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Diretora da TV UFMA, Cecília Leite, faz balanço de sua gestão e fala sobre ida ao pós-doutorado na França

publicado: 05/07/2022 12h09, última modificação: 06/07/2022 19h16

A professora Cecília Leite, diretora da TV UFMA e docente do Departamento de Comunicação Social da Cidade Universitária Dom Delgado, com vasta experiência profissional, além de ser pesquisadora, em agosto, partirá para mais um desafio: a realização do seu pós-doutorado na França. Para falar sobre sua gestão à frente da TV UFMA e os desafios para a viagem, a docente concedeu entrevista para a Diretoria de Comunicação (Dcom) da Superintendência de Comunicação e Eventos (SCE).

DCom: Nessa primeira administração à frente da TV UFMA, como você descreveria sua experiência e qual você considera ser sua maior conquista no cargo?

Cecília Leite - Dirigir a TV UFMA tem sido uma vivência extremamente enriquecedora em termos profissionais. São muitos os desafios diários, próprios das televisões públicas educativas sem possibilidade de autofinanciamento, mas tenho me empenhado seriamente em fazer da TV UFMA uma referência nacional entre as TVs universitárias. Já temos recebido o reconhecimento da Associação Brasileira das Televisões Universitárias - ABTU - como sendo a televisão que mais produziu conteúdo durante a pandemia.

Ao longo desses dois anos e meio de gestão, trabalhamos tanto que fica até difícil dizer qual a conquista mais importante. Empreendemos uma ampla reestruturação na organização interna da emissora, com vistas ao melhor planejamento, produção e lançamento da sua programação, que hoje alcança o patamar de cinco horas diárias de conteúdo local, tendo como destaques a criação do JTV-UFMA, o primeiro telejornal com transmissão ao vivo na história da emissora, e o prestigioso programa de entrevistas Sem Filtro, além de 12 novas produções locais, entre programas novos e temporadas inéditas de produções já existentes. Foram adquiridos novos equipamentos, modernizando o nosso parque tecnológico. Investimos na criação de campanhas educativas, na prestação de serviço, no jornalismo e também na divulgação do canal. Criamos o Núcleo de Mídias, que ampliou o alcance e a visibilidade da emissora, melhorando a interação com os telespectadores.

Ainda com vista à expansão do alcance da TV UFMA, estabelecemos convênio com a empresa NET-Claro, o que ampliou a audiência da emissora da Universidade para um público de mais de 120 mil assinantes do serviço a cabo. No intuito de investir em qualidade e melhorar ainda mais a experiência dos nossos telespectadores, estabelecemos convênios e parcerias com outras televisões educativas para intercâmbio de programação e, principalmente, firmamos contrato com o Sesc TV, de São Paulo, passando a retransmitir o conteúdo desse prestigioso canal, fortalecendo ainda mais a TV UFMA como instrumento de educação, cultura, cidadania e transformação social.

DCom: Na sua visão, quais os benefícios que a sua experiência na França trará para a Universidade, principalmente, para a TV UFMA?

CL - No cenário atual de protagonismo das mídias, o aprofundamento das pesquisas na área de novas tecnologias da informação e comunicação vai gerar benefícios diretos para o curso de Comunicação Social, tanto no tocante ao aperfeiçoamento seu quadro docente, quanto no aprofundamento e na ampliação de suas linhas pesquisa, com reflexos diretos na formação dos alunos. Além disso, a pesquisa a ser desenvolvida no meu pós-doutorado poderá contribuir para o desenvolvimento de produtos audiovisuais e experimentação de novos formatos televisivos que poderão ser de grande serventia à TV UFMA e ao seu público, que abrange professores, técnicos, discentes e à Universidade de modo geral. A realização do pós-doutorado no exterior também poderá resultar em colaborações e acordos bilaterais entre instituições, grupos de pesquisa e agências de fomento e financiamento para a ciência e tecnologia, podendo trazer importantes contribuições científicas e acadêmicas para a Universidade Federal do Maranhão. A modalidade presencial vai facilitar também a realização de networking com outros pesquisadores da área, contribuindo para ampliar a participação dos pesquisadores maranhenses no mainstream científico, ampliando, com isso, nossa inserção na comunidade científica internacional.

DCom: Você pode falar um pouco sobre sua tese de doutorado? Qual o tema e a linha de pesquisa escolhidos?

CL - Minha tese investiga o papel que a televisão desempenha no processo de constituição dos sujeitos da contemporaneidade, focando os mecanismos e dispositivos utilizados pelas tecnologias de informação e comunicação para propor modos de ser, agir e estar na cultura atual. Para isso, tomei como objeto de análise os reality shows de intervenção corporal que fazem da reformatação corporal e da valorização excessiva do corpo artificializado um show para a audiência.

