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Discentes do curso de Comunicação Social da UFMA produzem reportagem sobre os alarmantes níveis de poluição do ar em São Luís

publicado: 02/04/2025 15h09, última modificação: 02/04/2025 22h38
Discentes do curso de Comunicação Social da UFMA produzem reportagem sobre os alarmantes níveis de poluição do ar em São Luís

O jornalismo desempenha um papel fundamental na sociedade, sendo uma de suas principais funções dar voz, representatividade e visibilidade às demandas das comunidades. Movidas pelo compromisso social e motivadas a fomentar o debate sobre a qualidade do ar em São Luís, Maranhão, discentes e docente do curso de Comunicação Social da UFMA, Câmpus Bacanga, produziram uma reportagem que alerta para os alarmantes níveis de poluição atmosférica na zona rural do município.

A matéria, escrita pelas alunas Sylmara Durans e Ana Leticia Ferro, foi desenvolvida no Laboratório Experimental de Jornalismo (Laborejo), no qual é coordenado pela professora Gislene Carvalho, e publicada no site da Agência Pública.

O material aponta números alarmantes e consequências provocadas pela poluição. De acordo com a reportagem, no ano de 2023, os dados da qualidade do ar ficaram 903 vezes acima dos índices de emergência por emissão de dióxido de enxofre e/ou ozônio. Com base nas pesquisas e nas fontes entrevistadas para a matéria, as autoras alertam quanto aos perigos dessa poluição, como asma e câncer de pulmão. Foi identificado também que novos projetos com produção de gás natural pode prejudicar consideravelmente o meio ambiente na região.

A discente de comunicação Social – Rádio e TV e uma das autoras da reportagem, Sylmara Durans, pontua que a iniciativa surgiu da necessidade de sistematizar e tornar compreensíveis os dados sobre a qualidade do ar em São Luís. "A questão da qualidade do ar já vem sendo reportada há algum tempo por veículos locais, mas a gente percebia uma lacuna no sentido de aprofundar e sistematizar efetivamente essas informações, de forma que esse debate pudesse ser compreendido com mais clareza. Isso porque estamos lidando com um tema que envolve muitos dados, como a qualidade do ar. Estamos falando de indicadores, de problemas como: quando estamos em nível de emergência, quantos níveis de dióxido de enxofre podemos ou não ultrapassar, qual é a quantidade adequada de estações de monitoramento. Existe uma cortina de fumaça em torno da qualidade do ar, justamente essa quantidade de dados que precisamos processar para compreender efetivamente onde estamos aqui na cidade de São Luís”, explana. 

A reportagem teve um processo de produção que durou aproximadamente quatro meses, envolvendo a coleta de dados, entrevistas com especialistas, produção e revisão do texto, além da publicação. Como resultado, a matéria impulsionou novas medidas. Segundo as autoras, após sua divulgação, foram convocadas audiências, apresentadas propostas de leis e ampliada a disseminação de informações na mídia comercial.

“O jornalismo tem essa potencialidade de intervir na sociedade diretamente, uma vez que consegue organizar os problemas e exigir dos responsáveis medidas cabíveis. E a gente vê isso acontecendo depois da publicação da reportagem. Nós pautamos a mídia local, porque, depois da nossa reportagem, os veículos reforçaram e fizeram um trabalho em cima do que a gente já tinha feito. Desse modo, novas reportagens sobre a qualidade do ar foram feitas. Tivemos representantes do legislativo pautando a temática na Assembleia Legislativa, convocações de audiências, entre outras ações. A gente vê que a nossa reportagem teve uma contribuição muito significativa no sentido de pautar o debate em nível local”, destaca Sylmara. 

Para a professora e coordenadora do Laborejo, Gislene Carvalho, esse produto, fruto do laboratório de extensão, emerge do impacto em torno da temática ambiental. “Surge porque, primeiro, é um tema de extrema relevância para a sociedade de um modo geral, sobretudo, para São Luís, pois estamos vivenciando um problema climático, ambiental, em relação à qualidade do ar”.

De acordo com Gislene, a extensão universitária é fundamental para que reportagens como essas sejam produzidas e contribuam para a desmistificação de temas no âmbito social. A professora destaca que, por meio do tripé ensino, pesquisa e extensão, a Universidade tem a possibilidade de formar profissionais capazes de transformar a realidade e o mundo em que vivem. Nesse contexto, ela ressalta que o Laborejo surgiu da necessidade de oferecer práticas laboratoriais ao curso de Jornalismo, promovendo a experimentação, a pluralidade de vozes e espaços para as demandas sociais. 

“O projeto vem de uma demanda do curso de jornalismo e do curso de comunicação como um todo, de práticas laboratoriais. Os alunos fazem as disciplinas, estudam, aprendem conceitualmente, fazem os trabalhos das disciplinas, que são muito importantes também, mas chega um momento em que a vivência prática faz falta na formação. Diante dessa demanda, começamos a pensar nessa estrutura de um projeto de extensão, de um laboratório em que a gente pudesse experimentar coisas que, tradicionalmente, nas atividades jornalísticas mais conservadoras, a gente não poderia fazer. Então começamos a investir mais em pautas com temas mais políticos, trazendo fontes que muitas vezes não são ouvidas nos veículos comerciais, tentando pensar nessas outras vozes a partir desse movimento de experimentação. A ideia do Laboratório Experimental de Jornalismo é fazer esse movimento de transformação”, salienta.

Produções com a Agência Pública

A Agência Pública é a primeira agência de jornalismo investigativo sem fins lucrativos do Brasil. Fundada em 2011, baseia todas as suas reportagens em uma apuração rigorosa dos fatos, tendo por princípio fundamental a defesa intransigente dos direitos humanos e conta com a colaboração de profissionais da área da comunicação.

O Laborejo já havia produzido, anteriormente, um material sobre o clima, que tinha por objetivo medir o compromisso dos candidatos à Prefeitura de capitais brasileiras com o enfrentamento das mudanças climáticas. A pesquisa integra o projeto Climômetro, realizado em parceria com a Agência Pública, a Universidade Anhembi Morumbi e outras instituições federais. Em São Luís, o estudo foi coordenado pela professora Gisa Carvalho, que liderou a equipe responsável por mapear como a pauta climática foi abordada nas campanhas eleitorais da capital maranhense e também da cidade de Fortaleza.

“Nas eleições de 2024, nós fomos acionadas pela agência pública para trabalhar no climômetro, que seria uma investigação sobre como os candidatos e candidatas às prefeituras das capitais se posicionavam diante da temática do meio ambiente. A partir disso, entramos mais diretamente na temática do clima, e aí depois veio o desdobramento com a nossa primeira grande reportagem, que é o nosso projeto piloto”, explica a coordenadora do Laborejo, Gisa Carvalho.

Por meio dessas parcerias, o jornalismo fortalece seu papel essencial de estimular debates sobre temas que impactam a sociedade. Isso se torna ainda mais relevante quando se trata de questões locais, visto que essas pautas têm o potencial de promover engajamento e estimular discussões sobre as demandas da comunidade.

Por: Sarah Dantas

Imagens: Agência Pública

Revisão: Jáder Cavalcante

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