamenta que a prática está “desaparecendo” com o tempo. “Infelizmente, está se perdendo porque os jovens não querem dar continuidade por causa do preconceito, ainda por causa da falta de informação, para as pessoas entenderem e respeitarem a cultura. O que era geralmente passado de pai para filho para neto, eles estão passando para um sobrinho, para um vizinho que é muito próximo porque os filhos e netos não estão querendo dar continuidade. É preocupante quando a gente pensa na nossa cultura”, expressou o professor.
“Os Benzedores de Anajatuba” é assinado pela mestranda Thauana Oliveira Rabelo, vinculada ao PPGBC da UFMA; Eduardo Bezerra de Almeida Junior, especialista em Botânica, com foco em estudos taxonômicos, fitossociológicos, florísticos e etnobotânicos, coordenador do Laboratório de Estudos Botânicos e Diretor de Pesquisa e Inovação Tecnológica na Ageufma, e Raimundo Inácio Sousa Araújo, historiador e antropólogo com experiência em história, religião e cultura material no Maranhão, professor do Colégio Universitário da UFMA (Colun) e membro do Grupo de Pesquisa MINA, que estuda religiões e cultura popular.
Durante o lançamento do livro, fotos dos benzedores estiveram em exposição e foi exibido o teaser do documentário que está sendo produzido sobre o processo de pesquisa acerca dos benzedores de Anajatuba.
Os livros podem ser adquirido com os próprios autores e no site da livraria Amei.
Por: Ingrid Trindade
Fotos: Ingrid Trindade