Discente quilombola da UFMA defende TCC na cidade de Brejo, no Maranhão

A discente do curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Keliene do Nascimento concluiu o curso de Turismo com a defesa do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) intitulado “Imersão Cultural Para o Turismo de Base Comunitária no Quilombo Saco das Almas, Brejo”. Natural do município de Brejo, no Maranhão, a estudante é membra da comunidade quilombola Saco das Almas e defendeu sua monografia na comunidade, onde os avaliadores e a orientadora foram recebidos para a avaliação e arguição.

Aprovada com nota máxima, a pesquisa de Keliene foi elaborada com o objetivo de promover, valorizar e preservar a cultura quilombola, desenvolvendo o turismo de base comunitária na região. A discente explicou que o trabalho visa ao turismo sustentável em sua comunidade e reforçou o impacto da defesa para o município: “O turismo de base comunitária pode ser uma ferramenta para o desenvolvimento sustentável da região, gerando renda e emprego para as comunidades locais. A pesquisa pode ajudar a empoderar as comunidades quilombolas, dando-lhes voz e oportunidade de participar no desenvolvimento do turismo na região”.

Relatando os desafios que fizeram parte da pesquisa, Keliene ressaltou o aspecto financeiro como fator decisivo para permanecer na Universidade e destacou a importância de programas de ações afirmativas para a conclusão dessa etapa de sua trajetória acadêmica.

“Tive acesso a programas como o sistema de cotas para estudantes quilombolas, a Bolsa Permanência do Ministério da Educação, Aprimoramento Acadêmico e residência universitária. Esses programas tiveram um impacto significativo na minha entrada e permanência na Universidade, pois permitiram que eu me concentrasse nos estudos, sem a pressão financeira e ofereceram um ambiente de apoio e inclusão onde pude me sentir parte da comunidade universitária”, afirmou Keliene.

O impacto das políticas de ação afirmativa 

O pró-reitor de Assuntos Estudantis da UFMA, Danilo Lopes, destacou à relevância da criação de políticas públicas voltadas para estudantes quilombolas na Universidade.

“É essencial para garantir equidade no acesso e na permanência, não apenas em nossa instituição, mas em todas as instituições de ensino no Brasil. Diante das barreiras socioeconômicas e estruturais que muitas comunidades enfrentam, é fundamental oferecer cotas, auxílios financeiros, moradia, acesso à tecnologia e suporte acadêmico aos nossos estudantes. Além disso, a valorização dos saberes quilombolas dentro da UFMA é crucial para fortalecer sua identidade e protagonismo”, salientou o pró-reitor.

No ano de 2024, mais de 18 tipos de auxílio foram oferecidos, e discentes de 111 cursos fizeram solicitações. Também em 2024, foram 9.630 solicitações realizadas por 4.197 discentes, das quais foram deferidas 6.904 e contempladas mais de 2 mil de auxílio e bolsas, representando um percentual de 27,64% de discentes atendidos.

Visando promover a equidade social e étnico-racial, a PROAES, cujas ações atendem a toda a comunidade acadêmica com escuta, agendamento, encaminhamento e acompanhamento das demandas biopsicossociais dos discentes, gerencia o Programa Bolsa Permanência na Universidade, que oferece suporte financeiro para a permanência e conclusão dos cursos de graduação por parte dos estudantes indígenas, quilombolas e em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

“É importante que essas ações sejam construídas com a participação dos discentes, servidores e docentes da instituição, para garantir que as reais necessidades dos quilombolas sejam atendidas, promovendo mais justiça social, desenvolvimento e inclusão”, afirmou o pró-reitor.

As inscrições para o programa podem ser realizadas por meio do portal da PROAES durante todo o ano, permitindo a inclusão contínua dos discentes elegíveis ao auxílio.

Atualmente, existem mais de 120 alunos quilombolas matriculados e recebendo a bolsa, integrando a comunidade acadêmica e fortalecendo o cenário das pesquisas científicas, distribuídos nos câmpus de São Luís, Bacabal, Pinheiro, Chapadinha, São Bernardo e Codó.

Além da Bolsa Permanência, a Universidade oferta benefícios por meio dos Auxílios Alimentação, Moradia, Creche, Transporte, Emergencial, Participação em Eventos e Aprimoramento Acadêmico, com valores e durações que variam entre R$ 300,00 (trezentos reais) e R$ 600,00 (seiscentos reais) e de doze meses à totalidade da graduação.

A amplitude das políticas de ação afirmativa na UFMA se estende também às ações da Diretoria de Diversidade, Inclusão e Ação Afirmativa (DIDAAF) da Universidade, que elabora e executa mapeamentos, relatórios, pesquisas e ações para reunir dados que embasem políticas institucionais adequadas às necessidades dos discentes.

Reforçando o compromisso da Universidade com a promoção da equidade no acesso e na permanência no ensino superior, a UFMA também tem firmado, desde 2023, parceria com o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) na construção de protocolos de consulta e planos de proteção territorial em comunidades quilombolas no Maranhão.

Por meio do chamado Protocolo Quilombo, a Universidade desenvolve ações coletivas, incluindo docentes, discentes e pesquisadores dedicados à formulação dos planos e expandindo o alcance do ensino, da extensão e do diálogo aos quilombos e às lideranças de movimentos quilombolas no estado.

Por: Lucas Cássio Ferreira

Revisão: Jáder Cavalcante