O que se verifica é que essa superexploração da experiência corporal vem sendo acompanhada de efeitos físicos, mentais e socioculturais danosos: as bulimias, as anorexias, as compulsões por próteses ou cirurgias plásticas são sérias implicações da tentativa frustrada de tomar posse desse corpo propalado pela mídia. E é esse o meu maior interesse: investigar como os produtos oferecidos pelas tecnologias de informação e comunicação geram impactos na constituição do sujeito.

Na tese, tomei por base tanto as análises de Foucault, como a psicanálise, que nos fornece um amplo material para o estudo dos impactos dos elementos socioculturais nas subjetividades. Então, no pós-doutorado, pretendo ampliar essa investigação, focalizando agora as novas telas e as novas tecnologias e seus impactos nos modos de ser e de estar do sujeito na contemporaneidade.

DCom: Como surgiu a oportunidade de fazer o pós-doutorado na França?

CL - Tenho muita ligação com a França, pois já passei um tempo em Paris estudando francês e costumo viajar bastante para lá. Até já fui apresentadora de um programa de TV francês, o reality show Les Marseillais, um dos líderes de audiência na França, tendo gravado 50 episódios da temporada do programa no Brasil, no Rio, em 2014. Foi uma experiência superinteressante e me abriu algumas portas para conhecer pessoas da área de comunicação. Fiz alguns contatos e acabei plantando as sementes para um possível pós-doutorado.

Com muita coisa para realizar por aqui, fui postergando o projeto, mas agora surgiu essa oportunidade única, pois o convite do professor doutor Jean-Michel Vivès, da Universidade Cote d’Azur, em Nice, vai me permitir o contato com grandes pesquisadores e estar no centro das discussões sobre os impactos das novas telas e novas tecnologias na constituição do sujeito contemporâneo, sob o viés da psicanálise.

Além de poder participar do grupo de pesquisa sobre comunicação e psicanálise, serei a pesquisadora escolhida para falar sobre televisão brasileira e experiência de TV universitária, e apresentarei e discutirei aspectos da minha tese de doutorado. Terei também a oportunidade de dar aulas, palestras e participar de seminários sobre temas relativos aos impactos das tecnologias de informação e comunicação no sujeito contemporâneo.

DCom: Como estão os preparativos para a viagem? Como se sente?

CL - Sinto-me grata e bastante entusiasmada com esse novo desafio. Fazer o pós-doutorado no exterior é um privilégio para qualquer pesquisador, pois é chegar ao topo da formação acadêmica, podendo trocar experiências com profissionais internacionais e adquirir novos olhares sobre o mundo, tendo a oportunidade de aprofundar pesquisas no campo de conhecimento do seu interesse. É, sem dúvida, uma grande oportunidade que pretendo agarrar com “unhas e dentes” e tirar o melhor dessa nova experiência.

DCom: Como a você analisa a sua trajetória acadêmica e profissional e esse novo desafio?

CL - A minha trajetória profissional sempre foi marcada por muito trabalho, muito empenho, muita dedicação e, acima de tudo, responsabilidade. Tenho muita energia, disposição e vontade de aprender, de ampliar meus horizontes e sempre procuro dar o meu melhor em tudo o que me proponho a fazer. Comecei a trabalhar aos 14 anos, dando aulas de inglês, aos 17 entrei para a televisão como apresentadora e aos 21 passei em primeiro lugar no concurso para professor do curso de Comunicação Social da UFMA.

Trabalhei em TV por quase 20 anos, cinco deles no maior veículo de comunicação do país, a TV Globo, no Rio de Janeiro, onde fui repórter, tanto da Globonews, quanto da Central Globo de Jornalismo. Tive também experiência internacional como repórter, na emissora WUFF-TV, na Flórida, nos Estados Unidos. Fiz mestrado e doutorado em Comunicação e Cultura na Universidade Federal do Rio de Janeiro e hoje estou à frente da TV UFMA, um grande desafio e, acima de tudo, uma oportunidade de oferecer a minha experiência para o fortalecimento da comunicação da nossa Universidade, contribuindo com a administração do professor Natalino Salgado, sem dúvida, uma grande liderança, um homem visionário e realizador, que sabe tanto cercar-se de pessoas competentes, como valorizar e incentivar os talentos do meio acadêmico.

DCom: Qual a previsão do seu retorno para a Universidade?

Retornarei à TV UFMA e às atividades como docente em abril de 2023.

Por: João Meireles

Produção: Bruna Castro

Revisão: Jáder Cavalcante

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